D. Rita Fagundes foi uma das primeiras moradoras do Bairro Tancredo Neves quando ele ainda estava começando e se chamada Bairro Mulungu. Teve uma vida inteira de dedicação às causas da Igreja Católica e aos mais necessitados daquele Bairro em seus momentos de maior carência. Era conhecida como a matriarca do Bairro Tancredo Neves.
Por seu trabalho e dedicação ao BTN foi agraciada em 1987 pelo Prefeito José Ivaldo e com a aprovação da unanimidade dos vereadores de Paulo Afonso com o Diploma de Amiga da Cidade de Paulo Afonso.
Mais recentemente recebeu outras duas homenagens da Câmara Municipal de Paulo Afonso, por iniciativa do então vereador José Carlos Coelho, conhecido com Zé Carlos do BTN. Em 2016, ao completar 90 anos, recebeu um Moção de Aplausos por iniciativa desse vereador e em 10 de maio de 2018, poucos dias depois do seu aniversário de 92 anos de idade, recebeu solenemente da Câmara Municipal de Paulo Afonso o título de Cidadã de Paulo Afonso, honraria também proposta pelo então vereador Zé Carlos do BTN e aprovada por unanimidade pelos vereadores daquele Poder Legislativo.
Lembro de sua presença forte, marcante, quando do sepultamento do seu amigo, o ex-prefeito Abel Barbosa e Silva. Ao lado do caixão do Chefe Abel, na capelinha do cemitério Padre Lourenço Tori, proferiu um discurso forte, vigoroso que levou os que estavam ali às lágrimas.
Na edição Nº 193 do jornal Folha Sertaneja em homenagem aos 50 anos do Bairro Tancredo Neves, dedicamos uma página para homenagear esta senhora, patrimônio de Paulo Afonso e do BTN. Para isso, contamos com o apoia da historiadora Elaine Ventura que buscou informações e elaborou um belo texto sobre esta mulher pioneira e de presença muito marcante na história do Bairro Tancredo Neves.
Mãe do Padre Luiz Tibúrcio e de uma grande prole de mais de 150 pessoas entre filhos, netos, bisnetos e outros familiares.
Como anunciou o site www.tribunamulungu.com.br há pouco, “ela morreu de morte natural, aos 95 anos de idade. Há um bom tempo vinha sofrendo de problemas gerais de saúde.
E Don Rita Fagundes, cumprindo a missão que o Pai Celestial lhe deu retorna à Casa do Pai.
Em sua homenagem, pela história riquíssima de humildade e de doação aos mais necessitados, o site www.folhasertaneja.com.br reapresenta a sua história de vida, no texto de Elaine Ventura e nos juntamos à dor dos que sofrem com a sua partida, com a certeza que “O Senhor está perto dos que têm o coração quebrantado e salva os de espírito abatido!” (Salmo 38:17)
“A morte foi por causas naturais, não relacionadas a Covid-19 e devido a Pandemia, o corpo vai ser velado na sua residência. O horário do sepultamento ainda não foi informado. (www.tribunamulungu.com;br)
Antônio Galdino da Silva
D. Rita Fagundes da Silva - 95 anos de vida
Por Elaine Ventura
Ela nasceu no dia 03 de maio de 1926, em Ribeira do Caldeirão, uma espécie de sitio localizado no município de Brejo da Madre de Deus, no agreste pernambucano, a segunda das seis filhas dos agricultores João Fagundes do Lago e Maria Francisca dos Prazeres, uma família tradicionalmente católica.
Rita Fagundes da Silva, Dona Rita, assim como é chamada carinhosamente pela comunidade do bairro Tancredo Neves, como a maioria dos filhos de família de origem humilde da época, começou a trabalhar na roça desde muito cedo a fim de ajudar seus pais nas despesas da casa.
Quando criança, muito disposta e dotada de um forte espirito de liderança, (seu pai a chamava de “Meu cabra macho”, coisa que a deixava muito satisfeita, pois era reconhecida pelo seu esforço e empenho).
