Há sempre uma agradável sensação de alegria, de bem estar, quando os olhos se deparam, do alto do mirante com o casario colorido da cidade de Piranhas, no Estado de Alagoas, banhada e protegida pelas águas caudalosas do rio São Francisco, o santo padroeiro do município.
Embora Piranhas tenha sido fundada como cidade, de papel passado, em 1887, há 135 anos, e celebre o seu aniversário em 3 de junho, dia também dedicado à luta em defesa do rio São Francisco, a intensa caminhada de vida desse lugar começou muito antes.
O seu povo simples teve a honra de receber, ainda nos idos daquele século 18, mas exatos 28 anos antes de sua emancipação, sua Majestade, o Imperador D. Pedro II que, em 20 de outubro de 1859, empolgado com os relatos do Engenheiro Halfeld sobre o rio São Francisco e a Cachoeira de Paulo Afonso, decidiu sair da corte, no Rio de Janeiro e com grande comitiva, subiu o rio até Piranhas, aportou suas embarcações nesse lugar e dali seguiu a cavalo, até às quedas d`água desta Cachoeira onde contemplativo, como registrou no seu diário, “lhe fez apenas desenhos imperfeitos”...
Mas, o carinho do povo de Piranhas pelo Imperador trouxe benefícios para eles e para a região anos depois, quando D. Pedro II mandou construir a Estrada de Ferro Paulo Afonso, também conhecida como Estrada de Ferro Piranhas/Jatobá, e Piranhas foi o seu ponto inicial.
Sobre essa estrada de ferro, Luiz Ruben, economista, turismólogo e pesquisador da história do Nordeste e acadêmico da ALPA, já escreveu dois livros, onde ele descreve essa construção por etapas, tendo sido os primeiros 28 quilômetros abertos ao tráfego provisório em 25 de fevereiro de 1981 e em 10 de julho de 1982, 54 quilômetros foram entregues ao tráfego público. As demais estações foram sendo entregues, até a última, o terminal de Jatobá, no seu quilômetro 116, em 2 de agosto de 1883.
Saía de Piranhas a Maria Fumaça e seus muitos vagões levando gente e mercadorias, beirando o rio e subindo até chegar à Estação de Jatobá – Km.116, que depois se chamou Petrolândia, também centenária, promovendo o progresso da região,
Sua bela estação central em Piranhas, ainda vigorosa e imponente no cenário da cidade, é o marco importante dessa história, ela, própria, a história preservada.
Piranhas também guarda a triste memória da passagem dos cangaceiros de Lampião por suas terras, vivos, assustando a todos e depois, foi o museu involuntário e temporário, da exposição das cabeças cortadas desses cangaceiros que assustaram os sertões por muitos anos, justo no prédio que abrigou o Imperador.
É também do ancoradouro desta cidade presépio que saem os barcos, os catamarãs refazendo o mesmo caminho de bandoleiros e de policiais até o local por onde, menos de um quilômetro à frente, se chega à Grota do Angico, já no município de Poço Redondo/SE, onde foram mortos Lampião, Maria Bonita e outros do seu bando...
Estive muitas vezes nessa agradável cidade ribeirinha do São Francisco. Já tomei muito banho em sua praia e provei das peixadas dos restaurantes na beira do rio.
Em uma das muitas vezes que estive na bela Piranhas, anos atrás, a convite da prefeita da época, acompanhei os preparativos, num retumbante evento político regional que reuniu muitos prefeitos e outros políticos estaduais e federais para se apresentar a locomotiva Maria Fumaça, o embrião de um projeto, sonho de todos da região, da reconstrução de um trecho da Estrada de Ferro, na época anunciada com apenas 12 quilômetros, para fins turísticos.
Que beleza!
Mas, no correr do tempo, o sonho se desfez ou adormeceu, ou o projeto descarrilhou, e o trem tão esperado ainda não partiu de novo da Estação pioneira de Piranhas...
Que pena!
Se parece ter morrido o projeto daqueles tempos, sua ideia, não! Ainda hoje se espera que haja uma retomada, que se possa ter mais essa opção para o crescimento do turismo regional. E que não sejam apenas os 12 quilômetros anunciados anos atrás. Que os trilhos se estendam mais além, muito mais, até à Cachoeira de Paulo Afonso, já em terras delmirenses, para que todos possam ver a beleza do cânion, os paredões de granito dessa Cachoeira e, quando o mesmo rio São Francisco que banha Piranhas e a região receber muitas águas, ah, retornarão também as muitas águas das cachoeiras para deleite de todos...
Sobre esse trem, muito tem falado o cronista, professor Francisco Nery, também um sonhador dessas paisagens sertanejas.
