No período de 24 a 27 de março de 2022, Paulo Afonso sedia, pela primeira vez desde a sua criação em setembro de 2009, o evento Cariri Cangaço, idealizado pelo cearense Manoel Severo, depois que participou em Paulo Afonso do 1º Seminário Internacional do Centenário de Maria Bonita, organizado pelo Departamento Municipal de Turismo de Paulo Afonso que era então dirigido pelo Professor Antônio Galdino e tinha como coordenador cultural o escritor e historiador João de Sousa Lima.
O auditório da Escola Vereador João Bosco Ribeiro foi o cenário para a abertura do evento Cariri Cangaço que se realiza em Paulo Afonso pela primeira vez.
Criado em 2009 e já realizado em 17 cidades nordestinas, em algumas com várias edições, como em Piranhas quando acontecerá em julho deste ano a 5ª edição, esse primeiro Cariri Cangaço realizado em Paulo Afonso contou com a presença do Prefeito Luiz de Deus, do Secretário de Cultura, Dernival Oliveira Jr. e outros secretários do município.
Segundo informa a Ascom da Prefeitura, a solenidade de abertura contou com a presença de “cerca de 300 pesquisadores de 17 estados”.
A solenidade foi presidida pelo criador e Curador do Cariri Cangaço, Manoel Severo e homenageou pessoas e instituições do município. Entre os homenageados da noite estavam o jornal Folha Sertaneja e a Academia de Letras de Paulo Afonso, sendo a comenda da ALPA entregue à sua presidente, poetisa Maria Gorette Moreira.
A organização do evento em Paulo Afonso ficou sob os cuidados do escritor pauloafonsino João de Souza Lima que é um dos conselheiros desse fórum cultural.
Maria Bonita no cenário do cangaço em Paulo Afonso-Bahia
Na região de Paulo Afonso, embora tenha havido embates entre policiais e cangaceiros e até a morte de Ezequiel Ferreira um irmão de Lampião no combate da Lagoa do Mel, o foco, mais ameno, tem se voltado para a figura de Maria Bonita, moradora da região.
No ano de 2006, a Casa onde morou Maria Bonita estava quase no chão e foi restaurada na gestão do Prefeito Raimundo Caires Rocha, quando o Secretário de Turismo do município era o ex-prefeito José Ivaldo de Brito Ferreira e o coordenador desse trabalho foi o economista e turismólogo Luiz Ruben Alcântara Bonfim, outro grande pesquisador do tema cangaço, com mais de 15 livros publicados sobre esse tema.
A Casa de Maria Bonita, hoje Museu, é o principal roteiro turístico do cangaço em Paulo Afonso e teve a proposta de tombamento histórico, de autoria do vereador Marconi Daniel, aprovada em dezembro de 2021 pela Câmara Municipal de Paulo Afonso. O espaço também tem sido o cenário para muitos documentários e reportagens da TV, sites, blogs e WebsTV e de muitos deles tem participado o escritor João de Sousa Lima.
Ainda antes da ação do Prefeito Caires, o prefeito de Paulo Afonso, Paulo Barbosa de Deus, ao inaugurar a Praça das Mangueiras, no Centro de Paulo Afonso, em 16 de dezembro de 2000, mandou instalar ali uma grande estátua de pedra de Maria Bonita.
Maria Bonita em nós, em 2011
Ainda considerando-se que o aniversário de Maria Bonita era em 8 de março, o Padre Celso da Anunciação e Neusa Batista organizaram no período de 5 a 8 de maio de 2011, a exposição ‘Maria Bonita em Nós’.
Intitulada "Criação" a exposição foi realizada no pavilhão das artes montado em frente ao Memorial Chesf. O espaço foi escolhido para expor a cultura do sertão nordestino representada por fotos e materiais artesanais disponíveis para visualização do público.
O evento contou com a participação de Frederico Pernambucano de Mello e uma apresentação do Cantor Raimundo Sodré.
Sobre essa personagem do cangaço, João de Sousa Lima escreveu, em 2005, o livro de pouco mais de 100 páginas A trajetória guerreira de Maria Bonita a Rainha do cangaço. (Editora Fonte Viva, Paulo Afonso/BA, 2005). Em março de 2022, este escritor lança o livro Maria Bonita - A Rainha do Cangaço – Sua Biografia, uma produção de 268 páginas.
O Cangaço no folclore. Os Cangaceiros de Paulo Afonso
Em Paulo Afonso o folclore inspirado no cangaço fez nascer Os Cangaceiros de Paulo Afonso como escreveu João de Sousa Lima no Jornal Folha Sertaneja de janeiro de 2016:
“No dia 02 de fevereiro de 1956, o Grupo Os Cangaceiros de Paulo Afonso, fundado pelo escafandrista da CHESF, Guilherme Luiz dos Santos que passou a ser o Lampião e seus amigos ganharam os respectivos apelidos oriundos dos seguidores reais de Lampião: Zé Vieira passou a ser o “Corisco”, Francisco Joaquim era o “Salamanta”, Nelson Ferreira o “Zabelé” (sanfoneiro), Antonio era o “Cascavel” (Zabumbeiro), Tinino era o “Meia-Noite” (trianguista), Luiz era o “Cobra Verde”, Jaime o “Jararaca” Paulo da Ema o “Moita Braba”, José Duque o “Topa Tudo”, Bedé era o “Canário”, Mário Praxedes “Ângelo Roque”, Zé de Abílio o “Zé Baiano”, João Pescador o “Relâmpago”, Marcelino o “Luiz Pedro”, Damião o “Volta Seca”, Expedito o “Rouxinol”, Zé Vicente o “Gavião”, Joãozinho o “Pega no Grito”, Luizão era o Azulão”, Mané Criança o “Arvoredo”, além de Antônio de Graça e Zé Ribeiro.
