O Bairro Tancredo Neves completa nesse dia 10 de maio, 51 anos de sua criação.
Ele nasceu com o nome de Mulungu, há mais de cinco décadas atrás. Ainda hoje há quem faça algums perguntas sobre ele, tais como
1 - Porque esse hoje populoso bairro nasceu com o nome de Mulungu?
2 – Qual o motivo que levou à criação deste Bairro?
3 – Ele se chamava Mulungu. Porque hoje se chama Bairro Tancredo Neves?
Vamos às respostas. O nome Mulungu vem de uma planta medicinal que era muito comum na região onde hoje está este grande bairro Tancredo Neves.
Erythrina mulungu
“O mulungu, também conhecido popularmente como mulungu-ceral, árvore-de-coral, capa-homem, canivete, bico-de-papagaio ou corticeira, é uma planta medicinal muito comum no brasil que é usada para trazer tranquilidade, sendo muito usada para tratar quadros de insônia, assim como alterações do sistema nervoso, especialmente ansiedade, agitação e convulsões.
O nome científico desta planta é Erythrina mulungu e pode ser encontrada em lojas de produtos naturais sob a forma de planta ou tintura”. (www.tuasaude.com)
A razão da existência do Bairro Tancredo Neves, criado como Bairro Mulungu em 1970 está esclarecida nessa história que segue. E porque ele hoje tem o nome de Bairro Tancredo Neves, você vai saber logo adiante, nesse texto.
Porque foi criado o Bairro Mulungu?
Recordo-me que participei de um evento muito marcante e até inusitado que antecedeu o nascimento do Bairro Mulungu, hoje Tancredo Neves, por força de uma Lei Municipal do Prefeito José Ivaldo de Brito Ferreira.
Médico pediatra Dr. Edison Teixeira Barbosa - Prefeito de Paulo Afonso - 01/02/1967 a 14/05/1974
Não me recordo a data exata mas certamente aconteceu no final de 1969 ou bem no início de 1970 quando eu era correspondente do Jornal da Bahia, de Salvador e recebi um convite do Prefeito Edison Teixeira para ir, como representante da imprensa escrita, a uma reunião que seria realizada na residência do então diretor técnico da Chesf, Dr. Amaury Menezes que morava na Ilha do Urubu.
Para se chegar até à sua residência, na época, só era possível pelo bondinho que passava sobre as quedas do Croatá e ia até a Ilha do Urubu. As pontes de acesso a Ilha do Urubu ainda estavam sendo construídas. Nesse tempo, e durante dezenas de anos ainda, as cachoeiras estavam em plena carga.
Ao chegar ao local do bondinho para nele embarcar para essa reunião histórica e sobre a qual nada se sabia, foi que fomos informados que participaríamos de um jantar especial, a convite do Diretor Técnico da Chesf, o Engenheiro Amaury Meneses e, desse jantar, estariam participando o prefeito municipal de Paulo Afonso, o presidente e todos os vereadores da Câmara Municipal de Paulo Afonso. Ao todo, embarcamos bondinho, cerca de 14 a 15 pessoas, dentro da capacidade normal do equipamento, conforme nos informaram.
Antigo bondinho de madeira sobre as Quedas do Crotá, ia até a Ilha do Urubu
Ligaram o bondinho e ele começou a se movimentar com destino à Ilha do Urubu. De repente, no meio do caminho, muitas conversas animadas, um estalo seco e um solavanco assustou a todos. Depois de uns balanços, o bondinho parou. À distância se via, entre as brunas, o nevoeiro formado pelo impacto das águas das cachoeiras nas pedras, uma movimentação de pessoas, agitadas. E nós, no bondinho, sem nenhuma comunicação. Ainda não existia o telefone celular. Entre os passageiros do bondinho, via-se claramente um esforço grande para se evitar o pânico.
Cerca de 8 horas da noite e presos em um teleférico em cima das muitas águas das quedas do Croatá estavam o prefeito, Edison Teixeira Barbosa, todos os vereadores e o único representante da imprensa escrita da cidade, sem nenhuma comunicação com o continente em volta.
Depois de cerca de uma hora nesse clima, com vereadores já falando que íamos morrer ao lado do Prefeito e outras asneiras, um novo solavanco e sentimos que bondinho começava a se mexer e a seguir para o lado da Ilha do Urubu...
