No dia 6 de setembro de 2023, quem completou 100 anos de vida foi a Sra. Noélia Bezerra da Silva, que chegou a Paulo Afonso nos primeiros momentos de vida do Povoado Forquilha, ainda no começo dos anos de 1950.
Há mais de 70 anos que ela mora bem ao lado da Catedral de Nossa Senhora de Fátima, que ela viu ser construída e teve a sua primeira missa no dia 16 de janeiro de 1955, um dia depois da inauguração da 1ª Usina da Chesf.
Certamente que muitos estão se perguntando quem é essa senhorinha, D. Noélia, mas logo vão se lembrar quando eu disser que essa senhorinha que chegou aos 100 anos de vida é D. NOQUINHA, que trabalhou muito tempo no comércio de Paulo Afonso e nas feiras da região.
Quando escrevi o livro De Forquilha a Paulo Afonso – Histórias e Memórias de Pioneiros, lançado em fevereiro de 2014, uma das personagens pioneiras de Paulo Afonso que tive a alegria de registrar foi esta senhora chamada Noélia Bezerra da Silva, (página 363 e seguintes) uma representante em Paulo Afonso da numerosa Família Bezerra que, com esse nome, muita gente dizia não conhecer. Mas quando eu perguntava se conheciam D. Noquinha e se informava que Noélia e Noquinha eram a mesma pessoa, todos abriam um largo sorriso.
Ah! D. Noquinha, todos conheciam, sabiam de suas habilidades com o artesanato, do seu trabalho nas feiras livres nos primeiros tempos de Paulo Afonso.
No ano de 2022, o pastor e escritor Antônio Martins Bezerra lançou o livro chamado Memorial da Família Bezerra (388 páginas, ArtNet Comunicação – Aracaju/SE) em que fala da saga desta Família Bezerra no Brasil, desde a sua origem na Galícia/Espanha à sua chegada ao Brasil, por Pernambuco, ainda no ano de 1535 e sua presença, especialmente no Nordeste.
Neste livro, Antônio Martins destinou 9 páginas – 134 a 142 para homenagear D. Noélia Bezerra (Noquinha) e seus descendentes com muitas fotos e ali, reproduziu este capítulo do meu livro sobre D. Noquinha, por ser ela uma representante dessa família na região.
No lançamento deste livro, em 2022, no Povoado Malhada Grande, lá estava D. Noquinha, então com 98 anos, recebendo o seu exemplar desse livro do seu conterrâneo escritor, nascido, como ela na cidade de Riachuelo, em Sergipe.
Ela nasceu ali em 6 de setembro de 1923, há exatos 100 anos e 3 dias, filha de Argemiro Martins Bezerra e Maria São Pedro Bezerra (Mariquinha).
Ainda no começo do ano de 1950 veio para Paulo Afonso sendo uma das pioneiras do comércio local, ao lado de D. Risalva e outros comerciantes daquele tempo.
Isso aconteceu depois do seu segundo casamento com Boaventura José da Silva, da Lagoa da Pedra, comerciante de redes, e com ele começou um pequeno negócio, no mesmo lugar onde ainda mora hoje, ao lado da Catedral Nossa Senhora de Fátima, na Avenida Getúlio Vargas, que na época era conhecida como Rua da Frente, Centro de Paulo Afonso, no Estado da Bahia.
Primeiro foi uma pequena bodega onde vendia alguns produtos mas era também bar que recebia, de vez em quando alguns bebuns inconvenientes.
D. Noquinha convenceu o marido a acabar com a bodega e começou a vender biscuits, flores, artigos de artesanato, que ela mesma confeccionava, como arranjos para noivas, bonecas, artigos para ornamentação e decoração, além de peças de linhas para costura e bordado e ficou sendo uma referência comercial no que se refere a comercialização desses produtos.
O Armarinho Popular, de D. Noquinha chegou a ser o fornecedor desses artigos para lojas grandes do comércio de Paulo Afonso, como a Casa das Linhas, de seu Nelinho, o Bazar das Novidades de D. Risalva e seu Raimundo Toledo e outros.
Em 1960, quando a feira livre saiu da Chesf para a Av. Getúlio Vargas, D. Noquinha combinou com o marido para colocarem uma banca na feira, que ficou conhecida como a Banca de D. Noquinha.
