Em 15 de maio deste ano escrevi e publiquei nesse site uma matéria em que fazia a defesa dos valores nordestinos e reclamava da invasão de outros valores, de outras regiões e até fora do contexto sertanejo, nordestino dessa época de festejos juninos.
Eu falava da Orquestra Sanfônica de Serrinha que reúne músicos de todas as idades mantendo vivas as tradições sertanejas assim como também faz há um bom tempo a Orquestra Sanfônica de Aracaju que já se apresentou em Paulo Afonso.
O artigo que fiz, esse grito na defesa destas raízes sertanejas, teve 515 visualizações e sete pessoas decidiram comentar o assunto, todos com opiniões concordantes com o autor.
Quem quiser ver ou rever o artigo, é só clicar no link abaixo e vai direto para a matéria do site:
https://www.folhasertaneja.com.br/noticias/colunistas/627547/1
A pandemia deu um pequeno alívio e as festas juninas espocaram em todos os rincões sertanejos. Manteve-se em alta a alegre e festiva disputa de quem faz o maior São João, se Campina Grande, na Paraíba ou Caruaru, em Pernambuco e no meio do campo, entre elas, centenas de outras cidades trataram de se vestir com as cores, a alegria, em suas ruas, nas roupas de festa dos moradores.
É São João!
A voz desse sertanejo de Zabelê, na Paraíba, morador de Paulo Afonso, na Bahia há mais de 67 anos parecia uma pregação no deserto... soava como eco, batendo nas paredes do cânion do rio São Francisco e voltando...
Mas não é que, de repente, recebo aqui, no meu WhatsApp, outro grito, esse bem mais forte e mais bonito e de repercussão bem maior. A Dra. Mariana Teles, advogada, sertaneja, filha do grande poeta repentista Valdir Teles, de São José do Egito, a terra dos cantadores. Mariana Teles, herdou do pai a poesia magistral e nesses tempos de misturas que não se explicam com a autêntica cultura do Nordeste, ergueu a sua voz poderosa e bradou aos quatro ventos, Devolva o meu São João.
Peço licença à grande poetisa para republicar aqui o seu grito, ao tempo em que aplaudo, não só a beleza da construção poética, mas também a coragem da sertaneja de brigar e defender essas raízes culturais que alguns, muitos até, por razões desconhecidas ou não sabidas, teimam em misturar isso que é tão nosso, tão nordestino, com modões, axé e até música religiosa.
Concordo com ela. Não se tem nada contra o jeito, o ritmo, o som de ninguém, mas como já dizia o sempre imortal Patativa do Assaré em um poema que dá título a um livro, CANTE LÁ, QUE EU CANTO CÁ, poema que começa assim:
“Poeta, cantô de rua,
Que na cidade nasceu,
Cante a cidade que é sua
Que eu canto o sertão que é meu.
Esse último verso também me levou para Rogaciano Leite que no seu poema Aos Críticos se refere aos grandes poetas e se apresenta como sertanejo que se orgulha do seu Sertão.
... Eles cantam suas praias
Palácios de porcelana
Eu canto a roça, a choupana
Canto o sertão que ele é meu...
É lindo ver nos sertanejos esse orgulho de pertencimento...
E, depois de contar a história da vida e das coisas do sertão, o cearense Patativa do Assaré conclui assim o seu poema Cante lá que eu canto cá, com um recadinho que bem se ajusta a essa nossa prosa e aos versos de Mariana Teles:
Aqui findo esta verdade
Toda cheia de razão:
Fique na sua cidade
Que eu fico no meu sertão.
Já lhe mostrei um ispeio,
Já lhe dei grande conseio
Que você deve tomá.
Por favor, não mexa aqui,
Que eu também não mexo aí,
Cante lá que eu canto cá.
Foi isso também o que nos disse Mariana Teles sobre o nosso São João.
Aplausos procê, menina!
Devolva o meu São João
Por Mariana Teles*
Não é contra o sertanejo,
Maiara nem Maraísa
Mas no São João precisa
Tocar "lembrança de um beijo",
É contra a máfia que eu vejo
Ganhando licitação,
Usurpando a tradição,
Vendendo a identidade
Pelo forró de verdade,
"Devolva meu São João"
Imaginem Salvador
Pátria do axé brasileiro,
Colocando um violeiro
Num trio do parador,
Leo Santana e um cantador
Dividindo a percussão
Vila Nova num cordão,
Sem tocar mais Preta Gil
Pelos ritmos do Brasil,
"Devolva meu São João"
Cultura é identidade!
É patrimônio de um povo,
E nenhum sucesso novo
Compra originalidade.
Não discuto a qualidade
Mas discuto a tradição,
Quem quiser ouvir modão,
Ou a Festa da Patroa,
Vá pra terra da garoa.
"Devolva meu São João"
Se quiser ouvir Marília
No mesmo tom da sofrência,
É comprar com antecedência
Villa Mix de Brasília...
Mas no São João tem família,
Que não desce até o chão
Vai pra ouvir Assisão,
Forró sem som de "breguismo"
Não dê lucro pra o modismo.
"Devolva meu São João"
Pela pátria nordestina!
Pelas nossas tradições!
Vamos romper os cordões
De camarote em Campina,
São João é na concertina,
Não se divide em cordão
Para quê segregação
Numa festa popular?
Ninguém pode separar!
"Devolva meu São João"
E as próximas gerações,
O que irão conhecer?
Irão "curtir e beber"
Como ensina esses modões?
Que será das tradições,
Com o som de apelação?!
De Wesley Safadão
Que o forró não promove
É brega noventa e nove...
Só um por cento é São João
*Poetisa e advogada. É filha do repentista Valdir Teles, de São José do Egito
Muito oportuna a matéria e os versos, espero que este grito seja ouvido e finalmente os gestores entendam e devolvam nosso São João. Parabéns. Abraços apertados!