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Professor Galdino

Brasília e a Ponte D. Pedro II completaram 64 anos nesse 21 de abril

Publicada em 22/04/24 às 13:27h - 724 visualizações

Antônio Galdino


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Brasília e a Ponte D. Pedro II completaram 64 anos nesse 21 de abril
 (Foto: Arq. do jornal Folha Sertaneja e Acervo do autor)

21 de abril é o dia em que se homenageia Tiradentes, morto nessa data em 1792 pela sua participação na Inconfidência Mineira, um movimento mineiro em oposição a Portugal de que o Brasil era uma de suas colônias.

Também nesta data, há 64 anos, o presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira inaugurava Brasília como a nova capital do Brasil e para ali transferia todos os poderes da República brasileira que estavam instalados no Rio de Janeiro.

Mas, o dia 21 de abril também tem grande significado para os pauloafonsinos pois, no mesmo momento em que o presidente Juscelino inaugurava a nova capital do país, construída também por muitos nordestinos no Planalto Central de Goiás, um representante do presidente da República estava em Paulo Afonso, que ainda não completara 2 anos de emancipada, na gestão do governo do prefeito Otaviano Leandro de Moraes, para inaugurar a Ponte Metálica D. Pedro II que liga os municípios/Estados de Paulo Afonso-Bahia e Delmiro Gouveia-Alagoas.

 

É o que registrou o historiador João de Sousa Lima em artigo chamado “Ponte D. Pedro II” publicado na Revista da Academia de Letras de Paulo Afonso Nº 02, de novembro de 2020 (págs. 41 a 50) e o que registrei no livro ABEL BARBOSA – O inventor de Paulo Afonso, publicado pela Editora Oxente, de Paulo Afonso, em 2019.

E essa história vem de bem antes, ainda do começo das obras de construção da primeira usina hidrelétrica da Chesf, no início dos anos de 1950.

Por esse tempo havia grande dificuldade de acesso a Forquilha para onde chegavam diariamente centenas, até milhares de nordestinos e, para onde também vinham as grandes peças para as usinas e todo o material necessário às obras.

Bret Cerqueira conta em vídeo e depoimentos para esse autor, dessas enormes dificuldades quando essas peças e equipamentos pesados vinham de Salvador, pelas péssimas condições das estradas. Quando pessoas e materiais, vinham de Alagoas para cima – Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Ceará e outros Estados do Nordeste e do Norte do país, as dificuldades eram ainda maiores. Tudo teria que cruzar o rio São Francisco do Estado de Pernambuco (Petrolândia) para o Estado da Bahia (Glória) e dali percorrerem ainda 30 quilômetros de estradas quase carroçáveis para se chegar a Forquilha (Paulo Afonso). O transporte de veículos e pessoas era feito em enormes barcaças como as utilizadas recentemente entre Alagoas e Sergipe, no mesmo rio São Francisco onde está sendo construída uma grande ponte, entre Neópolis (SE) a Penedo (AL).

A Ponte D. Pedro II começou então a ser construída no início dos anos de 1950, mas a obra ficou paralisada por vários anos, e só foi retomada em 1957, por decisão do presidente Juscelino Kubitscheck de Oliveira. 

Quando Paulo Afonso era Distrito do Município de Glória, havia intensa movimentação para que houvesse a emancipação política desse Distrito, movimento encabeçado pelo vereador desse Distrito, Abel Barbosa e Silva, com o apoio de comerciantes e políticos deste lugar. Eu, João de Sousa e Sebastião Leandro estivemos muitas vezes na casa de Abel Barbosa, em frente ao campo do Bairro Jardim Aeroporto e depois, quando ele passou a morar na casa do seu sobrinho Adalberto (Peba), em outra rua do mesmo bairro e ali, sempre ouvimos dele muitas histórias dos primeiros tempos de Paulo Afonso.

Tive a oportunidade de conviver com Abel Barbosa por dezenas de anos, mais intensamente a partir de 1979, quando fui coordenador de Turismo, Comunicação e Cultura do seu governo como prefeito de Paulo Afonso, que se estendeu até 1985 e, ao longo dessas dezenas de anos também ouvi muitas histórias de Abel Barbosa que resultaram no livro ABEL BARBOSA – O inventor de Paulo Afonso, com 280 páginas, que publiquei, em sua homenagem, no ano de 2019 e onde narro a história que levou a esse feito – a construção da Ponte Metálica D. Pedro II, (págs. 173 e seguintes), tema do artigo do historiador João de Sousa Lima.