Todo o município de Piranhas tem uma população de pouco mais de 25 mil habitantes espalhados por seu território. Na cidade sede do município, pelos dados do mapeamento cultural de 2009, a maioria dos seus moradores, cerca de 3/4 deles, vivia na zona rural mas, os dados do IBGE mais recentes estimam que cerca da metade da população está na zona urbana. Seus moradores se distribuem na sede e pelo Sertão a dentro por Entremontes e suas maravilhosas mulheres rendeiras e bordadeiras, por Cascavel e Piau, e outros povoados.
Homens e mulheres, como em Alagoas e como no Brasil, estão mais ou menos meio a meio, como um pouquinho mais de mulheres que homens. A cidade traz no primor do casario colonial e colorido de suas casas e no sorriso dos seus moradores, a essência da beleza sertaneja e nordestina que tem, por séculos, antes até e desde o Imperador, encantado aos muitos visitantes.
Parabéns para a bela Piranhas, cujo município é abraçado por Inhapi, ao norte e pelo Estado de Sergipe, ao sul. Os municípios de São José da Tapera e Pão de Açúcar abraçam Piranhas pelo leste, Olho d`Água do Casado é o seu vizinho a oeste e ao nordeste, faz divisa com o município de Rui Palmeira, suas fronteiras.
Um mapeamento cultural das cidades históricas de Alagoas feito em 2009 onde apresenta Marechal Deodoro, Penedo e Piranhas, assegura que “a valorização turística de Piranhas tornou-se ainda mais constante após o processo de tombamento, com especial destaque à paisagem do rio São Francisco no município, a Vila de Entremontes e o Centro Histórico da sede do município. Por ocasião da formalização da proposta de tombamento, seus proponentes enfatizaram a importância de suprir duas deficiências dos acervos patrimoniais do nosso país: a ocupação humana dos sertões e a sua modernização. Piranhas representa essas duas faces da vida brasileira” (Pag, 58).
Um dos muitos apaixonados por esse lugar, o arquiteto Álvaro Moreira, que trabalhou intensamente no processo de valorização desse riquíssimo patrimônio quando atuava na Chesf e hoje continua entre os que defendem esse tesouro, acolhido pela cidade, é o presidente da Academia Piranhense de Letras e Artes e acarinha essa pérola sertaneja com esse texto.
Piranhas - 135 anos
Tua face banhada d'água doce franciscana
Donde se banham
Donde se comem
Donde se divertem
Dos Altos da serra deslizam-se ao banho de esmeraldas
Molham-se entre piabas
Onde surubins se escondem nas profundezas e
pitus nas rochas difíceis de agora se encontrar
Outrora pilombetas beiradeiras de entradas nas panelas com farinha a se pescar
Piranhas
Da musicalidade no ar
Entre serras revestidas
de camadas finas de solos triturados diluídos pelo tempo
Com exuberância da caatinga
Há sombras de pereiros e catingueiras pra se refrescar
És força e resistência
entre espinhosos cactos
Formosa como mandacaru em flora
És luz
És água,
És Rocha
És caatinga
És vida
És fé,
És labuta
És Letras
És Artes
És APLA
É vida que chega
É vida que vai
É história
É saudade
Ah Piranhas
Tem-se que se encurvar diante de tamanha beleza
entre casario
contos e causos
Há de se embriagar diante de tamanha paisagem de contrastes
Há de se gozar de uma vida sem par
Ah Piranhas
Tens um trigo de encanto
Maleável
Que não se mistura ao joio da rigidez
És única com Inconfundíveis encantos
Da magia ao calor
És sol ardente
Entre veias de ruas que circulam gente
Gente de todas as partes
Alguns aderentes
Gente que vem
Gente que vai
Com musicalidade nas mentes
Tá na cena
Tá no Ar
Perseverante
Crente
Confiante e
Amante
Álvaro Moreira
Presidente APLA
Academia Piranhense de Letras e Artes
Que lugar belo e de muita história. Parabéns ao altaneiro povo de PIRANHAS.Será meu próximo destino de viagens
Minha amada cidade Natal, minha inesquecível Piranhas, da minha infância, do subir e descer ladeiras, das brincadeiras no Velho Chico, do Grupo Escolar Manoel Porfírio, do Mirante Secular, da Igreja de Nossa Senhora da Saúde nossa Excelsa Padroeira, da igrejinha do Bonfim e igrejinha do Um, dos mergulhos no Pontão e Santo, da ilha das Cobras e da sua gente hospitaleira. Parabéns torrão amado. Adorei a matéria nobre Antônio Galdino. Você retrata o nosso centenário município de forma brilhante. Ginaldo dos Santos (membro efetivo da APLA)
Reportagem Fantástica!! Eu tenho orgulho de ser filha da minha amada Lapinha. Parabéns Piranhas!!!
Maravilha de reportagem, aqui do Rio de Janeiro vejos os caminhos por mim recorrido. Através das reportagens da Folha Sertaneja, volto a Paulo e cidades circunvizinhas nos meus pensamentos,também vejo o progresso de Paulo Afonso e mais, revejo no bojo da Folha Sertaneja fotos e notícias de velhos companheiros chesfianos.