Uffa... Conseguiu chegar bem perto do lugar totalmente seguro para o desembarque. Com todo o esforço que fizeram – e disso tudo só soubemos depois, claro, que o cabo que puxa o bondinho havia se rompido – não tinha como o bondinho encostar no local de desembarque, ficava faltando quase um metro, por aí, mas não era um vazio, já havia uma superfície em volta e a solução foi cada um saltar do bondinho para esse local. E assim foi feito. Que alívio... E o diretor Dr. Amaury e alguns assessores ali, nos apoiando a cada pulo...
O motivo dessa reunião que, por pouco não terminou em tragédia, era justamente para que o diretor da Chesf apresentasse ao prefeito, aos vereadores e à imprensa, o projeto de construção do Canal da Usina PA-4, que levou ao deslocamento de famílias que moravam no local por onde ele passaria para o local onde seria o Bairro Mulungu.
Primeiros casebres do Bairro Mulungu (Acervo de João de Sousa Lima)
O sofrido começo
A mudança dessas primeiras famílias começou de forma muito agressiva, com as suas casas sendo derrubadas por tratores da Chesf até que o então Padre Manoel Alcides Modesto Coelho tomou à frente, comunicou a situação ao então Padre Mário Zanetta e ao Padre Lourenço Tori, inclusive justificando com isso a sua ausência na missa da Catedral, naquela noite.
A partir da direita: Pe. Mário Zanetta, Bispo Dom Jackson Berenguer Prado, Padre Alcides Modesto Coelho, Padre Mário Lourenço Tori e o futuro Padre Pedro (Acervo de João de Sousa Lima)
Por uma dessas providências de Deus, o Dr. Apolônio Sales, que era o presidente da Chesf e católico praticante assistia a essa missa e foi informado pelo Padre Mário Zanetta dessa arbitrariedade e determinou a imediata suspensão desse trabalho dos homens e tratores da Chesf, como narra o historiador João de Sousa Lima em seu livro Paulo Afonso e a Vila Poty – a História não contada (págs. 53 a 60).
Prof. João Cezar, atletas do Colégio Estadual do Mulungu, Banda Abel Barbosa e o ex-prefeito Abel Barbosa
De Abel Barbosa, de saudosa memória, ouvi muitas histórias do Bairro Mulungu. Uma delas, foi a luta para a criação do Colégio Estadual do Mulungu (CEM), que também me foi contada pelo Professor João Cezar Lopes Mascarenhas que foi o seu primeiro diretor. Foi dele também a iniciativa de dar a esse colégio o nome de Quitéria Maria de Jesus, nome da mãe de Abel Barbosa, mesmo contra a vontade de Abel Barbosa, conforme narro no livro ABEL BARBOSA – O inventor de Paulo Afonso, de Antônio Galdino da Silva, págs.219 a 222).
Bala do BTN e o Palmeiras do Mulungu(BTN)
O Bairro Mulungu dos anos de 1970 ao Bairro Tancredo Neves de hoje, tem muitas histórias para contar. De Abel Barbosa e do Antônio Galdino de Souza, o Bala do Palmeiras, um lutador pelo esporte no bairro, também como forma de ajudar os adolescentes a não se perderem.
D. Josefa Olívio
Mulungu da minha tia por afinidade Josefa Olívio, filha de D. Maria Pinto, parteira experiente da minha Zabelê, que foi a parteira quando eu nasci e foi assim com milhares de mulheres naqueles idos dos anos de 1940.
Mulungu do vereador Antônio Calado, eleito em 1982 e de todos pioneiros e de saudosa memória. Dos vereadores de hoje desses muitos bairros BTN e seus vizinhos, Bairro dos Rodoviários, Santa Inêz, Benone, PA-4 e tantos outros que refletem o enorme crescimento do embrião chamado Bairro do Mulungu e hoje, juntos, formam uma comunidade gigantesca e importante.
D. Rita Fagundes
Mulungu dessas mulheres pioneiras e sempre guerreiras como D. Rita Fagundes, mãe do Padre Luiz Tibúrcio. Essa mulher pioneira completou 95 anos no dia 3 de maio e continua intensa na defesa dos valores da família, e se derramando em amores por esse bairro agora cinquentenário.
Mulungu de D. Noêmia, que continua com suas ações sociais que viveram e conhecem as primeiras histórias desse grande bairro, maior que muitas cidades de região, e ainda hoje estão em evidência fazendo o bem, ajudando os mais humildes do Bairro. De muitos outros pioneiros e seus descendentes e dos novos, vereadores, empresários, trabalhadores que transformaram o Mulungu numa importante comunidade do município de Paulo Afonso com o poder de mudar a história de uma eleição municipal.
