Do Editor:
Ainda dentro das ações do Jornal Folha Sertaneja nos seus 20 anos de existência, decidimos abrir espaço para artistas, escritores, que têm deixado sua marca na passagem por esta nossa Paulo Afonso, com atividades diversas, mas, tendo em comum entre eles, o cuidado pela preservação da cultura através das artes cênicas, da literatura e da contribuição com a pesquisa sobre a história, a geografia, a vida dessa rica região sertaneja.
Falaremos de pessoas e de artes. De gente e sua contribuição para com a cultura, a literatura. Certamente que muitos membros da ALPA - Academia de Letras de Paulo Afonso - estarão nesse espaço pela contribuição de homens e mulheres que nasceram em Paulo Afonso ou foram acolhidas por esta terra e que precisam ser melhor conhecidos e mais valorizados pelos livros que publicaram, pelos estudos científicos que desenvolveram e até pela participação em eventos em outros lugares, para onde levam a bandeira deste município, como seus representantes.
Naturalmente que cabe ao editor deste site e diretor do Jornal Folha Sertaneja administrar esses espaços, assim como a ordem de apresentação e os nomes que merecem, na sua visão, ocupar esse espaço.
E decidimos abrir essa coluna especial do Artes e Literatura - Em Destaque com a homenagem póstuma à dramaturga pauloafonsina DOLORES MOREIRA, membro da ALPA - Cadeira Nº 20 - que nos deixou em 8 de fevereiro de 2024.
Uma referência nas artes cênicas:
Maria Dolores Moreira - In Memoriam!
- Gente da ALPA -
No ano de 1975, ela era ainda uma garota de 14 anos, adolescente de sonhos muito altos na área das artes e, dentre estas, as artes cênicas, o teatro. E reuniu um grupo de amigos e nasceu aí o Grupo de Teatro Amador de Paulo Afonso, o GETAPA. À sua frente a jovem aguerrida, Dolores Moreira. Era apenas o começo de uma longa história.
Por esse tempo eu, funcionário da Chesf, havia sido indicado pelo Administrador Regional da Hidrelétrica em Paulo Afonso, Ricardo de Holanda Neves, para ser o gerente e Diretor Cultural do Clube Operário de Paulo Afonso – COPA e ali recebi Dolores Moreira e seu grupo abrindo espaço para apresentaram suas peças neste Clube Operário.
GETAPA - Grupo de Teatro Amador de Paulo Afonso, no COPA
Mas os olhos brilhantes de Dolores Moreira enxergavam muito mais longe. E decidiu levar a arte do teatro a sério com muita responsabilidade e, sobretudo buscar mais conhecimento, se preparar mais para levar ao público grandes espetáculos.
Com muito esforço e apoio da família, vai morar em Salvador e ali, entra no Curso de Teatro da Universidade Federal da Bahia – UFBA, onde tem a oportunidade de realizar diversos trabalhos. Tão dedicada era, quando ainda estudante que recebe o prêmio dos melhores do Teatro na categoria infantil e como revelação em Direção e Melhor Espetáculo. No ano seguinte, é indicada novamente na categoria adulto, para diversas premiações.
APDT – Associação Pauloafonsina de Dança e Teatro
Retornando a Paulo Afonso em 1992, funda a APDT – Associação Pauloafonsina de Dança e Teatro, cria a Escola de Artes César Rios que funcionou por um bom tempo no prédio que hoje sedia a Casa da Cultura de Paulo Afonso. Com esse grupo APDT realiza diversas montagens artísticas das áreas de Artes Cênicas e musical.
Mas ela queria ainda mais perfeição no seu preparo e retorna a Salvador onde conclui, no Instituto Anísio Teixeira, o Curso de Especialização em Teatro.
Em Paulo Afonso, o antigo hangar dos aviões da Chesf, na Avenida Apolônio Sales, se transforma no improvisado teatro de Paulo Afonso, o Centro de Cultura Lindinalva Cabral e ali, com toda a carência de recursos que o espaço não tinha como oferecer, ainda assim realiza grandes espetáculos, dentre eles os inesquecíveis Alpercatas de Couro Cru, O Nordeste é Lindo onde exalta os valores e a luta dos homens e mulheres nordestinas, sertanejas. Pela qualidade do seu trabalho, Dolores Moreira é convidada para produzir e dirigir vários espetáculos para a Chesf, apresentados no Memorial Chesf e na Ilha do Urubu em eventos especiais da Hidrelétrica do São Francisco.