Entre os políticos brasileiros do seu tempo, Abel Barbosa tinha grande admiração por Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e Antônio Carlos Magalhães.

Getúlio, criador do Partido Trabalhista Brasileiro ao qual Abel sempre foi filiado em todo o seu tempo de atuação política, na Câmara Municipal de Glória, como vereador representante do Distrito de Paulo Afonso, como vereador em várias legislaturas na Câmara Municipal de Paulo Afonso e como prefeito de Paulo Afonso, nas duas vezes que assumiu esse cargo. De 14 de maio de 1974 a 16 de outubro de 1975, porque era o Presidente da Câmara e não havia o cargo de vice-prefeito, sendo o presidente da Câmara o substituto do prefeito em seus impedimentos. O segundo mandato de Abel Barbosa foi de 4 de agosto de 1979 a 31 de dezembro de 1985, nomeado pelo governo militar.

A sua grande frustração foi nunca ter sido eleito prefeito pelas urnas, embora, pela sua força política tenha eleito três dos oitos vereadores da primeira legislatura (1959/1963) do município de Paulo Afonso e tenha sido eleito vereador em várias legislaturas.

Mas, o que tem a ver Abel Barbosa com a Ponte D. Pedro II e com Juscelino Kubitscheck?

Como todos sabem, Juscelino Kubitscheck de Oliveira foi eleito presidente da República do Brasil para o mandato de 1956 a 1961 quando, dentre outras ações, construiu e inaugurou Brasília que passou a ser a capital do Brasil.

Como narrou o próprio Abel Barbosa, o seu encontro com Juscelino, conhecido como JK, que havia sido prefeito de Belo Horizonte (1940-1945) e governador de Minas Gerais (1951-1955), aconteceu de forma inusitada.

No auge da campanha política para a presidência da República, o avião de Juscelino, um Douglas, apresentou uma pane e o piloto decidiu pousar no aeroporto de Paulo Afonso para manutenção. Como esse trabalho ia demorar horas, JK, seu assessor, Dr. Geraldo e o piloto ficaram alojados na Casa de Hóspedes da Chesf mas como em Paulo Afonso viviam milhares de nordestinos, operários das obras da Chesf, Juscelino pediu a seu assessor que descobrisse a liderança política da localidade. Abel foi indicado pelo pessoal do hangar da Chesf e foi encontrado no campo de futebol conhecido com “campo do Chefe Abel”, que existia onde hoje estão os boxes da feira livre, o CEAPA. Abel estava fazendo educação física com os escoteiros.

Da conversa que se estabeleceu, o assessor falou do interesse de JK de realizar um comício, no começo da noite, em Paulo Afonso e ficou acertado que ele aconteceria na frente da sede dos Escoteiros, na Rua da Frente (Av. Getúlio Vargas), Nº 562, ao lado de onde hoje está o Posto Oásis. Sem som e sem palanque, Abel improvisou um palanque com a mesa de sinuca e ali, ele e Juscelino foram os oradores para um grande público que se formou.

Abel, apresentou Juscelino aos pauloafonsinos e o candidato à presidência da República falou dos seus planos de governo, se fosse eleito. Ao final de seu discurso, JK perguntou se alguém tinha alguma pergunta e do meio da multidão levantou-se a voz de Aparício, com seus quase dois metros de altura e perguntou ao candidato se ele construiria a ponte sobre o cânion, ligando os estados da Bahia e Alagoas. Juscelino respondeu sem titubear que, se eleito fosse, essa seria uma das primeiras ações do seu governo.

Desse encontro casual, nasceu uma amizade forte entre Abel Barbosa e Juscelino Kubitscheck. “Depois do comício, fomos para a minha casa e ficamos conversando até às três da madrugada, eu tomando cerveja e Juscelino whisky”, disse Abel.

Era o ano de 1955 e em 3 de outubro JK foi eleito. Quando Juscelino Kubitschek tomou posse como o 21º presidente da República do Brasil, Abel Barbosa era um dos seus convidados no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, onde permaneceu por vinte dias conhecendo a Cidade Maravilhosa. 