Um fato curioso foi que faltando a personagem principal pra ser a Maria Bonita para completar o bando, não encontrando nenhuma mulher que quisesse participar do bando, estenderam o convite a um dos homens e coube ao senhor Agenor essa façanha de se transvestir na Rainha do Cangaço”.
Escritores de Paulo Afonso e livros e publicações sobre o cangaço
Em Paulo Afonso vários escritores, muitos deles membros da Academia de Letras de Paulo Afonso, têm escrito livros sobre os personagens do cangaço. Só os paulafonsinos escreveram 30 livros sobre esse tema.
Edson Barreto e Antônio Galdino não têm livros específicos sobre o tema mas têm discorrido sobre ele em outras publicações. Os dois participaram do livro Diferentes contextos que envolvem a vida da Rainha do Cangaço, Edson Barreto fez a apresentação do livro Lampião em Paulo Afonso, de João de Sousa Lima e Antônio Galdino produziu o caderno especial do jornal Folha Sertaneja sobre o Centenário de Maria Bonita.
Gilmar Teixeira publicou em 2015 o livro Piranhas no tempo do Cangaço.
Marcos Edilson Clemente apresentou aos paulofonsinos, durante o Seminário de Maria Bonita realizado no auditório da Universidade do Estado da Bahia, em 2010, o livro Lampiões Acesos – o cangaço na memória coletiva, um estudo de 220 páginas, publicado em 2009 e anos depois, em 2015, lançou O Cangaço – poder e cultura política no tempo de Lampião, um compêndio de mais de 350 páginas, com aval da Fundação Joaquim Nabuco.
João de Sousa Lima lançou 8 livros e uma cartilha sobre o tema cangaço.
Lampião em Paulo Afonso – 1ª edição 2003; 2ª edição 2013
A trajetória guerreira de Maria Bonita – A Rainha do Cangaço – 2005
Memorial Casa de Maria Bonita, s/d (cartilha)
Moreno e Durvinha – Sangue, amor e fuga no cangaço – 2007
Maria Bonita – Diferentes Contextos que envolvem a vida da Rainha do Cangaço (org. com Juracy Marques) – 2010
Lampião O Cangaceiro – 2015
Mulheres Cangaceiras – “A essência feminina como questão de gênero” - 2017
Terra de Brava Gente – “Resquícios de Histórias Cangaceiras” – 2020
Maria Bonita – Rainha do Cangaço – Sua Biografia - 2022
Luiz Ruben Alcântara Bonfim já escreveu e lançou 15 livros sobre o tema cangaço e está com um (1) no prelo. Só no ano de 2021, em plena pandemia, a intensa pesquisa de Luiz Ruben levou à publicação de três livros e um outro foi começado com previsão de lançamento neste ano de 2022.
1) - Lampião e a Maria Fumaça, coautoria de Antônio Amaury Corrêa de Araújo 1ª edição 2003 e 2ª edição - 2013
2) - Lampião e os Governadores - 2005
3) - Lampião e os Interventores - 2007
4) - Lampião e as Cabeças Cortadas, coautoria de Antônio Amaury Corrêa de Araújo - 2008
5) - Notícias sobre a Morte de Lampião - 2010
6) - Lampião Conquista a Bahia - 2011
7) - Como Capturar Lampião - 2013
8) - Fim do Cangaço: As Entregas - 2015
9) - Charges com Lampião – 2015
10) - Lampeão Antes de ser Capitão – 2016
11) - Lampião em 1926 – 2017
12) - Lampião em 1927 A Marcha dos Bandidos – 2019
13) - Lampião e seus Cangaceiros 1920 a 1940 - Caderno de Anotações – 2021
14) - Lampião e a Revolução de 1930 – em 2021
15) - Lampião em 1931 – O Imperador dos Sertões – 2021
NO PRELO:
- Lampião em 1932 – O Terror dos Sertões
Rubervânio Lima publicou em 2013 o livro Lampião, Cangaço e Cordel.
Voldi Moura Ribeiro, que nos deixou em 20 de janeiro de 2021, produziu o livro Lampião e o nascimento de Maria Bonita trazendo luz sobre a real data de nascimento de Maria Bonita, que, segundo este autor em grande documentação apresentada neste livro, dentre ela uma certidão emitida pelo Padre José Ramos Neves, pároco da Paróquia de Jeremoabo, Diocese de Paulo Afonso, comprovando que Maria Gomes, a Maria do Capitão, Maria Bonita, nasceu em 17 de janeiro de 2010 e não em 8 de março de 2011 como era divulgado até então. (Pág. 95).
O lendário LAMPIÃO, Pernambucano de Serra Talhada, fez história, especialmente em nossos rincões. O assunto tem sido tratado por muitos estudiosos, a exemplo de João de Souza. Deixo aqui meu abraço aos organizadores do evento, que tanto nos enriquece.