A visita que o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues fez a Paulo Afonso no dia 20 de dezembro foi a oportunidade que os pauloafonsinos tiveram para apresentar os pedidos de melhoria para a população do município.
Dentre essas melhorias de que precisa o município, foi apresentado ao governador o problema da ponte sobre o Canal da Usina Paulo Afonso 4 que se constitui no único acesso à Ilha de Paulo Afonso e já, há muitos anos, está prejudicado pelo crescimento da população e do número de veículos que transitam por ela todos os dias.
O assunto vem ocupando a mídia local, a gestão municipal, a Câmara de Vereadores há quase 20 anos e esse problema já foi apresentado pela gestão municipal ao ministro das Cidades (Mário Negromonte), ao presidente da Chesf (Dilton da Conti), ao governador do Estado da Bahia (Rui Costa) e, embora já se tenha até anunciado os caminhos para a sua solução, ainda não tem essa tão necessária nova ponte da Ilha de Paulo Afonso.
Nessa visita do governador Jerônimo, o Professor Dom, do meio do auditório perguntou ao governador sobre uma nova ponte para a Ilha de Paulo Afonso. O governador prometeu inteirar-se do assunto para buscar uma saída. O ex-prefeito Anilton Bastos, que estava no palanque, entrou na conversa e informou ao governador que o projeto dessa nova ponte já existe no governo da Bahia e está na CONDER.
O governador Jerônimo Rodrigues prometeu buscar conhecer o processo e deixou aberto o caminho do diálogo futuro com o objetivo de se encontrar uma solução para o grave problema.
Como o assunto já foi veiculado por este site e pelo Jornal Folha Sertaneja, em vários momentos, achamos oportuno voltar a ele para que todos possam acompanhar esta história que caminha para duas décadas...
As pontes de Paulo Afonso
A história do município de Paulo Afonso traz impregnada no seu DNA a existência de muros e pontes e muitas águas no seu entorno.
Ao ser escolhida para que nesse território fossem instaladas as usinas hidrelétricas que forneceriam a energia necessária para mudar a história de todo o Nordeste brasileiro, a chegada a este local, já era uma grande e perigosa aventura.
Toda a Região Nordeste, de Alagoas para cima e também a Região Norte estavam separadas dos estados do Sudeste e Sul pelas volumosas e agitadas águas do rio São Francisco.
Para se chegar ao Povoado Forquilha, atual cidade/município de Paulo Afonso, então pertencente ao município de Glória, era necessário atravessar o rio saindo de Petrolândia (velha) até Barra, povoado de Glória (velha) em enormes barcaças, como ferry-boats.
Até o ano de 1958, o vizinho estado de Alagoas, que estava logo ali à frente dos olhos dos que o viam do território baiano estava dele separado pelo enorme cânion de mais de 240 metros de largura e uma altura de perto de 100 metros. Um precipício respeitável.
Esse obstáculo imenso só deixou de existir quando, cumprindo promessa de campanha em comício feito em Paulo Afonso, organizado às pressas por Abel Barbosa, o presidente da República, Juscelino Kubitscheck de Oliveira, mandou concluir o projeto da Ponte Metálica D. Pedro II, obra que havia sido iniciada no início dos anos de 1950 e estava paralisada há cinco ou seis anos. Em 1958 a ponte foi entregue ao tráfego e Bahia e Alagoas, enfim, se tornaram juntas, uniram seus territórios. Oficialmente, a Ponte Metálica D. Pedro II só foi inaugurada em 21 de abril de 1960, mesmo dia da inauguração de Brasília, capital do Brasil.
A criação de mais usinas hidrelétricas gerou a necessidade de se construir um canal e, com ele, toda a parte histórica da cidade de Paulo Afonso se transformou numa grande ilha, cujas únicas saídas são através de duas das usinas construídas pela Chesf, de acesso limitado aos funcionários da hidrelétrica e uma ponte construída pela Chesf na década de 1970, o que gerou o nascimento do Bairro Mulungu, hoje, Tancredo Neves, criado justamente para abrigar os que moravam no local que seria o leito deste canal.
