Na época de grandes enxurradas, muita gente tem sido vítima do rompimento de barragens que causam perda de vidas, alagam cidades, destroem casas e prejudicam o setor produtivo urbano e rural como aconteceu em Minas Gerais e no sul Bahia recentemente
Com essas muitas águas recebidas pelos vários afluentes do rio São Francisco, aumenta o volume de águas do Reservatório de Sobradinho que tem a capacidade de acumular 34 bilhões de metros cúbicos de água.
Os órgãos que administram essa área como o ONS – Operador Nacional dos Sistemas Elétricos e a Chesf, a maior empresa de energia hidroelétrica do Nordeste, programam, de forma gradual o aumento da liberação dessas águas de Sobradinho para os demais reservatórios mantidos pela Chesf que são o Reservatório de Itaparica, em Petrolândia/PE, com capacidade de 11 bilhões de metros cúbicos.
Reservatório e Barragem de Moxotó, em Paulo Afonso-BA
Em Paulo Afonso/BA, o Reservatório de Moxotó, com capacidade de 1 bilhão de metros cúbicos e outros menores como o Reservatório Delmiro Gouveia, que alimenta as Usinas Paulo Afonso 1, 2 e 3 e o Reservatório da Usina PA-4, que alimenta esta Usina Hidrelétrica, além do início do cânion do rio São Francisco que começa na Cachoeira de Paulo Afonso fizeram da cidade histórica de Paulo Afonso uma grande ilha.
Início do cânion do rio São Francisco, em Paulo Afonso. Ao fundo, à esquerda, Barragem da Usina PA-4
A partir do cânion, começa o Reservatório de Xingó, com 3,2 bilhões de metros cúbicos, todo esse volume dentro do cânion do Rio São Francisco, de 65 quilômetros, de Paulo Afonso a Barragem de Xingó.
Como estas cheias no alto São Francisco devem continuar pois o período considerado úmido se estende até o mês de Abril e há a previsão do Reservatório de Sobradinho alcançar 75% de sua capacidade total, foi programado o aumento da vazão do rio em Sobradinho e em Xingó, com a liberação de 500 metros cúbicos de água a cada dois dia, já iniciado desde o dia 12 de janeiro e com a programação de alcançar 4 mil metros cúbicos nesses dois reservatórios, no dia 24 de janeiro, com possibilidade de se estender por outros dias a depender do volume de águas recebido no Reservatório de Sobradinho.
A parte central e histórica da cidade de Paulo Afonso, justamente com a construção do Canal da Usina Paulo Afonso 4, foi transformada em grande ilha e com essa liberação de muitas águas, aumentam as questões nas redes sociais e encaminhadas ao WhatsApp deste site sobre a segurança das barragens da Chesf, especialmente sobre os reservatórios e o canal existentes neste município.
Reservatório e Barragem Delmiro Gouveia, que alimenta as Usinas Hidrelétricas Paulo Afonso 1, 2 e 3
Reservatório da Usina Hidrelétrica Paulo Afonso 4
Sobre este assunto, tive uma boa conversa no início da tarde do dia 15 de janeiro, com o Engenheiro Francisco de Souza. Fomos ouvir a opinião de um pioneiro de Paulo Afonso e grande especialista nesta área, onde trabalhou por muitos anos. E ele explica nessa conversa que o Canal da Usina PA-4, foi construído justamente para aumentar em 7 mil metros cúbicos, a capacidade de vazão das águas do rio São Francisco, que já era muito seguro com a capacidade de vazão de 26 mil metros cúbicos, aumentados com o canal para 33 mil, o que nunca aconteceu em Paulo Afonso, ao longo da história.
Vertedouros da Usina Hidrelétrica Paulo Afonso 4 ("Chuvisco)
Início do Reservatório de Xingó. Marco zero, embaixo da Ponte D. Pedro II. Ao fundo Usina PA-4
A data 15 de janeiro se mostrou oportuna para essa conversa pois foi nesse dia, há 67 anos, que foi inaugurada a 1ª Usina Hidrelétrica de Paulo Afonso, construída pela Chesf e, com ela começou o processo de redenção do Nordeste.
Quem é Francisco Souza e o que ele nos assegura sobre esse assunto?
O Engenheiro Francisco de Souza foi chefe da Divisão de Obras de Paulo Afonso e trabalhou na construção das usinas Apolônio Sales e Paulo Afonso 4, do início até a conclusão desses empreendimentos.
Conhecido como Chico do Concreto, o engenheiro Francisco tem raízes pioneiras nesta cidade. O seu pai, que era conhecido como Mestre Cícero, chegou a Paulo Afonso, que ainda se chamava Forquilha e Vila Poty, antes do início da construção da Usina Paulo Afonso I, que completou 67 anos de sua inauguração no dia 15 de janeiro de 2022.
Mestre Cícero teve como sua primeira missão na Chesf, viajar ao interior do Nordeste para trazer trabalhadores para a construção do Acampamento da Chesf.
O Engenheiro Francisco de Souza tem muitos irmãos, sendo os mais conhecidos em Paulo Afonso, Carlos Alberto (Epidauro Pamplona) e Sônia (de Dernival do Hotel Belvedere). Aposentado, fixou residência em João Pessoa e aproveitou parte do seu tempo para fazer um Mestrado e um Doutorado na área de Engenharia de Produção. Como resultado de sua tese, publicou um livro em 2012 sobre Planejamento Estratégico com a proposição de um modelo de desenvolvimento sustentável para a região de Paulo Afonso na área do turismo, agropecuária e empresas de pequeno porte. “O modelo não foi aplicado. Infelizmente.” Lamenta ele.
