No momento em que a Prefeitura de Paulo Afonso anuncia a retomada do trabalho do que hoje se chama de requalificação, ou obra de restauração, do Estádio Municipal Álvaro de Carvalho, é importante que os pauloafonsinos e da região, especialmente os mais jovens que não conhecem ou não vivenciaram os áureos tempos do futebol em Paulo Afonso conheçam um pouco da história desse Estádio de Futebol.
Na verdade, os seus primeiros momentos foram vividos ainda bem antes da chegada da Chesf à região, como narra o pioneiríssimo de Paulo Afonso, Luiz Fernando Motta Nascimento (chegando aos 84 anos de vida) em seu livro Luz e Força Movendo o Nordeste (EGBA, Salvador/BA, 1998).
Ali ele narra que, em 1946 chegou a Paulo Afonso com o seu pai, mestre eletricista Alfredo Hermínio de Carvalho, conhecido como Mestre Alfredo que veio trabalhar na construção da Usina Piloto, que estava sendo construída pelo Ministério da Agricultura em Forquilha, hoje Paulo Afonso.
Para a guarda do material da obra da Usina Piloto, foram construídos grandes galpões e um deles é hoje o Salão Principal do Clube Operário de Paulo Afonso.
Nesse galpão, aproveitou-se um espaço e ali foi construída uma sala de aulas para os filhos dos trabalhadores na obra da Usina Piloto, dentre eles Luiz Fernando e seu irmão Hélio. As aulas eram dadas pelo Sr. Júlio Valentim da Silva que foi, então, o primeiro professor de Paulo Afonso, mesmo sem ter formação acadêmica para tal, até porque não existiam professores nessas terras, naquele tempo.
Ao lado do galpão onde funcionava a sala de aulas, tudo era caatinga e como o Sr. Júlio Valentim precisava também fazer exercícios com os seus alunos, o que depois seria aula de educação física, ele e os seus alunos começaram a limpar o espaço da caatinga ao lado do galpão/escola e ali se criou um espaço para essas atividades de lazer e esporte. (Os Caminhos da Educação, de Antônio Galdino da Silva, Ed. Oxente, Paulo Afonso-BA, 2021)
Com a chegada da Chesf, a partir de 1948, esse espaço foi totalmente limpo e se transformou em campo de futebol, também muito utilizado como espaço de lazer para os empregados, pois ali, em datas como o Dia do Trabalho (1º de maio) e no Natal, eram estendidas lonas em grandes espaços e ali, a diretoria e os empregados tinham uma alegre confraternização, com direito a provas desportivas como os famosos “cabos de guerra”, disputados entre trabalhadores de vários órgãos da Chesf.
Ali, era o Poeirão...
Em seu livro, ainda inédito, chamado Ecos do Futebol de Paulo Afonso e outros Esportes, esperando apoio para ser publicado, Nilson Brandão conta a história do futebol de Paulo Afonso, desde sua origem aos tempos áureos de glória e sua decadência mais recente.
Sobre o chamado de Estádio da Chesf ele lembra que ele “hoje está rodeado por residências das ruas Petrolina e Flamboyants, pelo Clube Operário de Paulo Afonso – COPA e Universidade do Estado da Bahia – UNEB, Campus VIII. No passado, o local em que está localizada a UNEB (antiga Escola Parque) era um mercado público e dois dos boxes desse mercado público, construído pela Chesf, eram utilizados como vestiários para quem ia jogar nesse campo”.
Brandão lembra também que . “Nosso histórico campo de futebol, mesmo sem gramado e outras coisas mais, foi palco de grandes jogos nas duas décadas áureas de sua trajetória: a de 50 e a de 60. Ali, jogaram: Bonsucesso do Rio de Janeiro, Sport Club do Recife - PE, Esporte Clube Bahia - BA e Treze de Campina Grande - PB.
Na época, para a comunidade de Paulo Afonso, aqueles amistosos estavam de bom tamanho e orgulharam os que de futebol gostavam. Um luxo só.”
E destaca ainda o apaixonado pelo futebol e outros esportes, Nilson Brandão, comentarista esportivo das rádios Cultura e Bahia Nordeste de Paulo Afonso por muitos anos, décadas.
“Ressaltamos que naquelas duas décadas douradas, a de 50 e a de 60, foi significativo demais para o futebol de Paulo Afonso o empenho, o entusiasmo, a determinação e paixão demonstrada ao desporto de nossa cidade por aquele funcionário da CHESF que aqui chegou, de nome Álvaro de Carvalho.
Ele era carioca, torcedor do flamengo, rubro-negro de coração, fumava charuto e estava sempre aberto para conversar com as pessoas que o procuravam. Um exemplo clássico de desportista nato a quem o futebol de Paulo Afonso haverá de ser grato independentemente de que as gerações e os tempos passem.”
E segue o narrador Nilson Brandão: “Aqui, em Paulo Afonso, podíamos até não possuir um pomposo estádio, mas tínhamos uma senhora seleção, que era formada por um bom número de funcionários da CHESF, a maioria deles motoristas, vigilantes e alguns trabalhadores que ocupavam função administrativa nos escritórios daquela Empresa.