Mesmo com toda dificuldade estudou até o quarto ano do ensino fundamental.
Seus pais eram analfabetos, mas sua mãe sempre comprava folhetos e livros de cordel (muito comum nas feiras da época), instigando a sua curiosidade de menina e influenciando o habito por leitura e a busca pelo conhecimento. Como pertencia a uma família de agricultores, Rita constantemente se deslocava com os seus pais a procura de chuva e solo fértil para tirar o sustento da família, que com muita luta e suor era conseguido, pois além de viver uma vida simples e ter que lidar com as dificuldades financeiras, não possuía terras para morar ou plantar, sempre trabalhando em propriedades de terceiros.
Deixou o sertão pernambucano no ano de 1938, aos doze anos, quando seu tio (irmão de seu pai) trouxe notícias de que em Monteiro, cidade localizada no sertão da Paraíba, havia terras planas e boas que facilitavam a condição para um melhor cultivo, fazendo com que toda família se mudasse para lá.
Em Monteiro conheceu seu falecido esposo o Senhor Sebastião Tibúrcio da Silva, também agricultor, vindo a se casar no dia 03 de fevereiro de 1942.
Como estavam passando por um período de seca e não tinham terras na cidade, resolveram ir para a cidade de Sertânia-PE, onde Rita passou um tempo sendo feirante.
Após esse período, passou a morar em Henrique Dias, uma Vila situada no município de Sertânia. Nessa vila se estabelece, e como seu esposo não tinha nenhuma profissão, além de agricultor, Rita teve que trabalhar lavando roupas, em fabricas de carvão (produto muito utilizado na época), na colheita de algodão e em fabricas de caroá, serviços que exigiam muita habilidade e grande esforço, assim levando o sustento pra casa.
Lá, criou seus filhos e os educou, fazendo o possível para que todos tivessem a oportunidade de se alfabetizarem.
Após essa passagem mudou-se para o Paraná, com a esperança de uma vida mais confortável, indo trabalhar nas plantações de algodão, mandioca e milho. Na época havia um grande êxodo rural, quando os nordestinos migravam para o sul e sudeste do país em busca de melhores condições de vida. Lá, passou cinco anos, retornado para Henrique Dias lugar pelo qual ela e o esposo nutriam um grande afeto. Passaram cinco anos vivendo de favor na casa de terceiros. Ainda em Arcoverde conseguiu, com muito esforço, comprar uma casinha de taipa, muito humilde, que por ser tão baixa, ao passar pela porta era necessário se abaixar.
No ano de 1970, alguns de seus filhos começaram a vir para nossa querida Paulo Afonso, em busca de trabalho. Como os irmãos eram muito ligados, não demorou muito para que Dona Rita e o restante da família se estabelecessem no local, no final de 1971, vindo residir no Riacho do Brito, lugar onde foi construída a barragem da Usina PA-4 e, devido a construção da usina, várias famílias que moravam no local precisaram se deslocar de lá, fundando assim o bairro Mulungu, atual Bairro Tancredo Neves.
Nesse mesmo ano, ano em que o Bispo Dom Jackson Berenguer Prado, primeiro bispo a assumir a Diocese Nossa Senhora de Fátima toma posse, Dona Rita inicia sua trajetória como missionária, se juntando aos Bíblicos, grupo esse que tinha como objetivo ajudar as famílias mais necessitadas, e se reuniam, rotineiramente na Casa da Criança 3.
Certo dia após uma novena, Dona Rita veio a ser convidada pelos padres Mario, Antônio e Alcides para participar de outras obras sociais da Igreja, e nelas logo se engajou, vindo a participar de retiros, estudos bíblicos e formações litúrgicas.
