Recebemos, com grande pesar, a notícia do falecimento do Sr. Nestor que, por mais de 40 anos estava instalado no Parque Belvedere onde vendia caldo de cana e outras bebidas e petiscos para os turistas e os pauloafonsinos que ali chegavam.
Chega a notícia que, nesta segunda-feira, dia 8 de janeiro, o Seu Nestor, pernambucano de São José do Egito, nos deixou, aos 84 anos.
Deus lhe concedeu a bênção da longevidade e o recebeu no Lar Celestial mas os de cá, seus familiares e amigos, os conhecidos de tantos anos, todos ficamos entristecidos com a sua partida.
Sobre a sua viagem de volta à Casa do Pai, o Capitão Paz escreveu em seu Instagram: “Em 13 de março de 2022 registrei um dentre vários encontros, para saborear uma boa comida e bater um bom papo com meu amigo Sr. Nestor no Parque Belvedere. Pioneiro e também velho conhecido do meu saudoso pai. Infelizmente, na madrugada da segunda-feira, 8 de janeiro, a população de Paulo Afonso recebeu a triste notícia do falecimento de Nestor Veras Leite, carinhosamente conhecido como “Seu Nestor”, aos 84 anos. “Seu Nestor, descanse em paz, pois sua presença calorosa e sorriso amigável serão lembrados por muitos que tiveram o prazer de conhecê-lo ao longo dos anos”.
Monumento ao 1º Decênio da Chesf, inaugurado em 15 de março de 1958
Sempre que ia ao Belvedere, conversava muito com ele. Na última conversa, ele já se queixava do cansaço que a idade traz a todos os longevos...
Apresento aos familiares do Sr. Nestor os meus sentimentos de tristeza pela partida do velho sertanejo depois de cumprir a sua missão aqui na terra. E rogamos que o Espírito Santo console a cada um e que dele nos lembremos sempre pelas boas qualidades de pai, esposo, amigo de todos.
Na recente reforma dos espaços do Parque Belvedere feita pela Prefeitura, o espaço onde estava a Kombi do Seu Nestor por cerca de quarenta anos foi urbanizado e foi disponibilizado para ele e família outro espaço em área ampliada para ser a praça da alimentação deste Parque, ao lado da fonte.
A Folha Sertaneja sugere à gestão municipal que no espaço onde sempre esteve o Seu Nestor e família, e sua Kombi, seja colocada uma placa em sua homenagem, pois a sua figura sertaneja sempre será associada a este local.
O carinho que todos sempre tivemos com o Seu Nestor, como era conhecido, pode ser explicado quando o artista plástico Hilson Costa, ao realizar a Exposição Paisagens Urbanas, no CPA, em fevereiro de 2015, colocou entre as 40 telas ali expostas uma da Kombi de Seu Nestor compondo a paisagem deste Parque Belvedere, onde ele se instalou há 40 anos, desde março de 1983.
Essa aquarela me foi presenteada por Hilson Costa, agora também um renomado arquiteto e embeleza o escritório de redação do Jornal Folha Sertaneja, ao lado de fotografias também a mim presenteadas pelo saudoso fotógrafo João Tavares e quadro pintados por minha esposa, Maria de Lourdes.
A matéria que fiz sobre essa Exposições Paisagens Urbanas, com especial destaque para Seu Nestor e sua Kombi, publicada na Edição 132 do Jornal Folha Sertaneja, de 28 de fevereiro de 2015, foi reproduzida em sites e blogs de Paulo Afonso, entre eles o https://acertepauloafonso.com.br que escreveu:
Do Belvedere, Hilson imortalizou alguns espaços e um deles chama a atenção porque está ali há mais de 30 anos e nunca mereceu esse foco na visão de um artista: a Kombi, antiga do Sr. Nestor que atende aos visitantes há mais de três décadas, todos os domingos, vendendo água de coco, rolete e caldo de cana, além de outros produtos. Seu Nestor, agora assessorado pelos netos e sua Kombi, serão personagens da página Histórias Sertanejas que João de Sousa Lima escreve para o jornal Folha Sertaneja todos os meses.
De fato, na Edição Nº 135 desse jornal, datada de 31 de maio de 2015, o historiador e escritor João de Sousa Lima, de ligação familiar muito forte com o Sr. Nestor, ambos nascidos em São José do Egito, escreveu no espaço que tinha no Folha Sertaneja chamado Histórias Sertanejas o texto O rio, o homem e a Kombi – o homem do caldo de cana do Parque Belvedere, que reproduzimos aqui, como uma homenagem a este pioneiro de Paulo Afonso que se tornou figura sempre associada à paisagem do Parque Belvedere.
Assim escreveu João de Sousa Lima na página 8 do Jornal Folha Sertaneja de 31 de maio de 2015:
O rio, o homem e a Kombi
O homem do caldo de cana do Parque Belvedere
Por João de Sousa Lima
Há coisas materiais que se incorporam às paisagens e o tempo se encarrega de torná-las indissolúveis.
O Parque Belvedere é um dos mais bonitos cartões postais de Paulo Afonso.
Seus jardins floridos, sua fonte jorrando água, suas enormes e frondosas árvores e um espelho de água cristalina formam uma imagem perfeita. Foi do Belvedere que vi o mais belo e perfeito nascer de Lua Cheia. Uma bola de fogo refletida nas águas claras onde o Rio São Francisco se precipita nas quedas das usinas Paulo Afonso I, II e III, gerando energia.
