O Turismo em Paulo Afonso - Antecedentes
A existência de grandes atrativos turísticos na área de jurisdição da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco – Chesf, instalada em Forquilha, desde 1948, o município de Paulo Afonso sempre atraiu grande número de visitantes.
Há quem defenda que D. Pedro II, ao sair do Rio de Janeiro para visitar a Cachoeira de Paulo Afonso, o que aconteceu em 20 de outubro de 1859, tenha sido o primeiro turista de aventura por estas terras sertanejas.
O fato é que no ano de 1950, tantos eram os que chegavam para ver as quedas das cachoeiras e, também, as obras que a Chesf realizava na região para funcionamento da 1ª Usina Hidrelétrica que a direção da empresa construiu, ao lado das guaritas de acesso às suas áreas uma Sala dos Visitantes e treinou pessoal para receber a todos que chegavam, desde as mais altas autoridades aos visitantes da região.
O cuidado da Chesf com essa área também se via na manutenção dos jardins, na criação e manutenção dos mirantes em pontos estratégicos e até a liberação para passeios turísticos, de um sistema de teleférico que foi criado para permitir o acesso rápido de empregados das usinas, da margem baiana do rio São Francisco, para a margem alagoana, onde a Chesf construiu importante subestação de onde partiam as redes de transmissão de energia hidroelétrica para boa parte do Nordeste.
Todas essas ações da empresa hidrelétrica não geravam receita para a Chesf , que mantinha inclusive um zoológico em área de acesso às cachoeiras, porque, como ficou claro em Decreto Federal do governo do presidente Fernando Collor de Melo, reeditado pelo governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, “a Chesf só poderia realizar as atividades relacionadas à geração, transmissão e comercialização de energia elétrica”.
Com isso, a Chesf precisou se desfazer do zoológico e fechar todo o seu sistema de educação que funcionava em cerca de 10 grandes unidades escolares e redistribuir professores e outros profissionais da educação em outras áreas da empresa. Também passou à gestão municipal o Hospital criado pela Chesf logo que se instalou na região.
Em 2006 a Chesf elaborou, depois de várias dias de trabalho em Paulo Afonso de que participei um projeto de visitação às suas áreas de gestão o que incluiu a preparação de uma Cartilha. O projeto cumpria exigência do governo federal associado à liberação da licença de funcionamento das usinas. Também naquele ano foi feito por mim o projeto da abertura periódica das cachoeiras e entregue à gestão municipal (Prefeito Raimundo Caires e Secretário de Turismo, o ex-vereador e ex-prefeito José Ivaldo de Brito Ferreira) enviado à ANA que mandou técnicos para avaliar esse possibilidade, aprovada pela ANA mas na dependência de aprovação final pelo ONS.
Nesse tempo, nasceu também o projeto de transposição do rio São Francisco, priorizado pelo governo federal e não mais se teve notícia do projeto de abertura períódica da Cachoeira de Paulo Afonso.
Nasceu a AGTURB/BA/PAV
E a Chesf administrou esse serviço receptivo por muitos anos, até que em 1984, na gestão do Prefeito Abel Barbosa, foi criada a Associação de Guias de Turismo de Paulo Afonso e uma Coordenação Municipal de Turismo, Cultura e Comunicação que passou a gerir essa atividade, em total parceria e harmonia com a Chesf.
Ao ser criada, a AGTURB absorveu os guias da Chesf como associados e, deles, ainda está nesta Associação o ex-chesfiano Pedro Ribeiro. Paralelamente, a Chesf continuou com seu trabalho de receptivo e, ainda hoje atende a autoridades e aos estudantes de escolas técnicas e universidades em suas visitas técnicas às hidrelétricas.
Chesf em Paulo Afonso, não é só geração e transmissão de energia hidroelétrica. O potencial turístico é fantástico!
No momento em que a Chesf deixa a sua condição de ser empresa estatal, certamente os seus diretores terão olhares também bem atentos para o rico potencial turístico existente em sua área de atuação, como mais uma grande oportunidade de negócios.
