Está no Programa de Paulo Dantas, candidato a governador de Alagoas, a reativação de trecho da Estrada de Ferro Paulo Afonso ou Estrada de Ferro Piranhas/Jatobá, para fins turísticos, até Delmiro Gouveia por um custo estimado em 71 milhões de reais. O projeto é apresentado como uma ação do Governo Federal, através do Ministério da Cidadania, com a participação do IPHAN.
Queremos mais: porque não estender esses trilhos até à Cachoeira de Paulo Afonso, ainda território alagoano, do município de Delmiro Gouveia?
Se associado a outro projeto que ligaria Piranhas a Penedo e Piaçabuçu com embarcações pelo rio São Francisco, estaria novamente se reativando a Rota do Imperador, por ele percorrida em outubro de 1859 e que em 2009, nos seus 150 anos foi esse trajeto retomado, durante 3 dias e noites, numa viagem fantástica de que tive a honra e alegria de participar, a convite de Wilma Rogers, então Secretária de Turismo de Delmiro Gouveia.
Na rota original, em 1859, O Imperador D. Pedro II e grande comitiva fizeram o trajeto Piaçabuçu/AL-Piranhas/AL, em embarcações e de Piranhas até a Cachoeira de Paulo Afonso, a cavalo. Com a reconstrução da Estrada de Ferro, esse último trecho seria feito de trem.
Acima, o trineto do Imperador D. Pedro II, João Henrique de Orleans e Bragança e o governador de Alagoas, Teotônio Vilela cortam a fita do marco da viagem do Imperador em 1859, em Piaçabuçu-AL. Abaixo, a chegada das embarcações em Penedo/AL, em sua rota até Piranhas/AL.
Sobre a reativação de um trecho desta Estrada de Ferro Paulo Afonso, também chamada de Estrada de Ferro Piranhas/Jatobá, já ouvi essa história antes. Até vi e fotografei a Maria Fumaça, toda alinhada, ainda cheirando a tinta nova, sendo cenário da linda Piranhas! Estive na festa de sua apresentação pública e ouvi e li e publiquei matérias no jornal Folha Sertaneja sobre esse grande acontecimento. Que não deu os frutos anunciados. Na verdade, nem vingou...
Mas quero acreditar que agora vai dar certo! E até peço que reavaliem a possibilidade desse trem chegar até à Cachoeira de Paulo Afonso...
Não sou eleitor do Estado de Alagoas, nem filiado a nenhum partido político brasileiro porque entendo que é homem ou a mulher, não a sigla partidária que os acolheu politicamente, que faz a história.
Sou um apaixonado pelas belezas desta região dos Lagos do São Francisco e sou estabelecido em Paulo Afonso desde 1954, há 68 anos. Embora graduado em Letras, as belezas dessa região me levaram a fazer cursos na área do Turismo: uma pós-graduação na UNEB e um mestrado na Universidade Internacional de Lisboa/Portugal. Nestes dois cursos, o tema da minha dissertação foi: Turismo e Desenvolvimento Sustentável em Paulo Afonso e Região dos Lagos do São Francisco, ainda não publicados, mas em projeto para isso, um dia.
Os que me conhecem sabem que não é de meu feitio, falar de mim mesmo. Mas, para tratar desse assunto, achei oportuno fazer essa brevíssima apresentação.
Assim, sem qualquer ideologia associada a partidos políticos, de ontem e de hoje, sinto-me muito à vontade para falar deste cenário regional e dele fazer uma breve retrospectiva que considero importante para chegar ao nosso ponto atual que me deixa muito animado: a anunciada proposta de se “RE-IMPLANTAR ANTIGA LINHA FÉRREA ENTRE PIRANHAS E DELMIRO GOUVEIA, EM ALAGOAS, PARA DESTINO TURÍSTICO COM ENFOQUE NO RICO ACERVO DE PATRIMÔNIO CULTURAL DA REGIÃO DO SERTÃO NORDESTINO”, através da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo do Estado de Alagoas.
O projeto, aliás, quando se refere aos patrimônios cultural e natural mostra belas imagens da área da Cachoeira de Paulo Afonso e da Usina Hidrelétrica de Angiquinho.
Ao longo dos séculos da história do Brasil, tem sido assim. Cada governo, no seu tempo, procurou construir sua própria história embora, também atestado pelo tempo, os que chegam ao poder, quase sempre, levados por ideologias que se impregnaram em seu sangue, procuram abandonar projetos e programas dos governos anteriores, gerando assim descontinuidade daquilo que, sendo a eles agregados outros valores, numa visão de futuro, poderiam vir a ser a oportunidade de desenvolvimento social de grandes populações às quais essa visão de futuro estaria ofertando emprego e renda e com isso, permitido a estes continuar vivendo em sua terra natal, sem a necessidade de migrarem para sofrer em terras estranhas.
