Nas manhãs do dia 15 de janeiro recebo sempre uma mensagem do Dr. Luiz Fernando Motta Nascimento lembrando que nesta data, no ano de 1955, há 69 anos, era inaugurada a 1ª Usina de Paulo Afonso e, com ela iniciado o processo de redenção do Nordeste brasileiro que tinha, naqueles tempos, os índices de desenvolvimento inferiores aos mais pobres países africanos.
Este ato de inauguração da primeira grande usina hidrelétrica do Nordeste, trouxe a Paulo Afonso, o presidente da República, João Fernandes Campos Café Filho, nordestino do Rio Grande do Norte, que trabalhou como jornalista durante a juventude e entre 1918 e 1919 atuou como o primeiro goleiro do Alecrim Futebol Clube, sendo o único presidente a já ter atuado como jogador competitivo de futebol adulto.
Com o presidente Café Filho vieram cerca de 250 pessoas, entre ministros de Estado, governadores do Nordeste, autoridades civis, militares, eclesiásticas, muitos outros brasileiros de outros estados e estrangeiros para um evento que ganhou as manchetes das grandes publicações do Brasil e noticiário no exterior.
Luiz Fernando Motta Nascimento, em palestra no Memorial Chesf, no aniversário de 72 anos da Chesf, quando foi recebido na Academia de Letras de Paulo Afonso - ALPA - como membro correspondente, Cadeira Nº 37 e seu livro sobre Paulo Afonso, lançado em Salvador em 1998.
O pioneiro chesfiano Luiz Fernando Motta Nascimento, que foi estudante na sala de aulas improvisada em 1946, para receber os filhos dos trabalhadores da Usina Piloto, como seu pai, Mestre Alfredo, e depois foi aluno das Escolas Reunidas da Chesf e do Ginásio Paulo Afonso, onde concluiu este Curso Ginasial em 1958, ano da emancipação política do município de Paulo Afonso, viveu muitos momentos marcantes dessa história. Formado em engenharia, Luiz Fernando foi diretor de duas diretorias da Chesf: a de Suprimento e a de Construção. Hoje, chegando aos 85 anos de idade – ele nasceu em Serrinha/BA, em 30 de julho de 1939 - continua pesquisando e escrevendo sobre hidroenergia e a Chesf.
Em seus depoimentos para a Memória da Eletricidade, em suas palestras e no livro Paulo Afonso – Luz e Força Movendo o Nordeste, ele também traz relatos preciosos sobre a história da Chesf e de homens e mulheres pioneiros de Paulo Afonso.
Ele lembra, ainda estudante, que nesse ato de 15 de janeiro de 1955, o presidente Café Filho, ao lado do Presidente da Chesf Antônio José Alves de Souza, do Diretor Técnico Marcondes Ferraz e de outros diretores da Chesf, exatamente ao meio dia inaugurava a Usina Paulo Afonso I com apenas dois geradores.
Lembra também Luiz Fernando que “Recife já recebia a energia elétrica de Paulo Afonso desde o dia primeiro de dezembro de 1954, pois às 6 horas da manhã o Diretor Técnico Marcondes Ferraz fez a energização do primeiro alimentador, enquanto que o velho amigo o engenheiro da Chesf Geraldo Barreto energizou o segundo”.
E acrescenta o ex-diretor da Chesf que “esta data representa o início da Redenção do Nordeste, assim como o início da construção das grandes hidrelétricas brasileiras.
A Usina de PA – I foi a primeira hidrelétrica subterrânea das Américas, sendo uma verdadeira escola para a incipiente engenharia brasileira”.
O grande pesquisador da história da hidroenergia no Brasil conclui afirmando: “Hoje registramos com muita satisfação e orgulho a participação dos pioneiros e seus discípulos na construção das grandes hidrelétricas do Brasil tais como: Itaipu, Tucuruí, Belo Monte e dentre outras”.
De fato, uma data como esta, em outros tempos seria motivo de grandes festejos, de intensa programação festiva principalmente em Paulo Afonso, berço da Chesf ainda no final da década de 1940 e em todos os Estados nordestinos onde a chegada da “luz de Paulo Afonso” mudou radicalmente a forma de vida desses brasileiros sempre tratados com raça inferior, infelizmente.
E tudo começou ainda no final dos anos de 1940, a partir do final de 1948, quando homens rudes, simples, analfabetos em sua maioria, saídos do trabalho braçal nas roças, sofrendo pela estiagem prolongada, decidiram colocar suas famílias nos caminhões paus-de-arara, como fez meu pai em 1954 e fizeram todos os que o antecederam e se tornaram os "cassacos" enfurnados escavando os túneis para criar, a mais de 80 metros de profundidade os ninhos dos geradores de energia elétrica...
