Nota do Editor:
Há quatro anos atrás, em 18 de novembro de 2019, escrevi e publiquei nesse site uma crônica chamada O Natal virou ostentação, evocação ao consumo.
O texto, reforçado pelas poesias de Socorro Mendonça, membro fundadora da ALPA e Aldemar Paiva, mereceu a atenção de quase 1.600 pessoas.
Hoje, decidi republicar esse texto com o mesmo objetivo de lembrar a todos que o nascimento é de Jesus Cristo, aniversariante quase esquecido enquanto se exalta a figura de Papai Noel, que voa em seu trenó puxado por renas, invade as casas entrando pelas chaminés e sempre traz presentes para as crianças de todo o mundo. Mas, como se vê, nos barracos humildes, nas casas de taipa ou de papelão, mesmo em outros bem humildes e, naturalmente, sem chaminés, ele não chega...
Convém repensar os nossos conceitos nesses tempos de tanta modernidade... (Antônio Galdino, Editor do site www.folhasertaneja.com.br)
O Natal virou ostentação, evocação ao consumo! O aniversariante do mês e as crianças pobres, sem amor, continuam esquecidos...
Aproxima-se o Natal, que dizem, foi criado como oportunidade de reverenciar, adorar e conhecer a verdadeira história do mais importante aniversariante do mês de Dezembro, Jesus Cristo!
Que ledo engano! As pessoas têm a excepcional disposição de distorcer os objetivos das coisas e de dar a elas outras finalidades, outros interesses e ainda se utilizam da figura, da imagem do Senhor Jesus para dar brilho e valor aos seus próprios interesses.
E continua se espalhando pelo mundo a fora a imagem benfazeja do velhinho, gorducho, bonachão, que gira o mundo numa carruagem puxadas por remas voadoras, distribuindo presentes para todas as crianças...
Tem sido assim em todos os lugares. Nos grandes e fascinantes shoppings centers, às lojas de grife, de roupas, calçados, perfumes caríssimos, às banquinhas inexpressivas dos cantos de ruas, onde as luzes e as multicores dos enfeites natalinos chamam a atenção dos compradores de todos os níveis.
E todos se esquecem que Jesus, apesar das palavras do Profeta Isaías falando do grande poder do Messias, "Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz" (Isaías 9:6), Jesus nasceu em uma humilde manjedoura, num estábulo, ao lado dos animais que ali dormiam...
O Natal de Jesus, virou a festa da ostentação, a oportunidade do incentivo ao consumismo de todas as formas, da banca da esquina às grandes e sonhadas viagens aos países do primeiro mundo, à França, Paris, Roma, aos Alpes Suíços...
Os grandes empresários investem muito para ter retornos enormes…Há lugares que as luzes e cores do Natal começam a brilhar em Novembro e só se apagam no final de Janeiro.
O espetáculo é realmente lindo. O objetivo da festa é que mudou e os presentes de Papai Noel de mentirinha não chegam para quem realmente precisa de afeto e carinho...
Em todos os lugares, das grandes metrópoles às cidadezinhas dos cafundós do mundo, surgem programas de solidariedade, roteiros de festas faraônicas, bandas de músicas nas ruas que são enfeitadas para levar a alegria a muitos, sofredores todo o tempo, ignorados sempre, esquecidos, anônimos, de todas as idades, comendo das sobras de outros e do lixo, dormindo nas calçadas, embaixo das marquises, seres invisíveis da sociedade...
O Natal é o cenário, a fachada ideal para alguns mostrarem-se ao mundo com benfeitores da humanidade, cuidadores desses desvalidos, preocupados com essas crianças de rua...
Porque as belas ações que emocionam a tantos não estão sendo realizadas a todo instante, em todos os lugares, por todas as pessoas?
Fala-se que cerca de 400 milhões de pessoas no mundo vivem em situação de extrema pobreza e a metade dos pobres são crianças, sem escolas, sem comida, vestindo trapos, sem saúde...
Para elas, datas como Dia da Criança, Dia das Mães, Natal, não existem...
Eu me lembrei de um poema de Machado de Assis em que ele questiona: “Mudou o Natal, ou mudei eu?”
Esse é um tempo de correrias, de gente sem tempo para ler um texto, uma poesia. Ainda assim resolvi escrever esta crônica, como um chamado à reflexão.