A história da região, olhada atentamente, vai mostrar um cidadão que pensou nisso quando estava se encerrando o processo de construção de grandes usinas hidrelétricas. Chama-se João Paulo Maranhão Aguiar. Um engenheiro do tempo das grandes obras da Companhia Hidrelétrica do São Francisco, cuja última usina construída na região foi a Hidrelétrica de Xingó, na divisa dos Estados de Alagoas e Sergipe, entre os municípios de Piranhas/AL e Canindé do São Francisco/SE.
Foi ele o mentor do Programa Xingó que foi criado no fim do século XX, com o objetivo de apoiar, desenvolver, incentivar iniciativas, em várias áreas do conhecimento, que levassem à geração de emprego e renda na região, pós-obras de Xingó. Poucos anos à frente, o programa, descaracterizado por outros gestores, afundou como um barco furado nas águas do São Francisco.
Foi deste senhor a iniciativa de se fazer um levantamento das potencialidades turísticas de toda a região, de Xingó a Paulo Afonso, tarefa cumprida com fidelidade pelo arquiteto Alejandro Luiz, cujo relatório levou o Engenheiro João Paulo, então assessor da presidência da Chesf, a ampliar esse estudo através de um trabalho feito sob a coordenação do SEBRAE de Pernambuco, mapeando, um a um, vinte e quatro municípios, seis em cada estado, Pernambuco, Bahia, Sergipe e Alagoas.
Este projeto foi chancelado pelo Fórum para o Desenvolvimento da Região do São Francisco, criado em 1993. De Alagoas foram estudados os municípios de Água Branca, Delmiro Gouveia, Olho D`Água do Casado, Pão de Açúcar, Pariconha e Piranhas.
A sede desse trabalho foi no SEBRAE de Pernambuco que procurou trabalhar harmonicamente com o SEBRAE dos outros estados e fincou sua base regional em Paulo Afonso. Na época, coube a mim, que atuava na assessoria da Administração Regional da Chesf neste município baiano, essa coordenação regional, o apoio na organização das equipes de pesquisa de campo, os contatos com os prefeitos dos municípios da equipe que coordenei pessoalmente, chamada Paulo Afonso I, que foram: Petrolândia, Jatobá e Tacaratu em Pernambuco, Paulo Afonso, Glória e Santa Brígida, na Bahia e Água Branca, Delmiro Gouveia e Olho D`Água do Casado.
Cada equipe tinha, além do seu coordenador, um arquiteto, um geógrafo e dois historiadores. A equipe Paulo Afonso I foi formada pelo coordenador Antônio Galdino da Silva, o arquiteto Euclides Batista Filho (in memoriam), a geógrafa Fernanda Monte, alagoana vinda de Maceió e as historiadoras Roza de Souza Goes Soares e Lanúzya Soraya G. Freire.
A equipe Paulo Afonso II, coordenada por João Ronildo Reis, cuidou de outros municípios da Bahia e Pernambuco e um terceiro grupo chamado Equipe Xingó, coordenada por João Rogério Reinaldo Maia Alves, cuidou dos municípios de Piranhas, Pariconha e Pão de Açúcar, de Alagoas e de municípios de Sergipe, no Baixo São Francisco.
A conclusão desse trabalho que contemplou ao todo 24 municípios desses quatro estados nordestinos, seis de cada estado, foi concluído no ano de 1998 e o seu relatório final de mais de 100 páginas em formato de livro, ricamente ilustrado, mostrou quão rica é essa nossa região e tão pouco prestigiada por grandes projetos voltados para o turismo.
Isso me fez lembrar o que me disse o meu arguidor, um doutor em Turismo em Portugal e Espanha, ao avaliar a minha defesa no mestrado ali concluído. Ele disse em 25 de novembro de 2005: “Não entendo como vocês têm tanto e não têm nada...”.
Mapa do relatório Região dos Lagos do Rio São Francisco - 1998
No ano de 2009, o governo de Alagoas, através de suas secretarias de Turismo, de Cultura, ALP de Turismo, com o apoio de órgãos diversos, inclusive o SEBRAE e o Ministério da Cultura, IPHAN e secretarias municipais de Turismo e Cultura do Estado produziu o Mapeamento Cultural Cidades Históricas – Marechal Deodoro, Penedo e Piranhas, as duas últimas banhadas pelo rio São Francisco.
Obviamente que alguma coisa mudou nesses anos. Até alguns ensaios foram amplamente divulgados na mídia regional. No tocante ao Trem de Piranhas, na gestão da prefeita Melinna Freitas foi feito, no final de janeiro de 2012, um grande evento para a apresentação da Maria Fumaça que seria reativada para fins turísticos em um trajeto de 12 km, de Piranhas até o mirante do lago e cânion de Xingó.
Em sua publicação de 27/01/2012 (12:43), o https://www.mercadoeeventos.com.br/ já anunciava esse grande evento que reuniu senador, deputados, prefeitos alagoanos e a mídia da capital e regional.