O evento me fez lembrar de outra matéria que fiz sobre a importância da Chesf para todo o Nordeste brasileiro e agora, com a interligação das linhas do sistema elétrico, para todo o Brasil. Nela, eu comentava o depoimento de um grande engenheiro da Chesf, José Antônio Feijó de Melo, escritor, para o Jornal do Commércio do Recife - Caderno Economia, de 14/12/2014.
Ali, ele, há alguns anos atrás, ainda emocionado disse da sua alegria de dar de presente à sua mãe o primeiro liquidificador, com a chegada da energia elétrica de Paulo Afonso e logo, encomendou uma geladeira e teve que ficar na fila de espera porque a corrida para a compra de eletrodomésticos foi intensa...
Antônio Feijó, no ano de 2004 publicou Chesf – Memórias, registros e lembranças, um livro de mais de 600 páginas, onde também fala da importância da Chesf para mudar a história do Nordeste.
Construção das ensecadeiras para desvio do rio São Francisco e construção do reservatório Delmiro Gouveia
Os dois grandes chesfianos, historiadores, relatam momentos importantes da história, das lutas, dos grandes obstáculos encontrados pelos técnicos, engenheiros, operários da Chesf. Um dos maiores deles, sem dúvida, foi o fechamento do rio São Francisco para a construção do Reservatório Delmiro Gouveia.
Reservatório Delmiro Gouveia
Sobre isso, ouvi depoimentos de pioneiros como o Sr. Miguel Correia, conhecido como Seu Miguelzinho que dizia: "Difícil foi cercar o rio", e também de Euclides Ribeiro, assim como do operador das Koerings, o Sr. José Vitorino Diniz, que me disse orgulhoso, "eu fui quem coloquei a primeira carrada de pedras para fechar o rio", quando lhe entrevistei para o projeto Chá da Memória, realizado pela Chesf, anos atrás.
Tenho a alegria de, um pouco menos, bem menos que o Dr. Luiz Fernando Motta, ter vivido grande parte da história da Chesf, pois cheguei em Paulo Afonso em 20 de novembro de 1954, menos de dois meses antes desta inauguração histórica e, no mesmo mês de janeiro de 1955, quando aconteceu essa grande festa da inauguração da 1º Usina, meu pai começava a trabalhar na Chesf, como gari. Anos depois também eu e meu irmão fomos chesfianos, com todo orgulho. Meu irmão, ficou pouco tempo e eu trabalhei na Chesf por exatos 36 anos e seis meses.
Há dois anos atrás, no aniversário dos 67 anos da inauguração da Usina Paulo Afonso I as muitas chuvas em Minas Gerais e no Sul da Bahia trouxeram grande cheia do rio São Francisco e as cachoeiras de Paulo Afonso, que estavam sem águas desde o ano de 2010 voltaram a deslumbrar os nordestinos brasileiros e estrangeiros que chegaram, embora limitados pela pandemia do Covid-19, para vê-la grandiosa em sua majestosa imponência que motivou até o Imperador D. Pedro II, em 20 de outubro de 1859, a mover-se da corte, no Rio de Janeiro para visita-la e lamentar que dela só pôde fazer “desenhos imperfeitos”.
Mesmo sem o anúncio de grandes comemorações nesta data, registramos esse evento como da maior importância e reafirmamos o que temos dito em outros artigos e em livros sobre a região.
O Nordeste brasileiro tem a sua história claramente dividida em dois grandes capítulos. O primeiro é o do Nordeste miserável, sem desenvolvimento, sem perspectivas de futuro, sem energia elétrica. Este era o Nordeste A/C – Antes da Chesf. O segundo capítulo é o Nordeste D/C – de Depois da Chesf. Uma região rica, pujante de grandes investimentos e de desenvolvimento que tem superado as expectativas mais otimistas. E tudo começou com a instalação da maior empresa da região, a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco – Chesf em Paulo Afonso/BA, onde foram construídas as primeiras grandes usinas hidroelétricas do Nordeste brasileiro.
Acima, à esquerda a Usina Apolônio Sales, seguida do Reservatório Delmiro Gouveia e complexo das Usinas Paulo Afonso 1, 2 e 3, com as quedas do Capuxu e Drenos de Areia à esquerda e quedas do Croatá, Cachoeira de Paulo Afonso e início do Cânion do rio São Francisco à direita.
