Os rios só querem passar...
Mineiros e baianos e, de vez em quando também chegam notícias de outros lugares, estão vivendo a angústia da perda de bens materiais, de móveis e imóveis e, também, em alguns lugares, a doída perda de pessoas queridas, tudo levado pelas muitas águas que desceram dos céus em muitas chuvas, encheram as barragens e os leitos quase secos dos rios e se espalharam por todos os lugares.
Estabeleceu-se a correria dos governos federal, estadual e dos municípios para atender aos apelos dos que sofrem e choram.
E todos – os governos e os que sofrem – culpam as chuvas torrenciais que desabaram sobre a terra. Alguns insanos talvez estejam responsabilizando Deus por essa tragédia e nessa agonia agora, até esqueceram que fizeram tantas orações, tantas preces e novenas e promessas pra Deus mandar uma chuva para molhar a terra ressequida, o que nos remete à canção Suplica Cearense, de Luiz Gonzaga, publicada no álbum Eu e Meu Pai, em 1979.
Poucos talvez se tenham dado conta que estas muitas barragens que se romperam podem não ter sido construídas da forma certa. Ou que algumas delas nunca passaram por uma vistoria, até porque “chove pouco mesmo nessa região”, como devem ter pensado e falado alguns...
Outros tantos, por comodismo pessoal, resolveram construir suas casas bem pertinho do rio com o mesmo argumento, “esse rio nunca botou muita água, é sempre assim, a mesma coisa, há anos...”
Por seu turno, as grandes empresas, do governo ou privadas, com bem mais recursos e grandes sonhos de desenvolvimento e de enriquecimento, decidiram construir grandes reservatórios, alguns verdadeiros mares e com as suas águas destruíram a história de milhares de famílias que tiveram as terras dos seus ancestrais, suas plantações, suas casas, suas igrejas e cemitérios centenários cobertos por muitas águas, alargando, em centenas de quilômetros os caminhos naturais dos rios...
São sempre centenas de justificativas que aparecem quando as águas crescem e começam a ocupar os seus lugares que foram invadidos.
Mas, a mais tocante das definições eu ouvi em um vídeo que recebi e circula pelas redes sociais mais uma vez e ali já esteve quando aconteceram outras enchentes invadindo casas e plantações.
Ele é um poema de uma baiana chamada Sheilla Lobato, da cidade de Cachoeira/BA, uma das cidades que sofrem com as inundações dos últimos dias e narrado pelo Pastor Delandi Macedo, onde ela descreve de forma impactante e fiel que os rios, que agora cresceram com estas tantas águas, “só queriam passar”, mas o seu caminho natural, o seu leito, está cheio de lixo, sujeira, entulhos, e as suas águas encontram muitos obstáculos na sua caminhada. Paredões imensos lhe impedem a sua viagem natural e ele, o rio, o senhor deste leito por onde corre, precisa passar, necessita chegar ao seu destino.
De fato, enquanto o homem não se conscientizar da necessidade de respeitar o meio ambiente aonde vive, com certeza, em outras vezes, vai ser obrigado a ver os rios que sempre são fonte de vida e de felicidade para todos, oferecendo a água que lhe mata a sede e o alimento que lhe tira a fome, retomarem os caminhos naturais e seguir o seu destino.
Os rios, riachos e ribeirões só querem passar para levar vida e alimento para todos os que estão no seu trajeto, mas o homem, na sua insanidade, não deixa o rio passar... como diz a poetisa Sheila Lobatto nesse vídeo que você vai ver agora.
Antônio Galdino da Silva