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Professor Galdino

O fascínio pelo tema Cangaço!

Publicada em 24/11/22 às 12:57h - 713 visualizações

Antônio Galdino - atualizada dia 24/11/2022 às 22:35 com o acréscimo de fotos e revisão textual


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O fascínio pelo tema Cangaço!
Na literatura, no cinema, na TV, nas universidades, o cangaço em estudo...  (Foto: da Net)

Esse artigo destaca, em vários desdobramentos que se seguem, o fenômeno do cangaço no Nordeste, os autores de Paulo Afonso, Luiz Ruben Bonfim e João de Souza Lima, como grandes pesquisadores e produtores de literatura sobre o tema CANGAÇO. E também instituições como o Cariri Cangaço, ABLAC e outras que têm se dedicado a compreender e estudar o tema, ainda tão atual e presente em intensa literatura, em documentários, filmes e séries da televisão e continua fascinando as pessoas que querem aprender mais sobre ele.

As palavras cangaço, Lampião, Maria Bonita, cada uma delas digitadas em fontes de pesquisas na internet vai oferecer mais 3 milhões, até mais de 4 milhões de resultados, tamanho é o interesse hoje por esses temas associados.

Impossível de identificar com precisão a quantidade de publicações sobre o assunto cangaço e os personagens nele envolvidos.

Na Literatura de Cordel são milhares de folhetos desde dezenas de anos atrás que apresentam esse tema como grande atrativo nas feiras populares e nas cantorias de repentistas pelos sertões do Brasil, até chegar aos grandes centros e invadir também a televisão e os mais diversificados meios de comunicação.

Depois vieram os livros e os filmes, os documentários e o cangaço chegou às universidades, virou tema de dissertações, mestrados e doutorados no Brasil e em outros países. O cangaço invadiu o mundo.

No Brasil, especialmente no Nordeste, criaram-se instituições e movimentos para se aprofundarem os estudos desse tema. Um desses movimentos chamado Cariri Cangaço, de pouco mais de 12 anos de vida já se transformou num grande evento que é realizado várias vezes por ano em lugares e estados diferentes do Nordeste e aonde chega mobiliza centenas de pessoas que se deslocam de vários outros estados brasileiros para acompanhá-lo e conhecer a realidade do lugar onde ele está sendo apresentado e sua associação com o tema cangaço que lhe dá vida.

Apresentado recentemente em Serra Talhada, antiga Vila Bela, onde nasceu Virgulino Ferreira, o Lampião, Rei do Cangaço, o Cariri Cangaço atraiu para ali centenas de escritores, estudiosos e pesquisadores desse tema, cuja dimensão futura não se tem ainda como medir.

O artesanato, o folclore, as músicas e danças associados a este tema têm movimentado o turismo e a economia de região do Nordeste e sido motivo que tem atraído turistas de todos os lugares.

Não há como saber, com precisão, quantos livros já foram publicados sobre o tema. Para se ter uma vaga ideia, só dois escritores e pesquisadores sobre o cangaço em Paulo Afonso, cidade baiana que fica na divisa dos Estados da Bahia, Alagoas, Sergipe e Pernambuco, têm cerca de 15 livros cada um sobre o cangaço. Até porque Lampião esteve muito por estas terras da Bahia e foi em Paulo Afonso, no Povoado Malhada da Caiçara que nasceu Maria Gomes de Oliveira, depois conhecida como Maria Bonita, a Rainha do Cangaço, companheira de Lampião.

Mas, o que é o que foi o cangaço?

Durante muitos anos, os pesquisadores mais renomados asseguram que o fenômeno aconteceu entre os anos de 1870 a 1940, portanto durante 70 anos nos séculos XIX e XX, o Nordeste brasileiro conviveu com a presença dos chamados cangaceiros e centenas de livros, muitos filmes, documentários continuam mostrando esse ciclo em que cangaceiros de um lado e policiais do outro levavam o terror a vários estados desta região brasileira.

A temática tem sido apresentada por diferentes pesquisadores como um fenômeno sócial que existiu no Nordeste associado à pobreza e desigualdade, falta de acesso à Justiça e os horrores da seca nessa região, desassistida pela falta da presença do Estado em um tempo que o Brasil passava por profundas transformações políticas e sociais.