Mas o casal sentiu a necessidade de expandir o seu negócio e vender também nas feiras de outros municípios da região e visitar povoados da zona rural.
Para isso, precisavam de um transporte e foram juntando um dinheirinho até que Boaventura realizou o sonho de comprar um Jeep que ele tinha visto numa revendedora do Recife.
Com o Jeep, colocavam os produtos do armarinho numas caixas e viajavam para Glória, Água Branca e outros municípios da região.
Às vezes, conta D. Noquinha, nas viagens para os povoados, quando as pessoas não tinham dinheiro, pagavam os produtos com gêneros alimentícios das roças.
Com o trabalho intenso, o casal foi economizando, comprou uma camionete e ainda construiu uma casa para aluguel, ao lado de onde hoje ainda mora D. Noquinha. Um dos seus inquilinos foi Duda Dentista. Depois, venderam a camionete para adquirir material para construir a sua casa.
Houve um tempo em que a família de D. Noquinha viveu dias de ansiedade e preocupação. Ela adoeceu, teve uma pneumonia e o seu estado de saúde ficou tão delicado que o Dr. Militão, médico diretor do Hospital Nair Alves de Souza, lá pelos anos de 1960, chegou a dizer que D. Noquinha “estava com a vela na mão”.
Mas o médico errou no “diagnóstico” porque D. Noquinha, depois de quatro meses hospitalizada, recuperou-se e continuou a sua caminhada sempre de bem com a vida! E já passou dos 100 anos...
Em 1988 enviuvou pela segunda vez e foi mãe e pai dos cinco filhos, Adigenal, Silvana, Sineide, Evandro e Evilásio “todos eles hoje bem encaminhados da vida”, ela dizia em 2013 quando eu concluía a pesquisa para o livro.
Enquanto a visão lhe favoreceu, era uma leitora assídua do Jornal Folha Sertaneja, o que muito me honrou. Depois, a visão foi ficando pouca e isso lhe traz alguma inquietação...
Ela lembra que, para a construção do Ginásio Sete de Setembro, muitos comerciantes, e ela estava entre estes, doavam um valor mensal para essa obra que hoje é um grande colégio, referência na qualidade da educação no município de Paulo Afonso.
Também fala que acompanhou a construção da Catedral N. S. de Fátima, bem ao lado de sua casa e lembra que viveu em Paulo Afonso muitos anos, em casas sem luz elétrica e água encanada.
De fato, os moradores da chamada Vila Poty viveram cerca de 12 anos sem energia elétrica nas ruas e nas residências, enquanto do outro lado do muro que a Chesf construiu separando a Vila Poty do chamado Acampamento da Chesf era luz em abundância nas ruas e nas casas e D. Noquinha acompanhou toda essa história de Paulo Afonso, por muitas décadas.
Sobre a iluminação da Vila Poty, ela confirmou o que me havia falado o Vereador José Rudival de Menezes, in memoriam, que, para que fosse feita a iluminação da Vila Poty, ele, vereador, aproveitou uma visita do presidente Jânio Quadros às obras da Chesf e fez um requerimento pedindo ao presidente da República um gerador para a Vila Poty, uma vez que a Chesf e a Codevasf, na época, ficavam empurrando o problema para uma e para a outra, sem solução.
Contou Rudival que a notícia se espalhou pela imprensa e que o presidente Jânio Quadros determinou ao seu ministro da área que iluminasse a Vila Poty em 90 dias, o que foi feito.
Este ano, para comemorar os 100 anos de D. Noquinha, sua família decidiu receber os muitos visitantes no Centro Comunitário de Glória e ali festejarem os 100 anos dessa doce senhorinha, no dia 7 de setembro, num evento muito significativo para todos, mas isso acabou não acontecendo e, de última hora, as homenagens aconteceram na casa em frente ao Lago do Capuxu, cedida por Marcondes Francisco.
Marcondes Francisco, prefeito em exercício, que estava acompanhado de Florisvaldo (Marrom) e Everaldo Bezerra Patriota, também foi levar o seu abraço à aniversariante centenária, D. Noquinha.