Estão na área de gestão da Chesf em Paulo Afonso, cinco grandes usinas hidrelétricas, três delas subterrâneas, fato único nas Américas, talvez no mundo.
Também estão na área da hidrelétrica, o início do cânion do rio São Francisco, que começa na Cachoeira de Paulo Afonso e segue por 65 quilômetros até a Usina Hidrelétrica de Xingó.
Todo esse cânion, a partir da Ponte Metálica D. Pedro II, logo após a Usina Hidrelétrica Paulo Afonso-4, é totalmente navegável com sua parte inicial de 17 quilômetros em território do município de Paulo Afonso com paredões de até 100 metros de altura e profundidade até de mais de 170 metros. O reservatório de Xingó, no cânion do rio São Francisco está nos Estados da Bahia, Alagoas e Sergipe.
Além dele, a Chesf administra outros grandes lagos da região, como o grande reservatório de Moxotó com 1,2 bilhão de metros cúbicos de águas que chegam a municípios de três estados nordestinos – Bahia, Alagoas e Pernambuco.
Há ainda os lagos/reservatórios Delmiro Gouveia, ao lado do Obelisco e do Monumento ao 1º Decênio da Chesf, o Parque Belvedere, o Lago do Capuxu e o Lago do Belvedere, ao lado do Parque Belvedere, Lago do Touro e Sucuri, Lago Aurora, Lago Abelardo Wanderley, o Canal do Lago PA-4 e o Lago da Usina Paulo Afonso 4, onde se realiza anualmente a Copa Velas de Paulo Afonso, criada há 30 anos e considerada pelos velejadores como uma das melhores raias do Brasil para a prática de esportes náuticos.
Memorial Chesf, Modelo reduzido e Grande Hotel de Paulo Afonso
O Memorial Chesf, que completou em 2022, 25 anos de sua inauguração é equipamento de apoio, também para o turismo. Possui auditório, museu, biblioteca e tem sido uma espécie de Centro de Convenções de Paulo Afonso, cedido pela Chesf para um sem número de eventos. As visitas turísticas às áreas da hidrelétrica poderiam começar por ali.
O Modelo Reduzido de Paulo Afonso, existente ao lado do atual centro administrativo da Chesf (antigo CFPPA) foi, durante muitos anos, parte do roteiro de visita às áreas da Chesf e, especialmente as crianças, se sentiam gigantes entre as miniaturas das casas, usinas, barragens, como acontece no Mini Mundo, em Gramado.
O Grande Hotel de Paulo Afonso, de propriedade da Chesf (União) funcionou durante décadas, ora mantido pela Varig e a Rede Tropical de Hotéis, ora por uma grande empresa. A sua localização privilegiada, na borda do cânion e com vista para o parque hidrelétrico e o teleférico o fazia preferido dos hóspedes. Está fechado há anos. O que se vai fazer com esse belo patrimônio? Poderia ser reaberto pela hidrelétrica ou por empresa de turismo a ela ligada.
Paulo Afonso possui um bom aeroporto e, no próprio município há outros atrativos como o Raso de Catarina, a Serra do Umbuzeiro, e a história do Cangaço que tem raízes muito fortes na região.
A localização geográfica de Paulo Afonso é também muito favorável. O município, no Nordeste da Bahia, se limita com os estados de Alagoas, Sergipe e Pernambuco está ao lado.
Municípios que despontam por seu potencial turístico na região como, Glória e Santa Brígida/BA (turismo religioso),Água Branca, Delmiro Gouveia e Piranhas em Alagoas e Canindé do São Francisco/Xingó e Poço Redondo, em Sergipe, além da Usina Luiz Gonzaga, em Petrolândia/PE estão a uma distância inferior a 100 quilômetros o que atende aos interesses dos turistas que declararam em pesquisa recente que preferem viagens de curta distância.