No interior do Brasil e mais acentuadamente na região Nordeste, o poderio de grandes famílias sobre a população, o monopólio da terra nas mãos de poucos e a exploração dos sertanejos criou nesses lugares uma espécie de Estado paralelo e a disputa de interesses sempre resultava em violência.


Explicam os estudiosos desse fenômeno que “esse poderio se sustentava por meio da troca de interesses e, assim, representantes do Estado, como policiais e políticos, por exemplo, atuavam apenas como defensores dos interesses dessas poucas famílias. Caso houvesse desavenças, essas famílias usavam sua riqueza para resolver a situação pelo uso de armas.


Esse cenário se reproduzia em diferentes partes do país, inclusive ou principalmente no Nordeste. A população era afetada pela exploração de seu trabalho e via sua condição de vida ser agravada pela seca. Enquanto isso, os latifundiários, chamados de coronéis, nadavam em prosperidade e sustentavam o seu poderio na exploração das pessoas e na força armada de seus jagunços”.

Nesse cenário, surgiram grupos armados que atacavam propriedades e cidades, roubando e assassinando quem se colocasse no seu caminho. A motivação usada para isso era a pobreza, a falta da presença do Estado e até o desejo de vingança.


Esses grupos, chamados de cangaceiros, nome que se acredita esteja associado a canga, uma peça de madeira que unia dois bois em um carro de bois. Isso porque os cangaceiros levavam suas armas nos ombros, assemelhando-se às cangas dos bois.


Algumas características dos cangaceiros, descobertas em estudos mais recentes dão conta que normalmente os grupos eram pequenos de até 15 homens para facilitar a locomoção. Tinham vida nômade, o que dificultava ainda mais o trabalho da polícia que andava em sua perseguição. Desenvolveram estratégias como a de esconder os próprios rastros, havendo informações que Lampião, conhecido como Rei do Cangaço, ter encomendado calçados com solas retangulares que não indicariam a direção que os cangaceiros estavam tomando. Outra característica de sua atuação era que os cangaceiros conquistavam a amizade de algumas pessoas chamadas de coiteiros que lhes forneciam abrigo, quando necessário e em algumas situações, os cangaceiros distribuíam parte dos seus saques com a população mais carente.


O Cangaço no cinema e na televisão

 

As primeiras imagens dos cangaceiros foram as feitas do bando de Lampião pelo libanês Benjamin Abraão em 1937.



Mas, o fenômeno do cangaço no sertão nordestino tanto ganhou grandes produções na tela grande do cinema como gerou minisséries de grande repercussão nas grandes redes de TV.


A primeira produção do cinema brasileiro sobre o tema foi o filme O Cangaceiro, de Lima Barreto, do não de 1953 que conquistou o Festival de Cannes e inaugurou o gênero similar ao faroeste americano nos sertões do Brasil. 


Apesar de também receber críticas pela associação que se faz dos bandidos mexicanos da produção americana, o filme teve “importância histórica devido a sua repercussão internacional e por marcar, simultaneamente, o início do nordestern e o fim da Vera Cruz”, diz Gustavo Menezes, ao fazer a indicação do seu Top 10 de filmes sobre o cangaço, onde também mostra a chanchada e a comédia valendo-se do tema, como em Os Três Cangaceiros (Victor Lima, 1959) a O Cangaceiro Trapalhão (Daniel Filho, 1983).


Ele também traz o tema para os momentos atuais como no filme Os Últimos Cangaceiros, de Wolney Oliveira, baseado no livro Morena e Durvinha – Sangue, amor e fuga no cangaço, do escritor João de Sousa Lima, que descobriu esse casal de cangaceiros, depois de 70 anos, vivendo com pseudônimos em Minas Gerais. 


A partir daí, Durvinha e Moreno fazem as pazes com a memória, recontando suas trajetórias antes, durante e depois do cangaço, com riqueza de detalhes. O filme então segue a recepção dos dois após a revelação do segredo septuagenário, analisando como a visão sobre o fenômeno do cangaço mudou no Brasil. Conta com depoimentos de especialistas, ex-volantes e outros ex-cangaceiros, além de imagens de arquivo preciosas. O livro de João de Sousa Lima, pela sua atualidade sobre o tema e que foi a base para o filme Os Últimos Cangaceiros é um dos mais procurados pelos estudiosos do assunto.