Acima, o complexo da Usinas de Paulo Afonso: Usina PA-4, ao centro Usinas PA 1, 2 e 3, ao fundo à esquerda a Usina Apolônio Sales e o início do Cânion do rio São Francisco, à direita. Na foto abaixo, a Usina Hidrelétrica de Xingó, em Canindé do São Francisco/SE, na divisa com Piranhas/AL.
Hoje, o Complexo Paulo Afonso de Usinas da Chesf some as Usinas Paulo Afonso 1, 2, 3 e 4 e a Usina Apolônio Sales instaladas em Paulo Afonso e a elas se juntam a Usina Luiz Gonzaga, em Petrolândia/PE e a Usina Hidrelétrica de Xingó, em Canindé do São Francisco. Juntam têm a capacidade de produzir mais de 85% de toda a energia de fonte hidráulica gerada pela Chesf, em grande maioria nas águas do rio São Francisco.
Foi muito feliz o nordestino de Exu/PE, Luiz Gonzaga e o médico Zé Dantas, de Carnaíba, também no Estado de Pernambuco, ao criarem a música Paulo Afonso para homenagear a grande empresa que inaugurava a sua primeira Usina naquele ano de 1955, com a música PAULO AFONSO.
Olhando pra Paulo Afonso
Eu louvo nosso engenheiro
Louvo o nosso cassaco
Caboclo bom, verdadeiro
Oi! Vejo o Nordeste
Erguendo a bandeira
De ordem e progresso
A nação brasileira
Vejo a indústria gerando riqueza
Findando a seca
Salvando a pobreza
Ouco a usina feliz mensageira
Dizendo na força da cachoeira
O Brasil vai, o Brasil vai
O Brasil vai, o Brasil vai
Vai, vai, vai, vai, vai, vai
A história da inauguração desta primeira usina hidrelétrica de Paulo Afonso, só aconteceu pela garra do trabalho dos nordestinos, os “cassacos” que abriram túneis para instalar as máquinas geradoras de energia hidrelétricas a mais de 80 metros de profundidade dentro dos enormes paredões de granito.
E tudo começou 10 anos antes, em 3 de outubro de 1945, quando o visionário Apolônio Jorge de Farias Sales, nordestino de Altinho/PE, Engenheiro Agrônomo, Ministro da Agricultura do Presidente Getúlio Vargas levou para o presidente assinar os Decretos-Leis Nºs. 8.031, criando a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco – CHESF e 8.032, disponibilizando recursos do tesouro nacional para as obras desta empresa.
De fato, a ideia original do aproveitamento da força das águas da Cachoeira de Paulo Afonso para gerar energia hidroelétrica é de Delmiro Augusto da Cruz Gouveia, cearense de Ipu, que criou, na margem alagoana do rio São Francisco, junto à Cachoeira de Paulo Afonso, a sua Usina Angiquinho, inaugurada em 1913.
32 anos depois, Apolônio Jorge de Farias Sales levou a mesma ideia de Delmiro Gouveia, para criar a Chesf, muitas vezes ampliada.
Os Decretos-Leis levados por Apolônio Sales foram assinados pelo presidente Getúlio Vargas no dia 3 de outubro de 1945, mas no dia 29 de outubro daquele ano, o Presidente Getúlio Vargas foi deposto. Em Dezembro, o General Eurico Gaspar Dutra foi eleito de forma indireta e os decretos de criação da Chesf ficaram nas gavetos do governo por um bom tempo.
Pouco menos de dois anos depois da assinatura desses Decretos-Leis, em julho de 1947, o Presidente Dutra e grande comitiva, ministros, militares, governadores, visitam a Cachoeira de Paulo Afonso e a visita merece a cobertura jornalística de várias páginas pela revista O CRUZEIRO.
Primeira diretoria da Chesf: Adozindo Magalhães de Oliveira, Carlos Berenhauser Júnior, Antônio José Alves de Souza e Octávio Marcondes Ferraz
Oito meses depois, em 15 de março de 1948, o Presidente Dutra nomeia e empossa a primeira diretoria da Chesf formada pelos engenheiros Antônio José Alves de Souza – Presidente; Adozindo Magalhães de Oliveira – Diretor Administrativo; Octávio Marcondes Ferraz – Diretor Técnico e Carlos Berenhauser Júnior – Diretor Comercial.
Em 15 de janeiro de 1955 era inaugurada a Usina Paulo Afonso I.
