Quando a Chesf se instalou em Paulo Afonso em 1948 começou a desenvolver três grandes projetos de construção: a Usina Paulo Afonso 1, a barragem/reservatório Delmiro Gouveia e o Acampamento Chesf.
No Acampamento, foram construídas cerca de 2 mil casas residenciais de vários tipos, para os empregados da empresa e também os prédios e instalações de serviços diversos como escritórios, hospital, clubes sociais, escolas, mercado público, campo de futebol, igreja...
Na imensidão da Caatinga não existia nada. Os primeiros técnicos ficaram morando por um tempo em Delmiro Gouveia e caminhões da empresa se deslocavam para Garanhuns para trazer de lá frutas, legumes, verduras.
A chegada de grandes levas de nordestinos, muitos deles já trazendo suas famílias fez com a Chesf colocasse no seu planejamento a construção de escolas para os filhos desses empregados, o que era uma exigência da Constituição de 1946 e a Chesf, sendo uma empresa do governo federal não poderia descumprir essa exigência constitucional.
Os primeiros estudantes. Mesas e bancos improvisados com pranchões de madeira. Professora Ezilda Carvalho. Data: 28 de junho (juho) de 1949.
Sobre a construção dessas primeiras escolas pela Chesf, diz Luiz Fernando, pioneiro da Chesf, no seu livro Paulo Afonso - Luz e Força movendo o Nordeste - “enquanto a escola definitiva não era concluída, os alunos estudavam em um galpão onde depois se construiu a Escola Alves de Souza, ao lado da Casa de Hóspedes. A professora foi Ezilda Carvalho, esposa de Aprígio”.
Escola Adozindo Magalhães de Oliveira - 16 de junho de 1950.
Ainda no ano de 1949 foi iniciada a construção da primeira unidade escolar, a Escola Engenheiro Adozindo Magalhães de Oliveira e ao seu lado a Escola do Senai, Delmiro Gouveia, porque a Chesf viu a necessidade de também preparar os seus empregados, em diversas profissões necessárias nas várias frentes de trabalho da empresa hidrelétrica.
Escola Murilo Braga e galpão onde foi construída a Escola Alves de Souza. Ao fundo a Casa de Hóspedes
Logo se viu que uma escola era muito pouco e em 1952 foram construídas as escolas Murilo Braga e Alves de Souza.
Mas, ainda em 1949, o Sr. Enoch Pimentel Tourinho já começava a levantar a necessidade de se ter um Ginásio, o que levava a se entender que as obras da Chesf não se limitariam a construção de apenas uma Usina Hidrelétrica.
Professor Enoch Pimentel Tourinho
O fato é que o influente Enoch Pimentel, responsável pelo serviço de transporte da Chesf de essencial importância para a Chesf nesses primeiros tempos, com a disposição que os muitos anos de marinheiro lhe deram, saiu em campo para que se construísse um Ginásio, o que não estava previsto no planejamento nem no orçamento da empresa.
Área reservada para o Ginásio e COLEPA, quadra coberta, quadra descoberta e campo e pista de atletismo
E foi uma grande luta, iniciada ainda em 1949, quando se pediu ajuda até ao presidente da República que por aqui esteve, mas ficou na promessa.
Para a construção do Ginásio Paulo Afonso, o empenho do Sr. Enoch Pimentel encontrou companheiros de caminhada. Os próprios diretores da Chesf doaram tijolos e o valor correspondente a um dia de trabalho. Também os empregados da Chesf doaram um dia do seu salário. Grandes fornecedores da Chesf, doaram telhas, madeira.
Alguns funcionários, disse Bret Cerqueira em entrevista ao Professor Galdino, como o próprio Bret Cerqueira e familiares, D. Marieta Ferraz, esposa do Diretor Técnico Otávio Marcondes Ferraz faziam shows musicais no Clube Paulo Afonso para arrecadar fundos para a construção do Ginásio Paulo Afonso.
Horácio Campelo, conhecido como Doquinha, organizava e encenava peças de teatro com o mesmo objetivo.
Engenheiro Bret Cerqueira, professor de Matemática, sua esposa Neyde Cerqueira, professora de Português e diretora do Ginásio Paulo Afonso e o Ginásio em julho de 1952
Disse Bret Cerqueira sobre esses feitos:
“Eram shows de música, teatro, onde eu, Bret, cantava, minha irmã, Hebe, cantava, a irmã dela, Alma esposa de Muccini, tocava acordeon e D. Marieta Ferraz, esposa de Dr. Marcondes Ferraz, diretor técnico da Chesf, tocava piano. Os ingressos eram vendidos aos empregados e até na feira livre. Na Sala dos Visitantes foi criada uma “Caixinha” para que todos os visitantes contribuíssem para esse fim. Cada diretor da Chesf doou um dia de salário e 1.000 tijolos. Cada funcionário também doou um dia de trabalho.”