Quando a ponte da Ilha de Paulo Afonso foi projetada, na década de 1970, a população de todo o município era de 46 mil habitantes, mas crescendo muito rapidamente. Tanto que em 1980 já era de mais de 70 mil habitantes, somando-se, naturalmente, todos os bairros fora da ilha e a zona rural do município.
Ao ser construída, a Ponte da Ilha de Paulo Afonso atendia então às necessidades dos moradores, dos turistas, dos que chegavam a Paulo Afonso.
Hoje, dezembro de 2023, a população do município é de cerca de 115 mil habitantes, conforme o censo do IBGE de 2022 (112.870).
Certamente que muitos pensavam que ia acontecer com Paulo Afonso o que tinha acontecido com outras localidades onde, ao serem concluídas obras de grande porte, havia um natural esvaziamento do lugar que se transformava em pequenos arruados, quase cidades fantasmas.
Paulo Afonso contrariou essa receita e foi crescendo a cada ano e o único acesso à Ilha de Paulo Afonso, a ponte construída sobre o canal da Usina Paulo Afonso 4, foi ficando pequena para o grande fluxo de veículos oriundos dos outros Estados e dos muitos e grandes bairros que foram crescendo do outro lado da ponte, como o Bairro Jardim Bahia e, sobretudo, o Bairro Mulungu, rebatizado como Tancredo Neves, que teve um crescimento que surpreendeu a todos os estudiosos do assunto e hoje tem uma população estimada em mais de 40 mil habitantes.
O maior fluxo a Paulo Afonso também aconteceu com a melhoria do asfalto da BR-110 e com o asfaltamento da BA-210 mas, também com a proximidade da Cidade de Glória, a nova Glória, construída a apenas cerca de 10 quilômetros da sede do município de Paulo Afonso.
Paulo Afonso está no limite dos Estados de Alagoas, Sergipe e Pernambuco ficando a poucos quilômetros, no máximo 80, de Jatobá/Petrolândia/Tacaratu/PE, Delmiro Gouveia, Olho D`água do Casado, Água Branca, Pariconha e Piranhas/AL, Canindé do São Francisco/SE e de Glória/Rodelas/Abaré/Santa Brígida/Jeremoabo, na Bahia. O município é também um grande Polo Universitário com o UNIRIOS, UNEB, IFBA e UNIVASF.
A preocupação com a existência de uma única saída da Ilha de Paulo Afonso para o mundo exterior vem preocupando a todos e as gestões municipais já há muitos anos vêm tentando encontrar apoios para resolver essa situação.
Na gestão do prefeito Raimundo Caires Rocha – 2005/2008 - houve a tentativa de se oferecer aos pedestres uma forma de cruzar a ponte sem o desassossego de disputar espaço com veículos de todo tipo, incluindo grandes carretas e ônibus. O projeto não teve sucesso.
Em entrevista do Jornal Folha Sertaneja com o ministro das Cidades, Mário Negromonte, levantei essa preocupação da existência de uma única ponte de acesso à Ilha de Paulo Afonso, que além de ter o alambrado muito baixo, tinha o crescente fluxo de veículos, motos, carroças de tração animal, bicicletas e muita gente a pé, por ela.
O prefeito Anilton Bastos, acompanhado do Procurador Geral do Município, Dr. Flávio Henrique e levou ao ministro, em Brasília, um pedido de solução para esse problema.
Todos sabemos que nada foi feito.
Ainda no final do ano de 2009, o prefeito Anilton Bastos, acompanhado do então Deputado Estadual Luiz Barbosa de Deus e do Deputado Federal José Carlos Aleluia, estiveram no Recife em audiência com o presidente da Chesf, na época, Dilton da Conti. Com o prefeito também estavam a Secretária de Planejamento, Patrícia Alcântara e eu, Assessor de Comunicação e Diretor do Departamento Municipal de Turismo e foram deixados com o presidente da Chesf dois pedidos da gestão municipal de Paulo Afonso: a revitalização dos lagos do Bairro Chesf, já bem comprometidos naquela época e o estudo, pela hidrelétrica, da possibilidade da duplicação da ponte da Ilha ou a construção de outra ponte, em outro local.