Em 2017, Francisco de Souza publicou um segundo livro com o título Memórias de um Pioneiro, onde ressalta parte do tempo em que morou em Paulo Afonso, a construção das usinas e a vida social em décadas passadas.
Nesse livro há informações especiais sobre a segurança das barragens diante das grandes cheias do rio São Francisco, o que traz tranquilidade para a população de Paulo Afonso com base nos estudos feitos no Modelo Reduzido, numa escala 1/75.
A boa conversa com o engenheiro Francisco de Souza e os registros do seu livro nos mostram porque ele assegura essa tranquilidade no que se refere à segurança das barragens de Paulo Afonso diante das atuais cheias do rio São Francisco e das vazões programadas pela Chesf até o dia 24 de janeiro, inicialmente e que podem chegar ao máximo de 4 mil metros cúbicos por segundo, previstos para serem liberados pelo Reservatório de Sobradinho no dia 24 de janeiro de 2022.
Com essa vazão, a Cachoeira de Paulo Afonso vai ter um bom volume de águas mais ainda muito abaixo de vazões históricas quando a cachoeira chegou a ter 14 mil e até 18 mil metros cúbicos de água por segundo, ou mais de quatro vezes a vazão esperada para os próximos dias.
Especificamente sobre essa capacidade de vazão de Paulo Afonso, pelos seus vertedouros ou pelo leito normal do rio, o engenheiro Francisco explicou por telefone e também está no seu livro que “antes da construção do Canal da Usina Paulo Afonso 4 que transformou a parte histórica da cidade de Paulo Afonso em grande ilha, a capacidade de vazão do rio São Francisco já era de 26 mil metros cúbicos de água por segundo, volume nunca atingido.”
E, continua o Engenheiro Francisco de Souza, “Entretanto, nas tratativas de financiamento para a construção das grandes usinas hidrelétricas junto ao Banco Mundial, este banco apresentou estudos mostrando que o rio São Francisco poderia ter algum tempo uma cheia histórica de até 33 mil metros cúbicos por segundo”.
“Então, diz Francisco Souza, foi decidido pela Chesf, através do seu Diretor Técnico, Amaury Alves de Menezes, a construção do Canal que ficou conhecido como Canal da Usina PA-4. Este canal tem uma média de 130 metros de largura e aproximadamente 6 quilômetros de extensão e começa no grande reservatório de Moxotó, quem tem a capacidade de 1 bilhão de metros cúbicos de água e desagua no pequeno Lago da Usina Paulo Afonso 4.
Com este canal, criou-se a possibilidade de vazão de mais 7 mil metros cúbicos de água que poderão ser vertidos pelos vertedouros da Usina PA-4 que, ao ser construída, aproveitando as águas desse canal, tornou-se na maior usina hidrelétrica do complexo de Paulo Afonso, apenas superado, já em meados dos anos de 1990, pela Usina Hidrelétrica de Xingó, entre Sergipe e Alagoas.
“Assim, conclui o engenheiro Francisco de Souza, não deve haver qualquer tipo de receio sobre a segurança das barragens da Chesf e sobre a sua capacidade de vazão.”
Conversamos ainda com o Engenheiro Francisco Souza sobre os danos que as muitas águas trazem aos moradores ribeirinhos da calha do rio e a sua resposta é a que também já ouvimos de outros especialistas e estudiosos do rio São Francisco.
“Infelizmente, ao longo dos anos, sem nenhuma preocupação de controle pelos gestores dos municípios que margeiam o rio São Francisco e outros rios brasileiros, muitos constroem casas, fazendas, pastos e se instalam nas margens do rio, tiram a sua vegetação ciliar e com isso trazem sérios problemas para si mesmos e para outros moradores e até cidades inteiras sofrem com isso. Quando o rio toma água o seu leito está assoreado, infestado de lixo, criaram-se bancos enormes de areia e a tendência das águas é se espalhar no seu caminho e com isso as forças das águas levam tudo o que tem pela frente”.
Cânion do rio São Francisco ainda em território de Paulo Afonso-BA
Visão aérea de parte do cânion do rio São Francisco (acima) e na divisa dos Estados da Bahia, Alagoas e Sergipe. A pequena ilha triangular ao centro é o marco da divisa desses Estados. A ilha é conhecida como Terra de Ninguém ou de todo mundo...
Francisco... Parabéns!!Gostaria que entrasse em contato!
Na pagina 65 do meu livro eu faço um alerta sobre a necessidade do sistema de manobras das compostas ser operado de forma eficiente. "É oportuno ressaltar que, nesse caso, o sistema operacional das compostas dos vertedouros deve estar em condições normais de funcionamento."
Bom dia professor Galdino.Matéria muito importante para tranquilizar a população da região e combater noticias falsas. Obrigado pelas referências feitas a milha pessoa.Cabe agora a Chesf a responsabilidade de manutenção e operação das compostas dos vertedouros para que o sistema de descargas das águas de todas as usinas de seu complexo hidroelétrico, a partir da barragem de Sobradinho, funcione de acordo com a segurança garantida pelos estudos do projeto feito no modelo reduzido, numa escala 1/75