Além dessas produções, Gustavo Meneses cita Corisco e Dadá, de Rosemberg Cariry(1996), Lampião, O Rei do Cangaço, de Carlos Coimbra (1963), O Último Dia de Lampião, de Maurice Capovilla (1975), Memória do Cangaço, de Paulo Gil Soares (1964), dois clássicos de Glauber Rocha, Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964) e O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro (1969) O Baile Perfumado (1997) que teve a direção de Lírio Ferreira e Paulo Caldas.


Destaque-se que nesse último filme da lista de Gustavo Menezes, O Baile Perfumado, que as imagens feitas no cânion do rio São Francisco, em Paulo Afonso, BA., foram antecipadas para que o cânion fosse registrado antes do enchimento da Barragem de Xingó, constituindo-se portanto no último ou dos últimos registros das imagens originais do cânion que, com o fechamento da Barragem de Xingó as águas do rio ali acumuladas, num total de 3,2 bilhões de metros cúbicos, subiram a até 170 metros em alguns trechos do rio.


Essa foi a lista, dos dez filmes de Gustavo Menezes. Faça a sua própria lista.


Na televisão, o tema cangaço também tem merecido grandes produções, principalmente em minisséries e telenovelas.


A telenovela Mandacaru foi produzida pela extinta TV Manchete e exibida durante todo um ano, de 12 de agosto de 1997 a 8 de agosto de 1998, em 259 capítulos. Esta telenovela foi reprisada pela TV Bandeirantes entre 9 de janeiro e 10 de novembro de 2006, em 217 capítulos, e conseguiu ainda grande audiência. Foi escrita por Carlos Alberto Ratton, com grande equipe de apoio e foi inspirada no romance Dente de Ouro de Menotti Del Picchia, desenvolvendo sua trama ambientada no sertão da Bahia, com a história começando após a morte de Lampião e Maria Bonita, quando um novo chefe do bando de cangaceiros, chamado Tirana (personagem da novela), deseja vingar-se dos coronéis da região...


Lampião e Maria Bonita, a primeiraminissérie brasileira, com foco nos últimos seis meses de vida de Virgulino Ferreira da Silva, foi produzida pela Rede Globo, e sua exibição ocorreu entre 26 de abril e 5 de maio de 1982, em 8 capítulos. Foi escrita por Aguinaldo Silva e Doc Comparato e muitas cenas foram gravadas em Paulo Afonso/BA.


O cangaço na literatura e autores de Paulo Afonso


Não há de nossa parte, nenhum interesse em aprofundar esse estudo que, como se sabe, é imenso e sobre ele já foram escritos centenas de livros além de outras publicações impressas, filmes, documentários e teses acadêmicas.


No Nordeste há muitos escritores que têm as histórias dos personagens do cangaço como material dos seus livros e uma referência desses estudos tem sido Frederico Pernambucano de Melo.

Dr. Antônio Amaury em vídeo de Aderbal Nogueira em uma de suas participações no Cariri Cangaço


A referência nacional, sempre destacada por muitos escritores, inclusive pela humildade que sempre demonstrou, assinando como parceiro de outros autores, é Antônio Amaury Corrêa de Araújo, que faleceu em fevereiro de 2021 aos 86 anos de vida.


Queremos, no entanto, destacar a presença de escritores pauloafonsinos, embora nascidos em outros lugares do Nordeste, que têm se dedicado há muitos anos na busca de informações, seja nas publicações, jornais e revistas da época do cangaço ou indo às suas raízes, conversado com pessoas que viveram os tempos do cangaço, alguns deles cangaceiros do bando de Lampião e de outros bandos de apoio e trouxeram essas informações para os que também são apaixonados pelo tema.


Em Paulo Afonso, alguns poucos escritores decidiram enveredar por essas trilhas do cangaço e deram sua contribuição como o piauiense, sociólogo Voldi Ribeiro, morador de Paulo Afonso há dezenas de anos que escreveu apenas um livro sobre o assunto e morreu de infarto, jovem ainda, aos 63 anos, em 20 de janeiro de 2021. 