Juscelino autorizou a construção da Ponte D. Pedro II, pedida por Aparício naquele comício improvisado. Ela foi construída com ferros franceses do mesmo tipo dos utilizados na Torre Eiffel, de Paris, com um vão de 240 metros sobre o cânion do rio São Francisco, ligando os Estados da Bahia e Alagoas e foi iniciada em 1957 e concluída em fevereiro 1958, ano da emancipação política de Paulo Afonso, permitindo a ligação Nordeste/Sul do país o que antes só era possível através das balsas do rio São Francisco em Glória/BA.

Ponte D. Pedro II, sobre o cânion do rio São Francisco em Paulo Afonso-BA, antes da construção da barragem e usina hidrelétrica de Xingó, concluída em 1994/1995. Desde então, todo o cânion de 65 quilômetros é navegável.

A Ponte D. Pedro II, embora tenha sido concluída e, naturalmente aberta ao tráfego de veículos e pessoas em fevereiro de 1958, só foi inaugurada oficialmente no dia 21 de abril de 1960. 

Enquanto o presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira inaugurava Brasília, um seu representante inaugurava em Paulo Afonso, no mesmo dia 21 de abril, esta belíssima Ponte D. Pedro II, um dos atrativos turísticos de Paulo Afonso, de onde se tem uma vista privilegiada do início do cânion do rio São Francisco em Paulo Afonso e da Usina Paulo Afonso 4.

Os ferros utilizados nesta ponte são franceses, dos mesmos utilizados na construção da Torre Eiffel, de Paris e da Ponte D. Luiz I, muito semelhante à de Paulo Afonso, que tive a oportunidade de conhecer, na cidade do Porto, em Portugal, sobre o rio Douro e às vezes ela é confundida por internautas nas redes sociais, com a de Paulo Afonso.

Ponte D. Luiz I - sobre o rio Douro, em Porto-Portugal

 

A Ponte D. Pedro II, tem o seu nome em homenagem ao Imperador que em 20 de outubro de 1859 visitou a região e a Cachoeira de Paulo Afonso e tem sido fotografada por turistas de todo o mundo e em 1º de dezembro de 2020 foi capa da Edição Nº 1 da Revista Italiana Connessione, produzida em parceria com o site www.seliganamusica.com, de Paulo Afonso-BA, dirigido por Nilton Alcântara (Negrito). 

O site da revista é: www.revistaconnessione.com.

Em face do grande número de pessoas que utilizam a ponte para fotografar o cânion e a Usina PA4, em 2009 foi sugerido pelo Departamento Municipal de Turismo a construção de um mirante no paredão do cânion do lado baiano, para maior segurança dos turistas, mas isso não foi ainda realizado.

 

Antônio Galdino da Silva

Cidadão de Paulo Afonso

Pós-graduado em Turismo (UNEB-2000)

Mestre em Ciências da Educação – Turismo –

(Universidade Internacional – Lisboa/Portugal - 2005)

 

Fontes:

Antônio Galdino da Silva - ABEL BARBOSA - O inventor de Paulo Afonso –

Editora Oxente/Paulo Afonso-BA - 2019

João de Sousa Lima - Ponte D. Pedro II –

Artigo em Revista da Academia de Letras de Paulo Afonso Nº 02 – Nov.2020




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4 comentários


Wilson Machado Linhares

31/10/2024 - 09:50:05

Excelente artigo sobre a história da ponte Dom Pedro II, do mineiro Juscelino Kubitschek de Oliveira, presidente JK, que mandou fosse construída, da participação de Abel Barbosa, das datas de início, conclusão e sua inauguração oficial em 21 de abril de 1960, mesma data da inauguração de Brasília. Isso é realçar os valores históricos de nosso povo, de nossa gente, de nossa cultura. Parabéns ao meu jovem e nobre amigo, Professor Antônio Galdino da Silva.


Geraldo von sohsten

25/04/2024 - 12:55:22

Excelente texto Galdino meus Parabéns , você é e será sempre mais um Responsável pela história da querida Cidade Paulo AfonsoForte abraço


Ângelo Girão

23/04/2024 - 14:38:59

Parabéns grande comunicador, essas reportagens são providenciais , no futuro próximo poderá ser matéria de vastibular, excelente e oportuna reportagem.


F. Nery Jr.

22/04/2024 - 19:24:14

Por falta de um grito... Já foi feito algum tipo de avaliação da resistência da ponte considerando-se que as carretas de hoje são cada vez mais pesadas?


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