Assim nasceu o Cariri Cangaço!

No ano de 2008, após as eleições municipais, recebi o convite do prefeito eleito, Anilton Bastos, para dirigir o Departamento Municipal de Turismo e Cultura, como se chamava na época. Elaboramos o nosso plano de trabalho com esse foco: turismo e cultura. No final do ano, o gestor municipal decidiu dividir esse departamento em dois e nasceram os departamentos municipal de turismo e o departamento municipal de cultura, este gerenciado pela professora Maria da Glória Lira.

Como estava no plano de trabalho do DEMTUR a realização de um seminário sobre Maria Bonita, consegui com o Secretário Municipal de Turismo e Cultura a transferência de João de Sousa Lima do Departamento de Cultura para o Departamento de Turismo para realizarmos ali esse evento, tendo em vista que o historiador e pesquisador, João de Sousa, já havia escrito três livros sobre o tema, dois deles sobre Lampião e Maria Bonita.

No centro de Paulo Afonso, na Praça das Mangueiras, tem uma estátua de Maria Bonita, a companheira de Lampião que nasceu no Povoado Malhada da Caiçara que pertencia na época ao município de Glória/BA e passou a fazer parte do território do município de Paulo Afonso, criado em 28 de julho de 1958.

Ali, na gestão do Prefeito Raimundo Caires Rocha (2005/2008) esta casa onde nasceu Maria Gomes de Oliveira, a Maria Bonita, foi totalmente restaurada e para isso contou com a coordenação de Luiz Ruben, economista e turismólogo, que assessorava aquela gestão e outro grande pesquisador do tema cangaço, hoje com 16 livros já publicados sobre o tema. 

Nos livros e outras publicações existentes até então, tinha-se como certa que a data de aniversário de Maria Bonita era o dia 8 de março, comemorado como o Dia Internacional da Mulher.

E como essa era a data que se tinha o Departamento Municipal de Turismo, gerenciado por Antônio Galdino da Silva decidiu organizar, sob a coordenação do pesquisador João de Sousa Lima, o 1º Seminário Internacional do Centenário de Maria Bonita que recebeu muita gente interessada nesse tema, hoje universal, do estudo do ciclo do cangaço no Brasil.

O 1º Seminário Internacional do Centenário de Maria Bonita foi realizado nas dependências do Memorial Chesf Paulo Afonso em março de 2009. Pela grandiosidade do evento foi criado um Caderno Especial do jornal Folha Sertaneja dedicado a este evento.

Desse 1º Seminário participou Manoel Severo que, em setembro daquele ano, criou o Cariri Cangaço  do qual é o Curador e que se revestiu de tremendo sucesso e se espalha, todos os anos, por diversos municípios de estados nordestinos estudando os coronéis, os beatos e os cangaceiros e possui hoje uma multidão de seguidores, estudiosos desse tema.

O Cariri Cangaço nasceu a partir desse evento como diz o Manoel Severo que implantou esse movimento na região do Cariri Cearense e o primeiro Cariri Cangaço foi realizado entre 22 e 27 de setembro de 2009 com atividades nos municípios cearenses de Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha e Missão Velha.

Hoje é um grande evento que já foi realizado em dezenas de cidades nordestinas e merece todos os aplausos tendo em vista o resgate histórico que tem promovido ao longo destes anos, tanto sobre as muitas e diversificadas histórias do cangaço como sobre outros temas nordestinos, que tratam de beatos e messiânicos, vaqueiros, fazendeiros e um sem número de personagens que povoam o real e o imaginário da vida no Nordeste.

No ano de 2010, o DEMTUR promoveu o 2º Seminário Internacional do Centenário de Maria Bonita este realizado nas dependências da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, com o apoio do Professor Juracy Marques que, como João de Sousa Lima e Antônio Galdino, eram membros fundadores da Academia de Letras de Paulo Afonso – ALPA – desde 2005. Esse segundo evento também contou novamente com a participação de Manoel Severo.

Tive a alegria de coordenar e apresentar o cerimonial e também fotografar esses momentos importantes.

Também no ano de 2010, o Cariri Cangaço foi novamente realizado nos municípios de Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha, Missão Velha e também no município de Aurora. 

Tive a alegria de participar dos eventos daquele ano e até de uma mesa de debates no Auditório do CEREST em Juazeiro do Norte na noite de 19 de agosto de 2010, quando Renato Dantas apresentava o tema O Pacto dos Coronéis. Na mesa redonda estavam: Carlos Eduardo, do Rio de Janeiro/RJ, Antônio Galdino, de Paulo Afonso/BA, Napoleão Tavares Neves, de Barbalha/CE e Juliana Ischiara, de Quixadá/CE.

Esse evento de 2010 teve como um dos principais conferencistas o Dr. Antônio Amaury Correa de Araujo que nos deixou recentemente e foi ali homenageado pelo Cariri Cangaço e também pelo escritor João de Sousa Lima.

E o Cariri Cangaço não parou mais de acontecer. Na região do Cariri Cearense e em outros estados nordestinos. Em Piranhas/AL, onde as cabeças dos cangaceiros mortos na Grota do Angico foram expostas e Serra Talhada, onde nasceu Virgulino Ferreira, o Lampião e em muitas outras muitas cidades nordestinas. Em 2022 chegou a Paulo Afonso, na Bahia, terra de Maria Bonita, companheira de Lampião.