Há anos, mais precisamente desde março de 1983, temos um veículo branco, marca Volkswagen, modelo Kombi, que nos finais de semana passa a fazer parte da paisagem do parque do belvedere.
A Kombi branca está lá aos sábados e domingos e de suas entranhas jorra o mais doce e puro caldo de cana. Nos finais de semana quase todos os moradores de Paulo Afonso já visitaram aquele espaço e até hoje é fácil encontrar pais que levam filhos para curtir as belezas do Belvedere e saborear o caldo de cana da Kombi branca.
Sempre escutamos falar: Vamos lá no homem do caldo de cana do Belvedere!
O que pouca gente sabe é que daquela Kombi branca, os roletes de cana caiana e a doce garapa vem das mãos de Nestor, mais precisamente Nestor Veras Leite.
E quem é Nestor Veras Leite? Nestor é um conterrâneo meu que veio de São José do Egito, na década de 1970, pra trabalhar em Toritama, no DEPA – Departamento Estadual de Poço e Açudagem.
As obras do DEPA tiveram que ser paralisadas por falta de verbas e Nestor voltou pra São José do Egito, para ficar aguardando a normalização financeira da empresa e um novo chamado.
Nesse espaço de tempo que Nestor ficou desempregado e o meu irmão José de Sousa Lima “Zezé”, que na época trabalhava como motorista de Pedro Ferreira, dono da empresa SACOL, foi em São José do Egito, com o intuito de trazer a família pra morar em Paulo Afonso, depois de convencer papai e mamãe das boas perspectivas para a família. Arrumamos as coisas e viemos embora.
Zezé também convidou Nestor a vir a Paulo Afonso prometendo que aqui arrumaria emprego pra ele. Dias depois Nestor comprou um caminhão Ford 1959 a Zé de Mariquinha e se dirigiu a Paulo Afonso.
Zezé apresentou Nestor a Pedro Ferreira e Pedro fichou Nestor e seu caminhão na SACOL para transportar pedras e areia do Serrote do Boi para as construções da CHESF.
Nestor a princípio ficou morando em nossa casa, na Rua Ribeirão. No quarto destinado a Zezé e Nestor havia na porta a inscrição: QUARTO DOS ÉBRIOS.
Zezé e Nestor quando saiam do trabalho iam direto para o bar de Manuel do Mauá, onde entornavam a velha caninha. Eram assíduos frequentadores do bar de Manuel.
Na SACOL o caminhão de Nestor começou a quebrar muito e como ainda faltava pagar umas prestações do carro, ele o devolveu a Zé de Mariquinha e foi trabalhar na CHESF, na construção da usina P.A. III.
Zezé também foi trabalhar na CHESF com Nestor e quando a Mendes Júnior chegou oferecendo um salário melhor, ele não contou conversa e se transferiu para a nova empresa.
Nestor preferiu permanecer na CHESF onde ficou até se aposentar, no ano de 1991. Nestor passou pela operação, SE III e aposentou no corpo de bombeiros da empresa.
Em 1980, com 12 mil quilômetros rodados, Nestor comprou a Kombi branca que até hoje está com ele. Na verdade Nestor já possuiu mais duas Kombis mais novas, porém se desfez das duas e ficou om a que ele chama de original.
Quando foi para conseguir a autorização para explorar o espaço do Parque Belvedere quem liberou foi o administrador da Chesf, Antonio Correia de Albuquerque.
Até hoje Nestor guarda a documentação assinada por Antonio, tenente Iran e Dr. Hugo.
Se algum dia de sábado ou domingo, se por acaso você for lá ao Belvedere, mesmo que seja apenas para apreciar a exuberante paisagem do parque, se por algum motivo você ver uma Kombi branca estacionada na sombra de uma árvore, ela é parte da paisagem do Parque Belvedere e dentro dela estará um engenho moendo a mais pura cana e as mãos que embalam o bagaço da cana moída e extrai a doce garapa é de um homem simples, honesto, trabalhador fiel, amigo e cheio de histórias para contar, seu Nestor da Kombi.
Na exposição de aquarelas de Hilson Costa que ficou no Espaço Cultural Raso da Catarina até o final de Maio, uma das telas retrata a Kombi branca de Nestor no Belvedere.
João de Sousa Lima
Historiador e Escritor,
Membro da Academia de Letras de Paulo Afonso – cadeira 06.
Paulo Afonso, Maio de 2015
Recentemente estive em Paulo Afonso e adquiri no supermercado SUPRAVE, do meu amigo Tião, dois livros de João de Sousa Lima. Um deles é PAULO AFONSO E A VILA POTY, A HISTÓRIA NÃO CONTADA. Exatamente na página 107 o autor fala sobre "o homem do caldo de cana do Parque Belvedere", seu conterrâneo NESTOR VERAS LEITE. Há poucos dias li essa narrativa. João de Sousa soube destacar muito bem figura tão popular que há 40 anos fazia parte da bela paisagem do Belvedere. Seu NESTOR merece mesmo uma placa no local.
MEUS PARABENS PELA BELÍSSIMA E MERECIDA HOMENAGEM!!!Descanse na PAZ DO SENHOR, "SEU NESTOR"