Há a expectativa que a Chesf, diretamente ou através de empresa especializada em turismo, poderá, não só reativar o teleférico existente, que liga a Bahia a Alagoas, separados por 300 metros do vão do cânion e a 100 metros de altura do espelho d`água do leito do rio, como poderá investir na instalação de muitos outros teleféricos nesta área e outras próximas, talvez até entre a Ilha do Urubu, na Bahia, e o lado alagoano, sobre as cachoeiras de Paulo Afonso.
As cachoeiras de Paulo Afonso – Desde D. Pedro II
No que se refere especificamente às cachoeiras e quedas d`água de Paulo Afonso, que atraíram o Imperador D. Pedro II há mais de 160 anos atrás (20/10/1859) elas só existem na área da Chesf e são formadas com a abertura de comportas dos braços, Capuxu (lado baiano), braço do Taquari, braço do Quebra e braço Principal, (lado alagoano) todas da barragem Delmiro Gouveia.
Escritores sobre turismo, especialistas, têm apresentado relatos dando conta que a Cachoeira de Paulo Afonso merece nota 10 quanto à sua importância para o turismo, como afirma Alejandro Luiz, em estudo feito a pedido da Chesf, no final do século passado, onde ele afirma:
“A região apresenta um desses pontos exponenciais – a Cachoeira de Paulo Afonso – uma das cinco maiores do mundo em volume de água associado à altura, e com certeza, a única situada em áreas semiárias ou desérticas, sendo, por essa razão atávica , a exemplo de Foz de Iguaçu, capaz de magnetizar e atrair visitantes de todas as regiões do país e de outras partes do mundo.”
E, acrescenta Alejandro em outro momento do seu relatório:
“Com a natural universalização das preocupações ambientais, o fato de se fazer renascer um acidente natural do porte da Cachoeira de Paulo Afonso, que poderia ser facilmente incluído como patrimônio ambiental da humanidade, torna-se notícia e alvo de interessa da aldeia global, garantido marketing mundial espontâneo”.
As muitas quedas d`água de Paulo Afonso
- Queda do Capuxu, que se forma quando é aberta parte de uma das duas comportas do braço do Capuxu, único do lado baiano.
- Drenos de Areia – A queda do Capuxu, é vista do local conhecido com Drenos de Areia que também formavam belas quedas d`água e foram criados para evitar que pequenas pedras, areia e outros materiais entrassem na tubulação das usinas. Há alguns anos foram fechados. Talvez possam ser reabertos, o que aumenta ainda mais a atratividade do local.
- Quedas do Croatá – são muitas quedas próximas, das mais belas de todo o complexo, formadas principalmente pela abertura das comportas dos braços do Quebra e Taquari.
- Véu da Noiva – na margem baiana do rio São Francisco, de frente para a Cachoeira de Paulo Afonso. (acima, vista do Mirante da Cachoeira, na Ilha do Urubu/BA e abaixo, vista do mirante do Limpo do Imperador, margem alagoana)
- Cachoeira de Paulo Afonso, na margem alagoana, ao lado da Usina Angiquinho (vista do Mirante da Cachoeira, na Ilha do Urubu/BA)
Abertura periódica da Cachoeira de Paulo Afonso
Com base nesses estudos e a pedido do então presidente da Chesf, João Bosco, criei um projeto de abertura periódica da Cachoeira de Paulo Afonso que foi enviado, pela gestão municipal do Prefeito Raimundo Caires à Agência Nacional das Águas – ANA e, tempos depois, técnicos da ANA estiveram visitando a Cachoeira e ali foram feitos testes de vazão e, segundo o técnico responsável, para a ANA não haveria problemas nessa reabertura programada, mas ainda dependia de parecer do ONS. Por esse tempo, foi priorizado projeto de transposição do rio São Francisco e não se teve informação sobre a abertura periódica da Cachoeira de Paulo Afonso.
Também isso agora pode ser retomado, obviamente a partir de criteriosa análise técnica, definição de prioridades para o uso dessas águas e das condições de chuvas e disponibilidade do reservatório de Sobradinho.