Ginásio Paulo Afonso - GPA: Como nasceu. Os primeiros tempos
Sobre o Ginásio Paulo Afonso, o Sr. Enoch Pimentel Tourinho, anos depois formou-se em História, em Salvador e foi professor e diretor do Ginásio Paulo Afonso nos anos de 1962 a 1965 e deixou no GPA a Canção do Marinheiro, o Cisne Branco, hino da Marinha Brasileira como hino do Ginásio Paulo Afonso – GPA/COLEPA, deixou, de próprio punho, em 28/08/1982, essas anotações:
“25 de julho de 1949 - Surge a ideia de criação do Ginásio por ocasião da 1ª missa em louvor de São Cristóvão, Patrono dos Motoristas, em solenidade na Vila Alves de Souza, presidida por D. José Alves Trindade, Bispo Diocesano de Bonfim”.
“Solicitação ao Presidente Dutra - Em outubro de 1949, dirigimos um forte apelo ao presidente Dutra no sentido de conseguir os meios para a construção do Ginásio. Na ocasião, sob intensas ovações, recebemos promessa de estudar o caso com carinho. Infelizmente o resultado foi negativo. Em vista desse resultado apelamos para os servidores da Chesf, com pleno êxito”.
1950 – Construção - O ano de 1950 foi dedicado à construção com total apoio de funcionários, operários, classes liberais, diretores da Chesf, comerciantes de Fátima e pessoas outras como Antônio Carlos de Menezes e Adelmar da Costa Carvalho. O primeiro, doador das telhas – CR$150.000,00 (cento e cinquenta mil cruzeiros) e o segundo, todo o madeirame e esquadrias em geral”.
“A Fundação - A fundação é de 1949 – 15 de novembro – quando colocamos a pedra fundamental em solenidade presidida pelo presidente e demais diretores da Chesf e várias representações”.
“Inauguração – 5 de Março de 1951 entrou em funcionamento com 6 ou 7 alunos. Esta turma, em Março de 52, veio dar continuidade aos estudos em Salvador, no Ginásio Ipiranga, do Prof. Isaías Alves que gentilmente, atendendo pedidos, recebeu a turma no internato. Aí temos a razão porque os primeiros concluintes datam de 55. Em 52, ficaria oneroso manter uma turma com poucos alunos, 6 ou 7. 28/08/82”. (assinatura rubricada).
Documento de próprio punho do Prof. Enoch Pimentel Tourinho sobre a construção do Ginásio Paulo Afonso
Antônio Carlos de Menezes, citado nesse documento de Enoch Pimentel era, na época, o proprietário da Companhia Agro Fabril Mercantil, a Fábrica da Pedra, construída por Delmiro Gouveia em 1913 na Vila da Pedra, hoje cidade sede do município de Delmiro Gouveia.
Adelmar da Costa Carvalho era um grande fornecedor de madeira para as obras da Chesf – Barragem Delmiro Gouveia, Acampamento e Usina de Paulo Afonso.
Primeiros alunos do Ginásio Paulo Afonso, entre eles Tâmara Iwanow (russa?)
Sobre a primeira turma de alunos desse GPA, que em 1979 passou a ser, oficialmente, o COLEPA, diz Luiz Fernando Motta Nascimento, pioneiro de Forquilha desde 1946 e concluinte do GPA em 1958:
“O GPA – Ginásio Paulo Afonso - foi inaugurado em 5 de março de 1951 com cerca de seis a sete alunos. Em março de 1952 alguns destes alunos vieram dar continuidade aos seus estudos em Salvador no Ginásio Ypiranga, situado na Rua do Sodré, 43, próximo ao Largo Dois de Julho.
Tendo em vista a pequena quantidade de alunos, Pimentel conseguiu com o Professor Anísio Spínola Teixeira, que havia sido Secretário de Educação da Bahia no Governo de Octávio Mangabeira, para virem estudar no Colégio Ypiranga.
Na realidade, nesta época (1952), o Ginásio Ypiranga já havia se transformado em Colégio através do Decreto 11.754 de 2 de março de 1943. Nele havia um internato.
Em 1952, Anísio Teixeira assume o cargo de diretor do INEP – Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos, permanecendo no cargo até o ano de 1964.
O antigo Ginásio Ypiranga é um imóvel conhecido como Solar do Sodré do Século XVII. O local serviu de residência para o poeta Castro Alves (1847- 1871) em seus últimos anos de vida e já abrigou outras instituições de ensino ao longo de sua história.
Um dos alunos ilustres deste Ginásio foi o escritor Jorge Amado”.
No último dia do ano de 1953, o Presidente da Chesf, Antônio José Alves de Souza, respondendo a uma carta/relatório da Diretora do GPA. Idalina Castro Wood, escreveu, destacando também o trabalho voluntário dos empregados chesfianos que se tornaram os primeiros professores do Ginásio:
“O que aconteceu com o nosso Ginásio é um exemplo eloquente do que pode realizar o sentimento de solidariedade humana, o sentimento de dedicação ao próximo, quando ele é praticado pelo que tem de belo e útil em si mesmo. Um grupo de idealistas, sob vossa competente e eficiente direção, tomou a si, espontaneamente, o compromisso de, sem nenhum interesse material, tão somente guiado pelo desejo de servir à juventude da região, ministrar ensino secundário no Ginásio Paulo Afonso, que um outro grupo de idealistas conseguiu criar.”