E para tanto, me inspirei em dois poemas. Um da escritora, poetisa Socorro Mendonça, da Academia de Letras de Paulo Afonso que, de forma magnífica também questiona, em lindos versos, esse comportamento da humanidade. Outro, bem antigo e muito conhecido, do poeta Aldemar Paiva, questionando a ilusão da figura do Papai Noel.
Reproduzo esses dois poemas aqui, para reflexão daqueles que decidirem dedicar um pouquinho de tempo para lê-los.
É a nossa mensagem. Com poesia. Para pensar!
Antônio Galdino da Silva –
Paulo Afonso, BA., 18 de novembro de 2019
Republicado em 13 de dezembro de 2023.
Ilustrações: humorpolitico.com.br e net
O Natal se aproxima, mas as pessoas, não.
Socorro Mendonça (ALPA – Cadeira 10)
Falamos muito em Natal
Planejamos um jantar
Lista de muitos presentes
Tudo cheio de emoção
Mas deixamos de olhar
Criança de pé no chão
Ela tem fome de AMOR
De cuidado e atenção
Brinca no lixo do luxo
Ninguém lhe estende a mão
É um sobejo social.
O Natal se aproxima
Mas as pessoas, não.
Compramos belos presentes
Para festejar o Natal
O vinho tem que ser caro
E ter taças de cristal
É festa de aparências
Papai Noel vai passar
Tem fogos pra animação...
A criança da favela
Faminto e de pé no chão
Só tem direito a comer
Migalhas que sobrarão
Não sonha não tem presente
O Natal se aproxima
Mas as pessoas, não.
Eu não gosto de você, Papai Noel!...
Aldemar Paiva
Eu
não gosto de você, Papai Noel!
Também não gosto desse seu papel
de vender ilusões à burguesia.
Se os garotos humildes da cidade
soubessem do seu ódio à humildade,
jogavam pedra nessa fantasia.
Você talvez nem se recorde mais.
Cresci depressa, me tornei rapaz,
sem esquecer, no entanto, o que passou.
Fiz-lhe um bilhete, pedindo um presente
e a noite inteira eu esperei, contente.
Chegou o sol e você não chegou.
Dias depois, meu pobre pai, cansado,
trouxe um trenzinho feio, empoeirado,
que me entregou com certa excitação.
Fechou os olhos e balbuciou:
“É pra você, Papai Noel mandou”.
E se esquivou, contendo a emoção.
Alegre e inocente nesse caso,
eu pensei que meu bilhete com atraso,
chegara às suas mãos, no fim do mês.
Limpei o trem, dei corda,
ele partiu dando muitas voltas,
meu pai me sorriu e me abraçou pela última vez.
O resto eu só pude compreender quando cresci
e comecei a ver todas as coisas com realidade.
Meu pai chegou um dia e disse, a seco:
“Onde é que está aquele seu brinquedo?
Eu vou trocar por outro, na cidade”.
Dei-lhe o trenzinho, quase a soluçar
e como quem não quer abandonar
um mimo que nos deu, quem nos quer bem,
disse medroso: “O senhor vai trocar ele?
Eu não quero outro brinquedo, eu quero aquele.
E por favor, não vá levar meu trem”.
Meu pai calou-se e pelo rosto veio
descendo um pranto que, eu ainda creio,
tanto e tão santo, só Jesus chorou!
Bateu a porta com muito ruído,
mamãe gritou ele não deu ouvidos,
saiu correndo e nunca mais voltou.
Você, Papai Noel, me transformou num homem
que a infância arruinou, sem pai e sem brinquedos.
Afinal, dos seus presentes, não há um que sobre
para a riqueza do menino pobre
que sonha o ano inteiro com o Natal.
Meu pobre pai doente, mal vestido,
para não me ver assim desiludido,
comprou por qualquer preço uma ilusão,
e num gesto nobre, humano e decisivo,
foi longe pra trazer-me um lenitivo,
roubando o trem do filho do patrão.
Pensei que viajara,
no entanto depois de grande,
minha mãe, em prantos,
contou-me que fôra preso
e como réu, ninguém a absolvê-lo se atrevia.
Foi definhando, até que Deus, um dia,
entrou na cela e o libertou pro céu.
(Em www.pensador.com)
Parabéns pelo texto! Enquanto as luzes do Natal iluminam festas extraordinárias, é na persistência e resistência da generosidade contínua, além das datas comemorativas, que verdadeiramente encontramos o caminho para transformar as vidas daqueles que mais necessitam. Viva o verdadeiro espírito do Natal!