O presidente da Chesf recebeu os documentos, em dezembro de 2009, mas nunca se teve uma resposta da Hidrelétrica do São Francisco.
Ainda na gestão do Prefeito Anilton Bastos, com a expectativa de reduzir o fluxo de veículos pesados na ponte de acesso ao centro da cidade de Paulo Afonso, a vereadora Lêda Maria Rocha Araújo Chaves (PDT) protocolou na secretaria Administrativa da Câmara de Vereadores, requerimento propondo ao prefeito Anilton Bastos Pereira (PDT) a restrição do trânsito de veículos pesados na ponte sobre o canal da PA IV, nos horários de 06h30min as 08h30min, para carga e descarga. “O grande fluxo de veículos pesados, que transitam naquela localidade, inviabiliza o fluxo de pedestres, ciclistas, transportes coletivo e individual, bem como dos serviços essências a população, no horário de maior acesso ao centro da cidade, das 07h00min as 08h00min”, explicou a Irmã Leda.
Há cerca de ano e meio, em 23/05/2022, também o vereador Valmir Rocha (PCdoB) em sua fala na sessão da Câmara Municipal voltou a chamar a atenção sobre a necessidade de uma nova ponte de acesso à ilha de Paulo Afonso.
Mais recentemente, e lá se vão alguns anos, em uma das vindas a Paulo Afonso em campanha eleitoral, o então governador da Bahia, Rui Costa, atual Ministro da Casa Civil do governo do presidente Lula, prometeu construir uma nova ponte de acesso à Ilha de Paulo Afonso. Mais ainda, anunciou na imprensa e nas redes sociais que foi aberta uma licitação para a apresentação de um projeto dessa ponte e se chegou a anunciar a empresa que teria ganho a concorrência.
Na época, o assunto até causou ciumeiras nos jequieenses, que também pleiteavam a construção de uma segunda ponte por lá, como noticiou o site acima. (Leia a matéria nesse link: Governo construirá uma segunda ponte em Paulo Afonso
https://www.jequiereporter.com.br/blog/2016/01/12 - )
E, lamentavelmente, o assunto novamente ficou adormecido em alguma gaveta.
Digo lamentavelmente porque os problemas de acesso à Ilha de Paulo Afonso vêm se ampliando a cada dia. Um ano desses, um trio elétrico ao passar nessa ponte causou o maior desconforto porque o balanço provocado pelo grande peso assustou a todos.
De vez em quando acontecem acidentes em cima da ponte e por um bom tempo, ficam literalmente ilhados todos os moradores da Ilha e da cidade, até por horas.
Mais recentemente a Embasa precisou colocar uma tubulação de águas aproveitando a estrutura desta ponte e, em contrapartida, melhorou os acessos para pedestres nessa ponte mas o fluxo de veículos continua intenso e bem acima do ideal, segundo os especialistas em trânsito urbano.
Alguém sugeriu que a solução seria a abertura dos dois acessos da Chesf, por dentro de suas usinas hidrelétricas – a Usina Apolônio Sales, no sentido de Alagoas/Pernambuco e a Usina Paulo Afonso 4 – no sentido Bahia e Alagoas. Por serem áreas onde estão grandes usinas hidrelétricas, há muita restrição de trânsito por elas, apenas limitado, basicamente, aos veículos em serviço na empresa.
O que se espera agora é que o governador Jerônimo Rodrigues, o mais novo cidadão de Paulo Afonso, mande localizar esse projeto e determine a construção dessa nova ponte, para alívio de todos e maior segurança para os moradores e os turistas que nos visitam.
Antônio Galdino da Silva