Quando a Usina Angiquinho completou 100 anos de sua inauguração, em 2013, publiquei o livro ANGIQUINHO - 100 Anos de História, em parceria com João de Sousa, livro recomendado por universidades pela qualidade das informações que ali estão. 

Neste ano de 2023, nos 110 anos da Usina Angiquinho, estou retomando esse projeto, bem ampliado, mostrando a energia das águas do rio São Francisco geradas nas usinas hidrelétricas instaladas nesse rio, de Angiquinho a Xingó e trazendo um inédito texto de jornal italiano publicado em 1923, dez anos depois de Angiquinho, sobre o trabalho pioneiro de Delmiro Gouveia nesta região.  

A história de Delmiro Augusto da Cruz Gouveia, o sertanejo de Ipu/CE que deu vida a uma esquecida região do sertão alagoano é realmente empolgante e está sempre sendo lembrada pelos delmirenses como nesta semana de outubro que remete ao ano de 1917, quando esse visionário com os pés no chão, mas muitos anos à frente do seu tempo, foi covardemente assassinado, no dia 10 de outubro, quando lia, tranquilamente, no final da tarde, no alpendre de sua casa, os jornais do dia...

Em apenas 4 anos de vida intensa na Vila da Pedra, Delmiro Gouveia provocou uma revolução na região que muitos anos de governos anteriores, nem depois dele, não conseguiram fazer.

Com o que aprendeu com os americanos e europeus em suas viagens a outros países e a experiência do que deixou no Recife, revolucionando ali o comércio local, investiu na produção de energia hidroelétrica, aproveitando a força das muitas águas da Cachoeira de Paulo Afonso, no Estado de Alagoas, na divisa com a Bahia, terras do município de Água Branca, a que também pertencia o povoado, depois Vila da Pedra, agora, em sua homenagem a cidade/município de Delmiro Gouveia em franco desenvolvimento.

Foram só quatro anos e, nesse tempo, foram abertos centenas de quilômetros de estradas nas terras alagoanas por onde circulavam os veículos que ele introduziu nesses sertões. Nesses 4 anos, a energia e a água encanada percorreram 24 quilômetros na Caatinga para chegar à sua Fábrica da Pedra e a Vila Operária que ali construiu para abrigar os trabalhadores de sua fábrica de linhas de coser...

Ali, no primeiro quarto do século XX, foi criado um núcleo de civilização e de desenvolvimento jamais visto por esses sertões nordestinos.

Havia trabalho para centenas de pessoas e seus filhos, além de morarem nessas casas da Vila Operária, com luz elétrica e água encanada, sonho de muitos sertanejos ainda hoje, tinha que ir à escola, regularmente mas tinham também o acesso à sala de cinema fim de mundo, coisa de gente fina apenas das grandes capitais do país...

Da ideia pioneira de Delmiro Gouveia, nasceu a Chesf, 35 anos depois e completou o que Delmiro não pôde fazer por conta da visão míope e dos ouvidos moucos dos governantes daquela época.

Muito justo que se façam essas homenagens a Delmiro Gouveia, em outubro, como uma vigorosa reflexão da importância da vida mas também como uma forma de lembrar do legado que ele deixou para todos.

Importante lembrar dele no mês de junho, mês do seu nascimento, dia 5, no ano de 1863.

Aliás, interessante essas datas em relação a Delmiro Gouveia:

- 1863 – nasce Delmiro Gouveia em Ipu, no Ceará.

- 1903 - com 40 anos de idade, chegou a Água Branca/Alagoas.

- 1913 - com 50 anos de idade, inaugurou a Usina Angiquinho.

- 2023, 160 anos do seu nascimento, 120 anos de sua chegada a Alagoas, 110 anos da inauguração da Usina Angiquinho e, lamentavelmente, 106 anos de sua morte brutal, quando estava com 54 anos de idade. Os alagoanos, os delmirenses, continuam a homenagear, merecidamente, aquele que mudou a história destas terras sertanejas.

Tudo começou em 1903, com a sua chegada à região, mas os seus 4 últimos anos de sua vida mostram onde ele poderia chegar...

Ao decidir fixar-se nas terras alagoanas, Delmiro Gouveia buscou o apoio do seu amigo, Coronel e Senador Estadual, Ulysses Vieira de Araújo Luna, sendo por ele acolhido e hospedado na sua Fazenda Cobra. Com o apoio e a proteção desta influente e respeitada autoridade nessas terras sertanejas do município de Água Branca, cujo território abrangia grande área que incluía a região da Vila da Pedra e as terras da Cachoeira de Paulo Afonso, Delmiro Gouveia instalou-se na Vila da Pedra e começou a trabalhar as suas ideias de expansão comercial na região.

Primeiro, concentrou o seu comércio em couros de bovinos e peles de caprinos, construindo currais, açudes e curtumes. Com apoio dos irmãos Rossbach, firmou parceria com dois sócios italianos, Lionell Iona e Guido Ferrario, fundando a firma Iona&Cia, com sede em Maceió (AL). Fomentou o plantio de algodão para a própria indústria, criou a unidade de litografia para a confecção de rótulos comerciais, abriu estradas de rodagem em vários municípios, introduzindo os primeiros automóveis na região.

A marca de Delmiro nesta região nunca se apagará, com a estrela que mandou esculpir nos paredões do cânion, ao lado de Angiquinho.

Importante que essas lembranças estejam sempre presentes entre os moradores de Delmiro Gouveia, de todo o Sertão, de outras regiões nordestinas, do Brasil, para que o mundo saiba do valor desse homem para cada nordestino, alagoano, desde os seus contemporâneos aos que por aí vivem cada novo momento de sua caminhada...

Para homenagear este imortal sertanejo, aqui mostrado, sob a ótica do artista plástico e arquiteto Hilson Costa, a Prefeitura de Delmiro Gouveia, através da Secretaria de Cultura e com o apoio da Secretaria de Cultura do Estado de Alagoas e parceiros realiza a Semana Cultural 2023 – Viva Delmiro Gouveia, iniciada no dia 6 de outubro.

Esta a programação, que foi iniciada em 6 de outubro. enviada pelo Maestro Bacalhau para contato deste site www.folhasertaneja.com.br.

Hoje, 9 de outubro, haverá o Encontro de Escritores, às 18:30h. no Memorial Delmiro Gouveia.

E Viva Delmiro Gouveia!!!