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ACEITAR ELOGIOS OU INSULTOS? LIÇÃO QUE APRENDI COM CORA CORALINA

10 de abril - 40 anos sem Cora Coralina

Publicada em 10/04/25 às 22:23h - 117 visualizações

Francisco Neto Pereira Pinto


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 (Foto: imagem ilustrativa)

ACEITAR ELOGIOS OU INSULTOS?

LIÇÃO QUE APRENDI COM CORA CORALINA

Francisco Neto Pereira Pinto

Cora Coralina, pseudônimo de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, nasceu em 20 de agosto de 1889, na cidade de Goiás, e faleceu, há 40 anos, em 10 de abril de 1985, em Goiânia. Sua poesia, marcada pela simplicidade e profundidade, continua a encantar leitores eruditos e leigos de todos os lugares.

Sigmund Freud dizia que os poetas elaboram conhecimento sobre o ser humano antes mesmo dos psicanalistas, e Jacques Lacan reforçava que os poetas sempre vão à frente, sabendo primeiro, mesmo sem o saber. Cora Coralina é um exemplo dessa sabedoria universal e intuitiva. Sua obra fala da vida vivida, com uma linguagem artística refinada, mas acessível até para os leitores menos especializados.

Um poema que particularmente me encanta é Nasci antes do tempo, composto por quatro estrofes que revelam uma sabedoria profunda sobre a vida e as relações humanas.

Tudo que criei e defendi
nunca deu certo.
Nem foi aceito.
E eu perguntava a mim mesma
Por quê?

Quando menina,
ouvia dizer sem entender
quando coisa boa ou ruim
acontecia a alguém:
Fulano nasceu antes do tempo.
Guardei

Tudo que criei, imaginei e defendi
nunca foi feito.
E eu dizia como ouvia
a moda de consolo:
Nasci antes do tempo.

Alguém me retrucou.
Você nasceria sempre
antes do seu tempo.
Não entendi e disse Amém.

Nos dois primeiros versos, o eu lírico expressa que seus projetos e planos nunca deram certo, o que poderia sugerir um lamento ou destino trágico. Contudo, na terceira estrofe, o poema sinaliza uma interpretação positiva do ditado popular "nasci antes do tempo", como uma forma de consolo que dá força para continuar.

Na última estrofe, o poema revela que alguém lançou um insulto ao eu lírico, dizendo que ela sempre nasceria antes do tempo. O desfecho, porém, é surpreendente e belíssimo: ao invés de aceitar o insulto e cultivar um sentimento de sofrimento, o eu lírico escolhe dizer Amém. Essa escolha reflete uma sabedoria ao mesmo tempo poética e prática, muito útil do ponto de vista da saúde mental, ensinando-nos a não dar espaço para as interpretações ruins que os outros nos oferecem.

Como explica o psicanalista Jorge Forbes, quando recebemos um elogio, tendemos a nos defender modestamente, até mesmo dizendo: não é bem isso, é gentileza sua! Porém, quando recebemos um insulto, aceitamos prontamente, identificando-nos com a visão negativa que nos é oferecida. A palavra ruim gruda na gente, como se fosse carrapicho! Cora Coralina, com sua poesia, nos ensina a tratar a nós mesmos com mais gentileza e amor e a dizer Amém às coisas boas, e não às ruins, que a vida nos oferece.

Será que poderíamos aprender a ser mais amáveis conosco mesmos? Talvez a resposta esteja na simplicidade poética de Cora Coralina: dizer Amém às coisas boas e seguir em frente, sem o peso do excesso de negativismo, muitas vezes vindo dos outros.


Francisco Neto Pereira Pinto é Psicanalista, Professor Universitário e Escritor. Autor do livro À beira do Araguaia. Instagram do autor




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1 comentário


Socorro Mendonça

11/04/2025 - 12:59:18

Que bela interpretação! As coisas ruins..por si destrói-se.Que possamos ser beme luz por onde passarmos. Cora Coralina não passou por aqui como um " cometa..." marcou .sim eternidade nas suas obras . Excelente matéria divulgando a arte poética da nossa imortal Cora Coralina


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