Ao logo de sua vida, Dolores participou de vários festivais pelo Brasil e foi indicada ao Prêmio Braskem de Teatro Baiano com o espetáculo Enquanto os Dias São Mortos.
A sua contribuição para o município de Paulo Afonso foi além de sua atuação como produtora, diretora e também atriz em vários espetáculos.
Quando a Chesf construiu o Memorial Chesf de Paulo Afonso, cuja obra tive a oportunidade de coordenar como Assessor da Administração Regional de Paulo Afonso, na gestão da Engenheira Diana Suassuna e também coordenei as atividades do Memorial Chesf nos seus primeiros dois anos, Dolores Moreira foi quem deu todas as coordenadas para que o Auditório Graciliano Ramos desse Memorial tivesse a condição de multiuso: auditório, cinema e teatro, sendo a coxia e os camarins ali existentes resultado da orientação de Dolores Moreira.
Foi atuante Professora de Artes do Município de Paulo Afonso e, nesta condição, implementou o Programa de Combate à Violência Escolar. Foi palestrante sobre os temas Artes e Cultura.
No ano de 2022, no dia 27 de fevereiro, o Jornal Folha Sertaneja lhe fazia uma homenagem pelo seu trabalho mostrado na capa e nas páginas internas do Caderno Cultural Domingo.
Nesse mesmo ano de 2022, com o falecimento de Jânio Soares, (falecido em 13 de dezembro de 2021) indiquei o nome de Dolores Moreira para ocupar a Cadeira Nº 20 como Membro Efetivo da Academia de Letras de Paulo Afonso, nome aprovado pela unanimidade dos membros da ALPA.
No dia de sua posse, 2 de setembro de 2022, ela, já em tratamento quimioterápico, não pode comparecer a esta solenidade e foi representada brilhantemente pela filha Alexandra, outro grande nome da cultura pauloafonsina. Nessa solenidade realizada na Câmara Municipal de Paulo Afonso foi feita uma apresentação cênica sobre Abel Barbosa, com Alexandra e Erik Bezerra do Grupo de Teatro Roda da Baraúna, também organizado por Dolores Moreira.
No dia 8 de fevereiro, a Academia de Letras de Paulo Afonso e a sociedade de Paulo Afonso recebem o impacto da notícia do falecimento de Maria Dolores Moreira pauloafonsina que nasceu em 14 de junho de 1961, filha do pioneiro chesfiano Joaquim Alexandre Silva e de Maria Moreira Silva, de quem sempre muito se orgulhava e dizia em suas palestras. “Sempre tive orgulho de ser filha do “cassaco”, seu Joaquim Alexandre.”
Morreu muito jovem ainda a nossa dramaturga pauloafonsina Maria Dolores Moreira. Aos 62 anos. Dia 14 de junho, em que se realiza a Festa de São Antônio nos festejos juninos, estivesse ela ainda entre nós, fisicamente, estaria animada, vestida com as cores dessas festas nordestinas, comemorando 63 anos...
Os membros da ALPA e os que vivenciam as artes cênicas, hão de sempre lembrar das marcas boas que a passagem de Dolores Moreira deixou por estas terras sertanejas de Paulo Afonso - Bahia.
Como a homenageou a Rádio Cultura de Paulo Afonso, no dia de sua partida, de fato, “As cortinas se fecham aqui, mas continuaremos te aplaudindo de pé.”
Dolores Moreira é o nosso primeiro Artes e Literatura - Em Destaque.
In Memoriam!
Professor Antônio Galdino da Silva
Site www.folhasertaneja.com.br
Jornal Folha Sertaneja – 20 anos
Dolores também esteve presente na minha vida e foi extremamente importante na fundação de nosso grupo de teatro em 2001 - Os Pirilampus (Jatobá). Sua competência, disciplina, alegria, coragem, confiança e riso tranquilo iluminaram tantos de nossos dias...Gratidão!
Mestre Galdino, maravilhosa iniciativa. Quanto a Dolores, ah! Deixa saudades, porém, não sozinhos, sua lembrança e sua luta nos alimenta na busca de ver seu sonho um dia se tornar realidade.
Essa estrela está brilhando em outros palcos LUMINOSOS!GRATIDÃO SEMPRE.
Linda e justa homenagem, mestre Galdino, parabéns. Abraços apertados!
Muitas saudades, minha grande mestra e amiga. Te amo 💓
Saudade eterna.