No ano de 2008, após as eleições municipais, recebi na minha sala do jornal Folha Sertaneja a visita de Jânio Soares e Koca Tavares que me trouxeram o convite do prefeito eleito, Anilton Bastos, para dirigir o Departamento Municipal de Turismo e Cultura, como se chamava na época. Elaboramos o nosso plano de trabalho com esse foco: turismo e cultura. Mas, no final do ano, o gestor municipal decidiu dividir esse departamento em dois e nasceram os departamentos municipal de turismo e o departamento municipal de cultura, este gerenciado pela querida amiga, professora Maria da Glória Lira.

Como já havia conversado com João de Sousa Lima para a possibilidade de se promover um grande seminário sobre Maria Bonita, e João de Sousa estava trabalhando com Glória Lira, conversei com Jânio Soares, indicado como Secretário Municipal de Turismo e Cultura para transferir João de Sousa do Departamento de Cultura para o Departamento de Turismo e realizarmos ali esse evento. Conversei também com Glória Lira e assim aconteceu. 

A Praça das Mangueiras, no centro de Paulo Afonso tem um estátua de Maria Bonita que, assim como a Casa de Maria Bonita, recebe visitas de turistas e apaixonados por essa temática do cangaço.

Como até então se tinha como certa a data do aniversário de Maria Bonita o dia 08 de março, este foi o mês escolhido para que se fizesse o 1º Seminário Internacional do Centenário de Maria Bonita que recebeu muita gente interessada nesse tema, hoje universal, do estudo do ciclo do cangaço no Brasil. Maria Bonita, que nasceu na Malhada da Caiçara, povoado que a partir da emancipação política de Paulo Afonso passou a fazer parte deste município teve a sua casa restaurada no governo do prefeito Raimundo Caires e para isso contou com a coordenação de Luiz Rubens que assessorava aquela gestão. 

Pela grandiosidade do evento foi criado um Caderno Especial do jornal Folha Sertaneja dedicado a este evento. 

O 1º Seminário Internacional do Centenário de Maria Bonita foi realizado nas dependências do Memorial Chesf Paulo Afonso em março de 2009. 

O 2º Seminário Internacional do Centenário de Maria Bonita foi realizado nas dependências da Universidade do Estado da Bahia - UNEB e contou novamente com a participação de Manoel Severo que tinha participado do 1º Seminário, criou o Cariri Cangaço em setembro de 2009 e esteve no 2º Seminário de Maria Bonita em Paulo Afonso. Tive a alegria de coordenar e apresentar o cerimonial e também fotografar, em outros momentos, esses dois eventos que tiveram a coordenação João de Sousa Lima e do Departamento Municipal de Turismo da Prefeitura de Paulo Afonso na gestão de Antônio Galdino da Silva.

O Cariri Cangaço nasceu a partir desse evento como diz o Manoel Severo que implantou esse movimento na região do Cariri Cearense e o primeiro evento foi realizado entre 22 e 27 de setembro de 2009 com atividades nos municípios cearenses de Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha e Missão Velha.

Hoje é um grande evento que já foi realizado em dezenas de cidades nordestinas e merece todos os aplausos tendo em vista o resgate histórico que tem promovido ao longo destes anos, tanto sobre as muitas e diversificadas histórias do cangaço como sobre outros temas nordestinos, que tratam de beatos e messiânicos, vaqueiros, fazendeiros e um sem número de personagens que povoam o real e o imaginário da vida no Nordeste.

No ano de 2010, o Cariri Cangaço foi novamente realizado nos municípios de Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha, Missão Velha e também no município de Aurora. 

Antônio Galdino, Tomaz, Vilela e Aderbal na visita ao cânion e cachoeiras de Missão Velha

Tive a alegria de participar dos eventos daquele ano e até de uma mesa de debates no Auditório do CEREST em Juazeiro do Norte na noite de 19 de agosto de 2010, quando Renato Dantas apresentava o tema O Pacto dos Coronéis. Na mesa redonda estavam: Carlos Eduardo, do Rio de Janeiro/RJ, Antônio Galdino, de Paulo Afonso/BA, Napoleão Tavares Neves, de Barbalha/CE e Juliana Ischiara, de Quixadá/CE.

Esse evento de 2010 teve como um dos principais conferencistas o Dr. Antônio Amaury Correa de Araujo que nos deixou recentemente e foi ali homenageado pelo Cariri Cangaço e também pelo escritor João de Sousa Lima.

Foto 1 – Manoel Severo abre o 1º Cariri Cangaço – 2009; Foto 2 – Primeira Conferência: Paulo Gastão, Ivanildo Silveira, Lemuel Rodrigues, Manoel Severo e Ângelo Osmiro; Foto 3 - Manoel Severo abre o 2º Cariri Cangaço – 2010; Foto 4 – Pauloafonsinos João de Sousa Lima, Gilmar Teixeira e Luiz Rubem no Cariri Cangaço

Durante anos, se pensou em trazer uma edição do Cariri Cangaço para Paulo Afonso, terra do nascimento de Maria Bonita e das muitas andanças de Lampião e seu bando e, segundo informa o pesquisador e escritor de mais de dez livros sobre o tema, João de Sousa Lima, pelo menos umas cinquenta pessoas da região foram por ele identificadas com algum envolvimento no cangaço, como cangaceiros de Lampião.