“Eles têm, no esforço realizado por vós e vossos colaboradores nesses dois últimos anos, um exemplo edificante de atitudes e ações que frutificam, uma esteira luminosa mostrando nitidamente um caminho certo a seguir.
Que eles o sigam, são os meus votos, e que, assim, possam realizar completamente a alta missão que iniciastes vencendo enormes dificuldades e que contou com as bênçãos de DEUS – a de fomentar o desenvolvimento cultural da gente do sertão Nordestino.”
Antônio José Alves de Souza,
Rio de Janeiro/RJ., 31/12/1953
O Ginásio/GPA-Colégio Paulo Afonso/ COLEPA funcionou até o dia 31 de dezembro do ano 2000. Suas atividades foram encerradas porque, por decisão do presidente da República, Fernando Collor de Mello, depois mantida e ampliada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, a Chesf, como todas as empresas estatais do país deveriam cuidar apenas da função para a qual foi criada. No caso da Chesf, apenas para “gerar, transmitir e comercializar energia hidroelétrica”.
Isso fez com que a Chesf de desfizesse do Zoológico, Cooperativa, Padaria, Clubes Sociais, Escolas e mais recentemente do Hospital Nair Alves de Souza.
O Colégio Paulo Afonso foi considerado pelo Conselho Estadual de Educação da Bahia modelo de educação de excelência no Nordeste.
Nesses 50 anos de vida o GPA/COLEPA teve os seguintes diretores:
Antonieta Morais (1951/1952), Idalina Castro Wood (1952/1954), Neyde Cerqueira Lima (1955/1961), Enoch Pimentel Tourinho (1962/1965), Fausto Figueiredo Leal da Silveira (1966/1971), Antônio Rodrigues (1972), Manoel Carlos Formigli Souza (1973 e 1978/1991), Severino Alves de Oliveira Lima (Vice-diretor – 1978/1984), Ivus Conde Ideburque Leal (1991), Maria Inez Brito (1991/1992), Vilma Bagdeve de Oliveira (1993/1994), Olga Muniz Damasceno (1995/1997) e Nancy E. Coelho Costa Santos (1997/2000).
Por Antônio Galdino da Silva
Do livro de sua autoria “Os caminhos da Educação, de Forquilha a Paulo Afonso – Escolas da Chesf e de Paulo Afonso” – Editora Oxente, 2021
Galdino, caro confrade, você escreve para a posteridade, aliás, você é a memória viva da nossa história. Obrigado por esse presente.
Como é bom ver essas matérias que nos trás nostalgia e o sentimento nobre de orgulho pela nossa cidade ! Amém!
Muito obrigado a Cezar Tourinho, Marcos Antônio Lima, Maria Verônica Carneiro, Maria Aparecida, Manoel Rozendo Filho e Sílvia Tourinho. Estas são lembranças de um tempo que marcou muito na vida de cada um de nós que por ali passamos, como alunos ou como professores. No meu caso, as duas coisas. Muitas lembranças boas de muitos momentos e também do Professor Enoch Pimentel Tourinho e seu terno de linho branco, emocionado quando o Ginásio Paulo Afonso, com a Banda Marcial à frente, descia pela Rua das Caraibeiras levando os pelotões de alunos para os desfiles cívicos da cidade... Inesquecível!
Linda linda matéria. Parabéns Prof GaldinoMto orgulho e saudade eterna!!
Eu não tenho palavras para agradecer ao Professor Galdino esta sua dedicaçao e esforço de manter viva estes registros de suma importância como muitos outros a respeito da nossa querida Paulo Afonso BA.O Colepa foi uns dos maiores feitos quantos profissionais hoje sào gratos por ter recebido os ensinamentos naquele monumental estabelecimento de ensino.Meu amigo Galdino Deus abençoe sua memória e este acervo da Folha Sertaneja .Queria poder lhe prestigiar pelo seu empenho e sacrifício de manter seu Jornal .Mais uma coisa eu posso pedir ao Bom Deus que lhe der Paz e saúde e força para ir vencendo os desafios .
Parabéns prof.Antônio Galdino,excelente matéria!Obrigada por dividir conosco, esse conhecimento histórico, através do jornal Folha Sertaneja.
Parabéns pela matéria, Galdino!Quantos desafios! Quantas histórias!…Tenho muito orgulho e sou grata a Deus e a todos os diretores, professores, colegas e amigos por ter estudado em tão exemplar instituição de ensino! Viva nosso GPA/Colepa! 👏🏻👏🏻🙌🏻🙌🏻🥰🥰
Excelente matéria. Parabéns, Prof.° Galdino,Parabéns, ao Folha por manter acessa a chama da história Pauloafonsina.
Excelente matéria, está de parabéns