No final dos anos 80, quando o saudoso Bispo Dom Mario Zanetta assume a Diocese de Nossa Senhora de Fátima, fez o convite a Dona Rita para que ela se torne uma das representantes da comunidade católica como leiga, fazendo com que seus filhos também se encantassem pelos trabalhos
sociais da igreja e desenvolvessem seus carismas, período este em que seu Filho Luiz, hoje Padre Luiz Tibúrcio, começou seus estudos teológicos.
Assim iniciava-se a construção da Paróquia Sagrada Família.
Movida por sua iniciativa de cristã católica, Dona Rita, com o auxílio de suas filhas, Maria das Graças, Rita, Ana Maria e Fátima, foi responsável por alimentar os homens que trabalhavam na construção da paróquia, onde seus filhos Luiz, Severino e Manoel também trabalharam.
Muito querida pelos moradores do bairro, liderou vários projetos sociais, que vieram a ajudar várias famílias carentes.
Como Dona Rita Fagundes era amiga do Prefeito Abel Barbosa, foi com a ajuda deste grande homem que conseguiu arranjar material para a construção de pequenas casas para abrigar aqueles mais necessitados.
No mesmo período vendo que o Mulungu atual bairro Tancredo Neves sofria com a falta de escolas, com doações de Padre Mario e do saudoso Chefe Abel, Rita alugou uma casa para começar a alfabetizar as crianças, deixando depois essa tarefa de educadora para sua filha Maria das Graças.
Também passou a liderar o Mutirão da Moradia, já na gestão do Prefeito José Ivaldo e tornou-se responsável pela criação e manutenção da creche, que veio a ajudar muitas famílias carentes.
Deu início à catequese com sua irmã, sendo catequista por doze anos e, junto com seus catequizandos
realizava visitas semanais aos necessitados e enfermos, levando sempre um carinho e palavras de conforto.
No ano de 1987 foi agraciada com o diploma de “Amiga da Cidade” proposto pelo ex-vereador Zé Ivaldo, nesse tempo Prefeito de Paulo Afonso, em reconhecimento e gratidão pela relevante contribuição e engrandecimento do município.
Considerada matriarca da comunidade católica do Bairro Tancredo Neves, recebeu duas homenagens do Vereador José Carlos Coelho: a primeira, foi uma Moção de Aplausos, em maio de 2016, em tributo a seu nonagésimo aniversário. A outra, foi o título de Cidadã de Paulo Afonso, entregue na noite do dia 10 de maio de 2018, em meio a muita emoção e um discurso acalorado da homenageada.
Rita Fagundes da Silva criou 13 filhos. São eles: Antônio Tibúrcio da Silva, João Tibúrcio, José Tibúrcio, Rafael Tibúrcio, Severino Tibúrcio, Luiz Tibúrcio (Padre atuante na comunidade Sagrado Coração de Jesus, no bairro Centenário), Manoel Tibúrcio, Miguel Tibúrcio, Maria Rita Silva Cordeiro, Maria das Graças Silva, Maria de Fátima Silva Pereira, Maria do Rosário Sobreira, Ana Maria dos Santos Silva. Estando em memória, Manoel Tibúrcio, Severino Tibúrcio (conhecido como Bill Halley, Cantor) e Antônio Tibúrcio (ministério de música, conhecido popularmente como seu Antônio).
Ela tem 59 netos e 70 bisnetos. Orgulhosa de sua família e de seu legado à senhora Rita Fagundes sempre consegue reunir os membros da família que se encontram em torno de 140 pessoas. (Isso em 2020).
Possuidora de uma trajetória de vida admirável, de extrema ética e fibra moral, aos 94 anos de idade, completos no dia 03 de maio deste ano, reconhece seu papel como sujeito transformador da sociedade em que está inserida, tendo a honra de representar a comunidade católica do bairro Tancredo Neves, de ter contribuído no processo de construção da Paróquia Sagrada Família e ter fundamental participação na criação e educação de muitas crianças e jovens, hoje adultos, que residiram e residem, nesse bairro tão querido por ela. (Texto de Elaine Ventura)