São tantas histórias, de luta de sofrimento, de busca de melhorias das condições de vida de dezenas de milhares de moradores que, certamente, ganharão páginas e páginas de livros.
Parabéns ao hoje Bairro Tancredo Neves pela sua rica história, neste aniversário de 50 anos, impossibilitado de ser comemorado como merecido por conta da necessidade de isolamento social imposto pelos males do coronavírus-19.
Passado esse tempo ruim, que tudo passa sobre a terra, certamente, dias melhores virão!
A homenagem de quem chegou a estas terras sertanejas em 20 de Novembro de 1954, do nosso site, do jornal Folha Sertaneja, a cada um dos seus moradores, grandes contribuidores para o progresso do município de Paulo Afonso-Bahia.
De Bairro Mulungu a Bairro Tancredo Neves
No início pequeno e, de certa forma distante do centro comercial e histórico de Paulo Afonso de que estava separado pelo Canal e pelo grande lago da Usina Paulo Afonso 4 que se formou no lugar onde estavam as casas desses pioneiros moradores do Bairro Mulungu, aos poucos o bairro cresceu e cresceu tanto que até já se levantou a hipótese dele se tornar uma cidade independente.
Lei 401/1986 que mudou o nome Mulungu para Bairro Presidente Tancredo Neves
José Ivaldo de Brito Ferreira criou a Lei 401/1986 que mudou o nome Mulungu
para Bairro Presidente Tancredo Neves
Ele nasceu como Bairro Mulungu e manteve esse nome em todos os documentos do município por 16 anos, até o dia 3 de março de 1986, depois que o prefeito José Ivaldo de Brito Ferreira fez uma consulta pública e foi aprovada a mudança do seu nome para Bairro Tancredo Neves, como uma homenagem que a gestão municipal fazia ao ex-presidente Tancredo Neves que havia falecido pouco menos de um ano antes, em 21 de abril de 1985.
Embora, pela Lei 401, de 03 de Março de 1986 ele passou a se chamar Bairro Presidente Tancredo Neves. Mas o povo foi reduzindo o nome. Hoje é apenas Bairro Tancredo Neves (esqueceram o Presidente) ou simplesmente BTN, seguido dos números 1, 2 ou 3 que são os desdobramentos do seu crescimento...
O Bairro Tancredo Neves tem hoje um grande comércio e uma estrutura de educação maior que de alguns municípios vizinhos. Além de muitas escolas para crianças existem várias grandes escolas da rede municipal e dois grandes colégios mantidos pelo Estado da Bahia, um deles oferecendo cursos técnicos profissionalizantes.
Politicamente, o BTN tem sido o fiel da balança nas eleições municipais e já chegou a ter, como mantém na atual legislatura três vereadores representantes de sua população que hoje é estimada em mais de 45 mil habitantes e cujos eleitores têm o poder de mudar a história política nas eleições para prefeito.
Hoje o Bairro Tancredo Neves tem com teve na legislação passada, três vereadores seus representantes diretos: o Vereador Valmir Rocha, o Vereador Keko do Benone e o Vereador Pedro Macário, que é o presidente da Câmara Municipal de Paulo Afonso.
Daí, o grande interesse das gestões municipais em sempre ter um olhar diferenciado para este Bairro. Nas festas juninas, há uma programação especial para os moradores do Bairro, assim como é nos festejos natalinos. Suas ruas estão asfaltadas e centro de entretenimento e lazer como CEU, foi recentemente criado no bairro. Praças e outros atrativos são oferecidos aos seus moradores e já se fala na construção de campos de futebol.
Merecidamente, a população do Bairro Tancredo Neves, pagadores de impostos como todos os moradores de Paulo Afonso, precisam da atenção do poder público e tem crescido de forma surpreendente.
Há anos atrás pedi umas fotos aéreas do BTN, feitas com um dronner. Elas dão uma visão do quanto cresceu esse Bairro mas, com certeza, ainda ficam a dever, porque o Bairro Tancredo Neves está ainda maior e mais bonito.
Enquanto preparamos outras fotos, vamos ver estas imagens...
Logo, estas e outras fotos aéreas do Bairro Tancredo Neves estarão no canal FOTOS, deste site www.folhasertaneja.com.br
Li com muita atenção e considero de uma importância fantástica.Obrigado por tudo que nos informa a respeito da nossa querida Cidade.