A produção desta 1ª grande usina hidrelétrica do Nordeste dividiu a opinião até de especialistas na área. Uns acreditavam que a energia gerada nesta Usina de Paulo Afonso seria suficiente para atender a toda a região até o ano 2000 enquanto outros já defendiam que deveriam ser construídas outras usinas.
Logo se viu que a segunda opção seria a correta e novas usinas foram planejadas para a região. Essa sequência de grandes obras em Paulo Afonso trouxe também para a região uma situação inusitada. Era comum que quando da instalação de uma obra em um lugar, formar-se no entorno dessa obra um grande povoamento. Mas, concluída a obra, alguns anos depois, o lugar se transformava rapidamente em uma cidade deserta, com casas abandonadas, destruídas aos poucos.
Em Paulo Afonso e no seu entorno, tudo aconteceu de forma diferente. A grande sequência de construção de usinas hidrelétricas e grandes reservatórios ao longo do rio São Francisco, especialmente nessa Região dos Lagos do São Francisco – entre Petrolândia/PE e Piranhas/AL, fez com que os trabalhadores de Paulo Afonso se fixassem na região.
O Povoado Forquilha, que quando a Chesf nele se instalou tinha 8 ou 10 casas espalhadas pela Caatinga, o que levou os primeiros engenheiros a ficarem morando em Delmiro Gouveia, como informou o Engenheiro pioneiro Bret Cerqueira a este autor. Três anos depois da inauguração da Usina Paulo Afonso 1, foi criado o município de Paulo Afonso e já possuía cerca de 25 mil habitantes.
Assim como Paulo Afonso, vários outros grandes municípios foram criados na região, como Delmiro Gouveia, Rodelas, Chorrochó e outros, a partir da chegada da Chesf na região.
Paulo Afonso caminha para os seus 66 anos (em julho/2024) e tem uma população de cerca 115 mil habitantes.
Quando a Chesf caminha para os seus 76 anos de vida e está sob nova direção, agora privatizada, não se pode deixar de se olhar pelo retrovisor e ver o quanto de importante foi a sua presença nesta região.
A expectativa dos que aqui decidiram viver é que, mesmo com os grandes investimentos em outras fontes de energia, continue a Chesf, nessa região desenvolvendo projetos de ampliação dos seus negócios, talvez impulsionando com recursos próprios ou através de empresas terceirizadas o turismo de que é detentora, em sua área de jurisdição de excepcional atratividade, reconhecido nacional e internacionalmente, como as próprias usinas hidrelétricas, quadro delas subterrâneas, a cachoeira de Paulo Afonso, que poderá vir a ser programada sem nenhum desperdício de suas águas que seguem para a Usina Hidrelétrica de Xingó, o início cânion de 65 quilômetros e sua própria história de sucesso pelo trabalho heróico dos pioneiros chesfianos, “cassacos” que lhe deram vida.
A Usina Paulo Afonso 1, foi o início de uma mudança radical em toda a história do Nordeste do Brasil e os pauloafonsinos, pioneiros, chesfianos e seus dependentes sentem muito orgulho de ter saído dos seus braços sertanejos a verdadeira energia que criou a Chesf que continua neste ano de 2024 contribuindo muito para o desenvolvimento desta região e agora, com as linhas de transmissão interligadas, a Usina PA 1 e todas as outras são muito importantes para o desenvolvimento do Brasil.
O começo de tudo, o início desta redenção do Nordeste e maior desenvolvimento do Brasil tem data inesquecível: 15 de janeiro de 1955, há 69 anos, com a inauguração da Usina de Paulo Afonso, a primeira usina subterrânea da América Latina, começo de um grande complexo hidroenergético regional, para a real REDENÇÃO DO NORDESTE!
Meu amigo Galdino, que belo e emocionante Artigo! Voltei no tempo… Amo tudo isso e, como escreveu meu dileto vizinho de outrora, Luiz Fernando - filho do Sr. Alfredo Hermínio, que em sua residência tinha um telefone preto fixado na parede para atender as emergências elétricas - as pessoas precisam conhecer a história da nossa Chesf.
Mestre GaldinoParabéns pelo belo e importante Artigo. É importante que as pessoas, especialmente os jovens conheçam as histórias da nossa Querida Chesf.
Parabéns CHESF!Orgulho do Nordeste!Grande Empresa de renome!Amamos muito você!Mas nós Paulafonsinos merecíamos mais apoio,amor,cuidado,afeto,carinho e zelo.O nosso Social e a saúde ficaram em estado deplorável.Aibda dar tempo de corrigir as falhas para a justiça ser feita!Faltou amor a que foi o berço da história.🫡♥️