Usina Angiquinho – outro potencial turístico adormecido
Em 1913, o cearense Delmiro Gouveia viu na Cachoeira de Paulo Afonso mais que sua grande beleza. Era poderia ser grande fonte de riqueza e construiu ao seu lado a Usina Angiquinho, adquirida pela Chesf em 31/10/1957 e desativada desde o ano de 1960. (Angiquinho, 100 anos de História , livro do autor -2013).
A Usina Angiquinho foi tombada como patrimônio histórico pelo governo do Estado de Alagoas em 30 de novembro de 2006..
Todas as históricas instalações da Usina Angiquinho e a área no seu entorno são também um grande potencial turístico gritando para ser aproveitado.
A Eletrobras/Chesf tem em Paulo Afonso, cinco grandes usinas hidrelétricas e ainda, na região, como parte desse complexo, a Usina Luiz Gonzaga, em Petrolândia/PE e a Usina Hidrelétrica de Xingó, na divisa dos estados de Alagoas e Sergipe, todas instaladas num raio de 80 quilômetros.
Elas são responsáveis por cerca de 85% de toda a energia de fonte hidráulica gerada pela Chesf.
A Chesf, sem as amarras da gestão estatal, especialmente em Paulo Afonso, tem a possibilidade de explorar o rico tesouro chamado turismo, responsável pela economia de países como a França, Espanha, Itália e muitos outros.
Quando concluí uma especialização em turismo na UNEB (2000) e um mestrado em Ciências da Educação – Turismo, na Universidade Internacional de Lisboa/Portugal (2005) procurei mostrar o grande potencial do turismo em Paulo Afonso e na Região dos Lagos do rio São Francisco ainda adormecido.
Ao ter aprovada a minha defesa, o meu arguidor, Professor Doutor Nelson Xavier, do Curso de Doutorado em Turismo de Portugal e Espanha fez uma observação que nunca esqueci. Ele disse: “Eu só não entendo como vocês têm tanto e não têm nada...”
Poderá então a Chesf trazer a resposta ao Professor Xavier mostrando, diretamente ou através de grande empresa do ramo, que todo esse potencial renderá os frutos que dele se espera.
Desde a edição Nº 1, de 18/2/2004, do Jornal Folha Sertaneja, que se tem falado nesse grande potencial adormecido, pouco valorizado pelas gestões municipais...
Agora, ao completar 19 anos, este jornal volta ao tema, com a grande expectativa que a Chesf que comemora os seus 75 de vida em 15 de março e tem sido, há décadas, a maior empresa do Nordeste tem agora mais um motivo para continuar grande em outra área da economia: o turismo.
A expectativa é voltar sempre a esse tema mostrando o quanto o turismo é importante para a economia local e regional.
Antônio Galdino da Silva
Turismo – UNEB e Lisboa/Portugal
Cidadão de Paulo Afonso
professor.gal@gmail.com
Parabenizo pela excelente reportagem.Realmente parafraseo, sempre, o eminente doutor português: "como temos tanto e não temos nada?".O potencial turístico da região é fantástico. Tive a oportunidade, ímpar, de passar 5 anos dedicados ao estudo desse diamante bruto, em companhia de dezenas de outros eatudiosos e sob a tutoria de mestres e doutores em turismo, arqueologia e geografia. E esta também era a conclusão deles durante os trabalhos.Leio esta matéria em um momento muito triste para Paulo Afonso quando um de seus filhos "adotados" mais ilustres parte à eternidade. Por coincidência recordo-me que a esposa do Prof Silva foi uma das primeiras atuantes da área de turismo receptivo pela Chesf e ele, como já bem relatado por este jornal em outras matérias, um dedicado educador, versátil também em administração. Meu caro Meatre Galdino, sua missão como farol turístico e literário é sublime e, também como educador que sai egresso das salas de aula, assumistes a missão de tentar educar nossa gente acerca de como lapidar nosso "eterno potencial", assim diziam e dizem as dezenas de turismologos formados pela FASETE.Que o Pai Celestial nos abençoe e guie ao turismo sustentável.Comend. Luciano JúniorTurismólogo
Extraordinária reportagem sobre o potencial turístico que pode vir a ser explorado pela agora privatizada Eletrobrás.