O torcedor tinha na ponta da língua o nome de cada jogador e a posição dele no campo de jogo quando atuava pela Seleção de Paulo Afonso
No campo de jogo, Álvaro de Carvalho chegou a dizer por diversas vezes que nosso adversário mais difícil era o selecionado da cidade alagoana de Santana do Ipanema. Quando Paulo Afonso perdia, “Seu” Carvalho – como popularmente era chamado - atribuía os méritos adversários “à Santa” (Santa Ana do Ipanema). É que ele ficava inconformado quando o nosso selecionado era derrotado. Estava no sangue, era paixão, zelo demais!”
Pois bem, ainda na condição de ser o “Estádio da Chesf” e por ela mantido e conservado, a hidrelétrica promoveu uma grande reforma e em 1976, foi inaugurado naquele espaço o Estádio Ruberleno Oliveira, que ganhou esse nome como uma homenagem que a Chesf fez a este engenheiro, Ruberleno Oliveira que trabalhou na sua construção e morreu naquele tempo.
A partir dos anos de 1990, a Chesf, obrigada por decisão do governo federal de Fernando Collor e depois de Fernando Henrique, a cuidar apenas da produção, transmissão e comercialização de energia elétrica passou a se desfazer de outras atividades como o zoológico, as escolas, os clubes sociais e em 1999 transferiu, doou, o Estádio Ruberleno para o município de Paulo Afonso, durante a gestão do Prefeito Paulo de Deus, no seu primeiro mandato.
No ano de 2000, o então vereador e grande desportista Paulo Lopis, de saudosa memória, apresentou na Câmara Municipal um Projeto de Lei mudando o nome de Ruberleno Oliveira para Álvaro de Carvalho, o chesfiano de que fala Nilson Brandão, também grande desportista desde os primeiros tempos da Chesf.
O Projeto de Lei Nº 002/2000, de 17 de fevereiro de 2000, do vereador Paulo Lopis da Silva, foi aprovado por unanimidade dos vereadores presentes na Sessão da Câmara Municipal de Paulo Afonso Nº 1.208, do dia 6 de junho de 2000 e foi sancionado pelo Prefeito Paulo Barbosa de Deus como Lei Municipal Nº 894/2000.
Na justificativa desse Projeto de Lei, o vereador Paulo Lopis da Silva diz:
“Álvaro de Carvalho foi o maior desportista de Paulo Afonso, nas décadas de 1950 e 1960. Sob o seu comando, o futebol de Paulo Afonso tornou-se conhecido em todo Nordeste, tendo nossa seleção alcançado resultados surpreendentes enfrentando equipes profissionais até do sul do país.
Além de funcionário exemplar da Chesf, Álvaro de Carvalho, tinha uma paixão pelo futebol de Paulo Afonso e dele partiu a iniciativa de tornar Paulo Afonso não só conhecida em razão das belezas naturais da Chesf, mas também pelo excelente futebol praticado por nossa seleção.
Estas e outras virtudes de Álvaro de Carvalho, justificam plenamente a homenagem pois, foi ele, que realmente engrandeceu o nosso futebol e o local mais adequado para homenageá-lo é justamente o único estádio de futebol de Paulo Afonso.”
Nesse 11 de abril, jogadores veteranos, a imprensa local, vereadores, secretários municipais de Paulo Afonso estiveram nesse campo de futebol para aplaudirem o prefeito em exercício, Marcondes Francisco ao assinar a Ordem de Serviço da total reforma, hoje chamada requalificação desse Estádio de Futebol. Na mente desses veteranos jogadores certamente passou um filme das belas tardes ensolaradas dos domingos, a bola rolando por aí, o grito de gol dos torcedores.
É como aparecessem num enorme telão, a Seleção dos tempos de Silva, Gallindo, Hélio Flávio, Tota, Vadinho, Farmácia e tantos outros ainda hoje lembrados ou a Seleção mais recente e seus muitos mascotes...A rivalidade no campo de Olímpico e Caveira, ou ver o Olímpico dos tempos de Seu Diogo Andrade Brito ou o Redenção apoiado pelos comerciantes como o Seu Dernival Oliveira, do Hotel São Francisco, o pai do Secretário Dernival Jr., o Esporte Clube Brasil, de José Freire, que também foi do time do Copa, e o Rondon, a Portuguesa, o Palmeiras de Bala do BTN e tantos outros...
Esse momento de euforia desportiva ou futebolística, no caso, nos remete aos grandes times de ontem, à participação da Seleção de Paulo Afonso nos Intermunicipais
E, por certo, numa projeção do futuro, levaram esses jogadores pioneiros a ver seus filhos e netos nesse espaço, defendendo as cores do seu time, estimulados até pela promessa do prefeito em exercício, Marcondes Francisco ao dizer: “As tardes de domingo não serão mais as mesmas porque o Estádio Álvaro de Carvalho, o antigo Ruberleno, estará de volta”.
O que se vê nesse gesto do prefeito em exercício é um renovar de esperanças que se deseja que,desta vez, dê certo e até já estão me perguntando aqui quais as equipes que farão o jogo de reinauguração do Estádio Álvaro de Carvalho e quando será esse jogo...
O povo tá doido pra ver a bola rolando de novo no gramado desse campo.