O artigo ressaltava:
“A velha e tradicional maria-fumaça será, em breve, atrativo turístico da cidade de Piranhas, no Alto Sertão alagoano. Amanhã (28/01), na Esplanada do Recinto, no centro histórico, a prefeita Mellina Freitas assina contrato de repasse envolvendo o município de Piranhas, a Caixa Econômica Federal e a Companhia de Trens Urbanos (CBTU), para a implantação de linha férrea que vai interligar a cidade ao Lago de Xingó.
Para financiar a obra, o senador Benedito de Lira assegurou R$ 3 milhões em emendas no Ministério do Turismo. Segundo o senador, o trem vai impulsionar a divulgação dos cânions do rio São Francisco, contribuindo para o desenvolvendo a economia local. “Com esta iniciativa vamos motivar, cada vez mais, o turismo no estado para ver as belezas do Rio São Francisco, que é a opção mais rápida para gerar emprego, renda e qualidade de vida para as pessoas. Brevemente a Maria Fumaça percorrerá todo o lago do Xingó”, ressaltou o senador.”
O Jornal Folha Sertaneja, que dirijo em Paulo Afonso há mais de 18 anos, também registrou aquele momento histórico.
Passados 10 anos, nada aconteceu, a não ser o retorno da Maria Fumaça às suas origens, deixando o cenário da bela Piranhas.
Agora, o atual governador e candidato à reeleição do Estado de Alagoas, Paulo Dantas, colocou no seu programa de governo a reativação desta Estrada de Ferro e com mais trilhos à sua frente, para chegar até a outra cidade alagoana, Delmiro Gouveia, cerca de 40 quilômetros à frente onde está a Estação da Pedra, hoje transformada no Museu Regional de Delmiro Gouveia.
A ideia, como disse, é mesmo genial e acreditamos que com um pouco mais de empenho e apoio, tanto do governo do Estado de Alagoas como de parceiros dos chamados PPP vão permitir que esses trilhos se estendam por mais 30 quilômetros até às margens da Cachoeira de Paulo Afonso, ainda território de Delmiro Gouveia Alagoas, ampliando ainda mais essa oportunidade dos turistas conhecerem essa beleza que atraiu até o Imperador D. Pedro II, em 1959.
Tive pouco contato presencial com governadores de Alagoas, mas guardo desses momentos a melhor impressão no que se refere ao seu grande amor pela sua terra. Assim foi com o governador Divaldo Suruagy com quem estive algumas vezes porque entre os anos de 1979 e 1985, como coordenador de Turismo da Prefeitura de Paulo Afonso, sempre participou dos encontros anuais realizados pela EMATUR, em Maceió e em Penedo. O governador Teotônio Vilela acompanhou a Rota do Imperador comemorando os 150 anos dessa viagem feita pelo Imperador D. Pedro II de que também participei.
Vejo na proposta do candidato, governador Paulo Dantas, a oportunidade de se resgatar a história ferroviária desta região, registrada pacientemente pelo escritor e turismólogo Luiz Ruben Bonfim em dois livros sobre o tema e por estudiosos alagoanos, dentre eles Davi Bandeira (in memoriam), com a magnífica obra A Construção da Estrada de Ferro Paulo Afonso, lançada em 2012 com o aval do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas que, por certo, possui rico acervo sobre o assunto.
Mas, não somente o resgate histórico mas oferecer a oportunidade de geração de emprego e renda para as populações destes sertões alagoanos com a oferta deste excepcional atrativo turístico – a Estrada de Ferro de Piranhas ou que outro nome venha a ter.
O tema, um trem para Paulo Afonso, tem sido insistentemente cobrado pelo cronista, também membro da Academia de Letras de Paulo Afonso, Professor Francisco Nery.
Tanto acredito e aplaudo esta iniciativa que espero que ela comece a sair do papel assim que seja concluída a apuração dos votos em Alagoas e mantenho a minha provocação para o projeto alcance as margens da Cachoeira de Paulo Afonso, também território alagoano, onde vive adormecido há anos todo o rico patrimônio do complexo da Usina Hidrelétrica de Angiquinho, construída por um cearense que dá nome ao município de Delmiro Gouveia, orgulho dos alagoanos e nordestinos e tombada pelo Patrimônio Histórico de Alagoas.
Parabéns, governador Paulo Dantas por essa ideia brilhante! Que ela se realize! E que Alagoas continue valorizando o turismo em suas cidades e mostrando para o mundo belezas como a deste presépio sertanejo, Piranhas, Delmiro Gouveia e outras lindas cidades da região, de povo sempre acolhedor!
Quero ter vida e saúde para estar na viagem inaugural desta Estrada de Ferro Paulo Afonso, até à Cachoeira de Paulo Afonso e depois refazê-la tantas vezes quantas a saúde e a vida me permitirem.