E foram muitos os que chegaram para abraçá-la, vindos do Rio de Janeiro, da Bahia, de Pernambuco, de Sergipe, pois D. Noquinha teve 5 filhos: Adigenal, Silvana (Simone), Sineide, Evandro e Evilásio. Esses filhos lhe deram oito netos e nove bisnetos. Os netos são: Rosana, Rodrigo, Rogério, Paulo, Iana, Aline, Fernanda, Alexandra e Vinícius. Os bisnetos são: Maria Laura, Igor, Davi, Ana Carolina, Maria Valentina, Maria Clara, João, Giovana e Iam e o bisneto Miguel, filho de Vinícius. Dos filhos, Adigenal não pode comparecer e foi representado por uma filha.
Quando a aniversariante chegou ao local da homenagem, foi recebida com muitos aplausos e seguiu-se uma breve celebração.
Foi feita uma leitura bíblica alternada com versículos dos Salmos e do livro de Paulo aos Coríntios.
- Filhos: Bendize, ó minha alma ao Senhor, e tudo que há em mim, bendiga ao seu santo nome. Bendize, ó minha alma ao Senhor, e não te esqueças de nenhum dos seus benefícios. (Salmos 103:1-2)
- Netos: Graças a Deus, que sempre nos faz triunfar em Cristo. (II Coríntios 2:14)
- Todos: Grandes coisas fez o Senhor por nós, por isso estamos alegres. (Salmos 126:3).
Seguiu-se um momento de congratulações e uma palavra de reflexão pela Padre Washington Luiz Bezerra. Um cântico, “Maravilhosa Graça”, encheu o ambiente e foi seguido de uma palavra de reflexão pelo Pastor Antônio Martins Bezerra.
Com os agradecimentos finais pela presença de tantos nessa data especial cantou-se o Parabéns para você, pelos 100 anos de D. Noquinha, todos certos que a longevidade é grande bênção de Deus para os seus amados.
Pastor Antônio Martins Bezerra, a sua esposa Maria Dantas S. Bezerra e a filha Késia Bezerra. Moram em Aracaju
Conta Evilásio que no final da reunião festiva que começou por volta das 4 horas da tarde do feriado do 7 de setembro e se estendeu até às 8 da noite, D. Noquinha, voltando para casa mostrava-se bem animada e garantiu a todos que subiria os 23 degraus que levam ao andar onde mora, em sua casa sozinha, sem a ajuda de ninguém. E assim fez, acompanhada de perto pelos familiares.
Renovo aqui a minha gratidão a Deus que me permitiu conhecer esta senhorinha que completa um centenário de vida, sempre intensa. E deixo aqui os meus maiores aplausos para D. Noélia Bezerra da Silva, como está no registro civil, mas para todos que conviveram com ela nessas muitas décadas de caminhada por estas terras sertanejas, dê cá um abraço, D. NOQUINHA!
E PARABÉNS, pelos 100 anos de vida. Que Deus continue abençoando a tua caminhada!
Deixamos algumas fotos das quase duas centenas recebidas pelo site, marcantes desse momento inesquecível.
Evilásio, à direita.
Marlene, à direita.
Noêmia (irmã), Lourdes (mãe de Marlene) Marlene e Vinícius
Marlene, Vinícius e Edmilson
Parabéns para esta história viva!
Parabéns D.Noguinha🎁💕🌻Merece todas homenagens💫 Fui muito na sua loja comprar linhas e outras coisa💐Estudei com Evandro , seu filho💙Feliz vida🌹Feliz dia💫📖
Patrimônio de Paulo Afonso.Vida longa.
Parabéns dona Boquinha, que Jesus e Maria Santíssima continue a lhe abençoar e te dar saúde e muitos anos de vida, sinta-se abraçada por mim, quem tá tô lhe aperriou, bjão Jane de Maria Morais, neta de sua vizinha dona Quitéria, bjão 🌹💐🎉🥳
Que linda homenagem Sr. Galdino! Essa mulher centenária, guerreira, mãe, avó, bisavó, trabalhadora, minha sogra, D. Noquinha, tem muitos adjetivos. Ela é um exemplo de vida, como bem explana na matéria. Muito obrigada pela bela postagem!👍🏽Que Deus te abençoe, hoje e sempre!🙏🏼