Estas tentativas de se trazer pelo menos uma edição do Cariri Cangaço para Paulo Afonso foram frustradas, embora ela tenha acontecido em lugares vizinhos como Piranhas e outras cidades.

Reunião de Manoel Severo e João de Sousa Lima com o presidente da Câmara, Pedro Macário e a presidente da ALPA, Gorette Moreira em 17 de dezembro de 2021 em Paulo Afonso/BA

Enfim, o Cariri Cangaço acontecerá em Paulo Afonso – dias 24 a 27 de março 2022

Este ano, apesar da pandemia, viu-se a oportunidade desse esperado momento acontecer. Reuniões de João de Sousa Lima e Manoel Severo com a presidente da ALPA, Gorette Moreira e com o presidente da Câmara, Pedro Macário, asseguraram apoio à realização deste evento, também apoiado pelo novo secretário de Cultura e Esportes, Dernival Oliveira Júnior. Era o que faltava para que o Cariri Cangaço fosse realizado em Paulo Afonso.

Como tem sido divulgado nas redes sociais, está confirmada a realização desse importante evento em Paulo Afonso nos dias 24 a 27 de março, com a abertura prevista para o dia 24 de março, às 18;30 horas quando serão homenageadas pessoas e instituições de Paulo Afonso e do próprio Cariri Cangaço.

Como se vive ainda sobre os Decretos que controlam a quantidade de pessoas nos eventos, por conta da pandemia, o auditório Memorial Chesf de Paulo Afonso, que tem a capacidade de receber 150 pessoas, foi cedido pela Chesf para a abertura desse evento com a sua capacidade limitada a 50% dos seus lugares.

Manoel Severo, o Curador do Cariri Cangaço tem afirmado em todas as suas notas nas redes sociais que o Cariri Cangaço cumprirá rigorosamente as decisões dos Decretos Municipais e Estaduais sobre a realização de eventos no período de pandemia.

Mas, espera-se que até a data da sua realização haja a condição de liberação para mais público, tendo em vista a grande importância desse evento e que este evento se realize com pleno êxito.

A programação nos dias seguintes inclui a realização de palestras, lançamento de livros e intensa visitação a roteiros turísticos com o foco no cangaço, identificados pelo historiador e pesquisador João de Sousa Lima, responsável pela organização da programação em Paulo Afonso.

O que diz Manoel Severo sobre a criação do Cariri Cangaço

“Em março de 2009 quando retornávamos da primeira edição do Seminário de Maria Bonita em Paulo Afonso aflorou em minha cabeça a ideia de tentar realizar em nosso estado do Ceará, mais precisamente na região do Cariri; onde desenvolvia minhas atividades profissionais; um seminário onde pudéssemos resgatar um pouco da historiografia cangaceira na região, tão pouco conhecida pela grande maioria das pessoas. Num primeiro momento ouvia muitas indagações e provocações: "Cangaço no cariri?" "Está ficando louco?" "Como realizar um negocio desses aqui, sem nenhuma tradição com o tema?" "Evento para endeusar bandido?" ... Foi aí que alguns ingredientes acabaram se somando e o sonho acabou se tornando realidade: Determinação, perseverança, dedicação e amigos; muitos amigos, inúmeros amigos, de todos os lados e lugares, alguns antigos e outros novos, todos juntos começaram a acreditar que poderíamos fazer...e fizemos.” (Manoel Severo - Curador do Cariri Cangaço)

Os objetivos do Cariri Cangaço

“Mas não poderíamos continuar nossa conversa sem fazer o devido e responsável esclarecimento; explico: Apesar do fascínio que o cangaço exercia no pequeno garoto e exerce até hoje no homem; o Cariri Cangaço , não nasceu com o sentimento de fazer apologia ao Cangaço, cangaceiros, violência, enfim; não "mitifica" e nem procura elementos para "endeusar" Virgulino Lampião nem nenhum outro personagem dessa saga sertaneja tão penosa e cheia de dor. O verdadeiro sentimento que moveu a todos nós foi o de proporcionar um ambiente ainda mais propício para o debate e aprofundamento dessa temática que é tão marcante e capilar em nossa terra e em nossa gente. O incrível acontece; Lampião e o Cangaço que tanto sofrimento trouxe para o ordeiro povo do sertão, hoje promove o encontro, a união e a harmonia na direção da busca da verdade histórica.” (Manoel Severo - Curador do Cariri Cangaço)

Conheça a vitoriosa trajetória do Cariri Cangaço no http://cariricangaco.blogspot.com/.

Por Antônio Galdino da Silva