Mas o seu livro,  Lampião e o nascimento de Maria Bonita, trouxe uma revisão histórica sobre a data de nascimento de Maria Bonita, que era citada por outros escritores, inclusive Antônio Amaury e, pesquisa feita por Voldi Ribeiro, com o apoio do Padre Celso da Anunciação, na época da Paróquia de São Francisco em Paulo Afonso-BA, mostrou que a Maria Gomes, a Maria do Capitão, companheira de Lampião, nasceu em 17 de janeiro de 1910 e não no dia 08 de março de 2011, como sempre foi divulgado por renomados escritores sobre esse tema.


Outros escritores como Rubinho Lima, Edson Barreto, ambos, assim como João de Sousa Lima e Luiz Ruben, membros da Academia de Letras de Paulo Afonso têm pequena produção sobre o tema.

Destaco assim, João de Sousa Lima e Luiz Ruben Alcântara Bonfim. Os dois têm Antônio Amaury Corrêa de Araújo, que faleceu em fevereiro de 2021 aos 86 anos de vida, como referência maior na produção de estudos e livros sobre o cangaço.

Os dois escritores, João de Sousa Lima, nascido em São José do Egito/PE, historiador, escritor, poeta e Luiz Ruben Alcântara Bonfim, nascido no Recife, economista, turismólogo, escritor, pesquisador de ferrovias e do cangaço foram homenageados pela Câmara Municipal de Paulo Afonso que lhes concedeu o título de Cidadãos de Paulo Afonso e têm uma vasta produção sobre o cangaço. 

Luiz Rubem Bonfim já produziu 16 livros só sobre esse tema cangaço. Suas pesquisas buscam fontes, jornais, revistas, publicações da época em que o fenômeno do cangaço estava acontecendo. A preciosidade de suas produções é que, através dos relatos da época é como se o leitor estivesse acompanhando os fatos em tempo quase real, muito próximo do seu acontecimento.

João de Souza Lima decidiu, em suas pesquisas, ir às raízes dos acontecimentos. Como muitos dos fatos, histórias da vida dos cangaceiros, aconteceram na região do hoje município de Paulo Afonso e municípios vizinhos ele decidiu ir a cada lugar, conversar com pessoas que tiveram envolvimento nesses acontecimentos ou tiveram parentes, pessoas conhecidas que deles participaram. Para isso rodou milhares de quilômetros em uma moto e fez descobertas valiosas, colheu depoimentos preciosos que lhe permitiram escrever mais de uma dezena de livros sobre esses personagens.

Em seu primeiro livro sobre o tema, chamado Lampião em Paulo Afonso, já em 2ª edição quase esgotada, João revela que em sua pesquisa identificou quase 50 pessoas desta região diretamente ligadas ao bando de Lampião.

Alguns desses personagens do cangaço, como Moreno e Durvina, João de Sousa Lima foi encontrar em Belo Horizonte e o livro que escreveu sobre eles - Morena e Durvinha – Sangue, amor e fuga no cangaço - foi a base para a produção do filme Os Últimos Cangaceiros, do cineasta Wolney Oliveira, de Fortaleza. Veja a bibliografia desses dois autores, em outros artigos dessa série.

Veja também, a seguir:

Luiz Ruben homenageado ao lançar o seu 16º livro sobre o Cangaço - acesso pelo link:

https://www.folhasertaneja.com.br/noticias/artes-e-literatura-/665355/1

João de Souza Lima lança a biografia mais completa sobre Maria Bonita, a Rainha do Cangaço. (em construção)

O fenômeno Cariri Cangaço estudando coronéis, beatos e cangaceiros pelo Nordeste. (em construção)

ABLAC – uma Academia de Letras reúne escritores que estudam o cangaço. (em construção)

E mais: Grupos e Associações de Estudos do Cangaço... (em construção)




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1 comentário


José De Pinho Lima

24/11/2022 - 21:20:05

Bela reportagem. Viva a cultura do Pajeú e do mundo.meu abraço pra João de Sousa Lima e todos os escritores e historiadores do tema fabuloso cangaço.


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