O Cariri Cangaço chegou em Paulo Afonso, terra do nascimento de Maria Bonita e das muitas andanças de Lampião e seu bando e, segundo informa o pesquisador e escritor de mais de dez livros sobre o tema, João de Sousa Lima, pelo menos quase cinquenta pessoas da região foram por ele identificadas com algum envolvimento no cangaço, como cangaceiros de Lampião.

Para a realização desse evento em Paulo Afonso, ainda no final de 2021 foram realizadas reuniões com a então presidente da ALPA, Gorette Moreira, com o presidente da Câmara, Vereador Pedro Macário Neto e se contou com o apoio do novo Secretário de Cultura e Esportes de Paulo Afonso, Dernival Oliveira Júnior e do Secretário de Indústria, Comércio e Turismo, Nino Rangel. O prefeito de Paulo Afonso, Luiz Barbosa de Deus participou da solenidade de abertura do Cariri Cangaço em Paulo Afonso/BA, assim como a Secretária Municipal de Educação, Elza Brito e autoridades outras, militares e civis, do município.

Realizado em Paulo Afonso entre os dias 24 e 27 de março de 2022, atraiu centenas de pessoas para este município, tanto para acompanharem os debates e palestras realizadas no auditório da moderna Escola Municipal Vereador João Bosco Ribeiro como nas visitas de campo, sempre esperadas por todos, em vários locais marcantes da presença e passagem de Lampião e seu bando por estas terras sertanejas sendo a mais aguardada a visita à Casa Museu de Maria Bonita, na Malhada da Caiçara.

E, apesar dos cuidados e precauções porque ainda se vivia sobre os decretos referentes à pandemia do Covid-19, o evento foi um grande sucesso de público e de crítica e cumpriu intensa programação que incluiu palestras, lançamentos de livros, homenagens e até uma sessão histórica da Academia  Brasileira de Letras e Artes do Cangaço, sediada em Aracaju/SE, além de intensa visitação a roteiros turísticos com o foco no cangaço, identificados pelo historiador e pesquisador João de Sousa Lima, responsável pela organização da programação em Paulo Afonso.

O que diz Manoel Severo sobre a criação do Cariri Cangaço

“Em março de 2009 quando retornávamos da primeira edição do Seminário de Maria Bonita em Paulo Afonso aflorou em minha cabeça a ideia de tentar realizar em nosso estado do Ceará, mais precisamente na região do Cariri, onde desenvolvia minhas atividades profissionais, um seminário onde pudéssemos resgatar um pouco da historiografia cangaceira na região, tão pouco conhecida pela grande maioria das pessoas. 

Num primeiro momento ouvia muitas indagações e provocações: "Cangaço no Cariri?" "Está ficando louco?" "Como realizar um negócio desses aqui, sem nenhuma tradição com o tema?" "Evento para endeusar bandido?" ...

Foi aí que alguns ingredientes acabaram se somando e o sonho acabou se tornando realidade: Determinação, perseverança, dedicação e amigos; muitos amigos, inúmeros amigos, de todos os lados e lugares, alguns antigos e outros novos, todos juntos começaram a acreditar que poderíamos fazer...e fizemos.” (Manoel Severo - Curador do Cariri Cangaço)

Os objetivos do Cariri Cangaço

“Mas não poderíamos continuar nossa conversa sem fazer o devido e responsável esclarecimento. Explico: Apesar do fascínio que o cangaço exercia no pequeno garoto e exerce até hoje no homem, o Cariri Cangaço, não nasceu com o sentimento de fazer apologia ao Cangaço, cangaceiros, violência, enfim. Não "mitifica" e nem procura elementos para "endeusar" Virgulino Lampião nem nenhum outro personagem dessa saga sertaneja tão penosa e cheia de dor. O verdadeiro sentimento que moveu a todos nós foi o de proporcionar um ambiente ainda mais propício para o debate e aprofundamento dessa temática que é tão marcante e capilar em nossa terra e em nossa gente. O incrível acontece: Lampião e o Cangaço que tanto sofrimento trouxe para o ordeiro povo do sertão, hoje promove o encontro, a união e a harmonia na direção da busca da verdade histórica.” (Manoel Severo - Curador do Cariri Cangaço)

Conheça a vitoriosa trajetória do Cariri Cangaço no http://cariricangaco.blogspot.com/.Ali está toda a história, com fotos, vídeos e depoimentos dos vários eventos Cariri Cangaço realizados pelo Nordeste. Foi dessa publicação que retiramos as informações, fotos e algumas ilustrações desta reportagem.

Em Paulo Afonso, o fascínio pelo tema cangaço fez surgir o "Grupo Cangaceiros de Paulo Afonso, criado no dia 02 de fevereiro de 1956, pelo escafandrista da CHESF, Guilherme Luiz dos Santos que passou a ser o Lampião e seus amigos ganharam os respectivos apelidos oriundos dos seguidores reais de Lampião" como disse João de Sousa Lima em artigo para o jornal Folha Sertaneja.  

Assim, esse grupo foi criando no início das obras da Chesf e a cidade de Paulo Afonso só foi emancipada em 28 de julho de 1958, mais de dois anos depois. Ainda hoje está presente nos eventos culturais da cidade e participou no Cariri Cangaço em Paulo Afonso, em março de 2022.

Por Antônio Galdino da Silva