Pouco se conhece sobre a sua história de vida, da vida que se esvai de D. Neurizete, essa presidutrense de 49 anos. Apenas que é uma paciente que passa por cuidados paliativos no HGRS e que é moradora do município Presidente Dutra, emancipado em 1962, tem cerca de 14 mil habitantes e fica a 496 quilômetros da capital do Estado.

Mas, só essa história trazida ao site pelo núcleo de jornalismo da Secretaria de Saúde do Governo do Estado da Bahia, já nos tocou...

O seu município, Presidente Dutra, na Bahia, tem a agricultura como principal fonte de receita e o cultivo da pinha lhe faz promover a Festa da Pinha, no mês de abril, quando a cidade aniversaria, o que nos leva a imaginar que D. Neurizete e sua família são agricultores...

Mas, D. Neurizete que vem sendo cuidada pelas equipes do HGRS de Salvador nos chamados “cuidados paliativos, que é um conjunto de práticas de assistência ao paciente incurável com o objetivo de oferecer dignidade e diminuição de sofrimento mais comum em pacientes terminais ou em estágio avançado de determinada enfermidade”, revelou aos seus cuidadores, talvez em uma de suas conversas com as psicólogas, que desde criança sempre teve o sonho de conhecer o mar.

Mas o imenso mar, que ela deve ter visto pela televisão tantas vezes, estava muito distante de suas condições, a 500 quilômetros de distância.

A psicóloga, atenta, ouviu o desejo que D. Neurizete acalentava desde quando criança nas terras distantes de Presidente Dutra, na sua Bahia amada. E viu que isso sim seria possível realizar. Até como parte desses cuidados que se tem com pacientes como D. Neurizete.

E o sonho de D. Neurizete começou a tomar forma. Médicos, outros profissionais também se mobilizaram, viram um transporte e uma forma mais confortável de levar D. Neurizete para conhecer o mar da Bahia de Todos os Santos.

E escolherem a mais bela paisagem do mar de Salvador, o Farol da Barra e lá se foram, com todo o cuidado e atenção levar D. Neurizete para ver essa grandeza criada por Deus e cuja vista não alcança o seu final, tão imenso ele é.

Fico imaginando na minha emoção, o que se passou na cabeça desta senhora de 49 anos, em situação delicada quanto à sua saúde, ao sentir as pequenas ondas acariciando seus pés ao tocar a areia da praia...

Por certo, ela voltou a ser a criança que sonhava conhecer o mar e agora estava ali sendo apresentada a ele, quase meio século depois...

Será que ela se lembrou da música de Dorival Caymmi?

- O mar quando quebra na praia /
É bonito, é bonito...

Por certo, um gesto, uma palavra balbuciada, um toque de suas mãos na filha, nos médicos, nos psicólogos que a acompanhavam, um olhar de gratidão, disseram muito mais que mil palavras...

E a sua emoção certamente mexeu com todos que ali estavam, com todo carinho, para realizar esse seu sonho de criança...

Mesmo conhecendo a sua situação delicada ou talvez até por isso mesmo, D. Neurizete queria conhecer o mar.

Os cuidados paliativos para com ela seguirão as rotinas e as não rotinas de todos os dias mas deve ter ficado, com os familiares e com ela, especialmente, a doce alegria, mesmo em condições tão limitadas, de ver realizado o seu sonho acalentado desde criança na sua terra, Presidente Dutra, na Bahia.

Aos profissionais da saúde, pela sensibilidade que muitas vezes ultrapassa as técnicas e procedimentos comuns, o nosso aplauso, pela valorização da vida e dos sonhos ainda que reste apenas uma tênue esperança de um novo amanhecer! O nosso aplauso!!!

(VEJA a história de D. Neurizete no link abaixo:

https://www.folhasertaneja.com.br/noticias/religiao/662334/1

Antônio Galdino da Silva