Quando se chega a uma certa idade, na caminhada da vida, há uma natural mudança do nosso ritmo. E nem nos damos conta que estamos cantando baixinho ou assoviando trechos da canção de Almir Sater e Renato Teixeira chamada Tocando em frente: “ando devagar, porque já tive pressa/ e levo esse sorriso porque já chorei demais...”
Mas, o ritmo pode até diminuir e até limitar bastante a nossa caminhada, mas isso não significa que vamos parar...
Não! “Vamos seguir a marcha e tocando em frente”.
É o que tem acontecido com os ex-alunos do Colégio Paulo Afonso e suas escolas afiliadas que faziam o sistema Chesf de ensino, estabelecido ainda nos idos de 1949 em Paulo Afonso, com a chegada da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco nestas terras sertanejas.
Desde então, a Chesf foi construindo escolas: a Adozindo Magalhães (hoje UNEB), a primeira, ainda em 1949, a Murilo Braga (hoje Colégio Carlina), a Alves de Souza (hoje Sema) e elas formavam, por muitos anos, as Escolas Reunidas da Chesf, onde estudavam centenas de alunos, filhos dos empregados da Chesf, de todas profissões, filhos de médicos e engenheiros e os filhos dos “cassacos”, todos juntos.
Ainda em 1951 foi inaugurado o Ginásio Paulo Afonso e sempre cito como uma referência histórica o Engenheiro Luiz Fernando Motta Nascimento, que estudou no Curso Primário nas escolas da Chesf, hoje chamado de Fundamental 1.
Luiz Fernando Motta Nascimento, nos tempos do GPA. O primeiro à direita.
Depois, concluiu o Ginásio Paulo Afonso – GPA, fez o Segundo Grau, hoje Ensino Médio, já em Salvador e formou-se em Engenharia e, anos à frente começou a sua vida profissional na Chesf, como estagiário e chegou a ser diretor de duas diretorias dessa mesma Chesf: Diretor de Construção e Diretor de Suprimento. Hoje, mora em Salvador onde continua pesquisando sobre a história da eletricidade, temas de seus livros e de seus depoimentos para a Memória da Eletricidade.
E justo hoje, 30 de julho de 2024, a nossa referência colepana, Engenheiro Luiz Fernando Motta Nascimento, está completando 85 anos de vida. E deixamos nesses escritos o nosso maior aplauso para quem está celebrando a vida! Parabéns Luiz Fernando!!!
Tantos foram os empregados que a Chesf teve durante o período da construção da Usina de Paulo Afonso, o Acampamento da Chesf e Barragem Delmiro Gouveia, até o ano de 1955 e nos anos seguintes com a construção de outras Usinas que mais escolas foram construídas ou prédios foram reformadas e também viravam escolas.
O prédio quadrado era o Mercado Público e no seu entorno funcionava a Feira Livre entre 1949 e 1960, quando a feira foi mudada para a Rua da Frente (Av. Getúlio Vargas). O prédio foi reformado pela Chesf e se transformou na Escola Parque. Hoje é um núcleo da Universidade do Estado da Bahia – UNEB – Campus VIII.
Na área conhecida como Fazenda Chesf, que se limita com o lago Delmiro Gouveia, construído para alimentar a primeira Usina Hidrelétrica e, depois, também a segunda e a terceira usinas, foi criada a Escola Rural Ministro Simões Lopes e milhares de estudantes ali estudaram e muitos têm lembranças das peripécias e aventuras nas idas e vindas do Papa-Fila...
Pois é... como esquecer do papa-filas...?
Outras escolas foram criadas nos Bairros Moxotó Bahia (hoje Bairro Oliveira Brito) e Moxotó Alagoas.
E# nasceu a Escola Boa Ideia, cuja criação foi um tanto polêmica, na época.
E surgiu até uma Escola Comercial 15 de Março, que oferecia aos egressos do Ginásio Paulo Afonso, o Curso Técnico de Contabilidade. Essa Escola foi absorvida pelo Colégio Paulo Afonso. E ainda tinha Escolas em Itaparica e em Xingó.
Alguns alunos do COLEPA ainda hoje questionam porque, embora todos estudassem no Ginásio Paulo Afonso ele era chamado, e até registrado nas carteiras de estudante, desde o ano de 1968, como Colégio Paulo Afonso. A explicação é esta. A Chesf era uma empresa estatal, federal e o MEC (na época Ministério da Educação e Cultura), atendendo aos pedidos da diretoria desta empresa autorizou, em caráter excepcional, o funcionamento de Cursos de 2º Grau (hoje Ensino Médio) neste Ginásio e os seus professores, na sua maioria engenheiros, médicos, advogados e outros profissionais da própria Chesf e militares do Exército Brasileiro da 1ª Cia de Infantaria, instalada na região desde 1958. Esses professores eram periodicamente avaliados por especialistas do MEC.
Em outras avaliações, como do Conselho Estadual de Educação, o Colégio Paulo Afonso foi considerado Modelo de Educação do Nordeste.
Em 1979 o então Ginásio Paulo Afonso passou a ser oficialmente o Colégio Paulo Afonso e passou a ter todas as outras unidades escolares da Chesf a ele agregadas como seus pavilhões.
Ao longo do tempo as coisas foram mudando, adaptando-se aos novos tempos e à visão dos novos presidentes do Brasil.
Um dia, nos idos dos anos de 1990, o presidente Collor decidiu que as empresas estatais deveriam atuar apenas nas áreas para as quais foram criadas e a Chesf ficou impedida de contratar profissionais que não fossem para esse fim, “gerar, transmitir e comercializar energia hidro elétrica”. No governo de Fernando Henrique houve ainda mais pressão para que as empresas como a Chesf se desfizessem dessas atividades o mais rápido possível.
Por isso, foi fechado o Zoológico, as escolas foram sendo desativadas e seus prédios doados para outros órgãos públicos, os clubes sociais passaram a ser geridos pelos seus associados e, por fim, a Chesf se livrou também do Hospital Nair Alves de Souza que era o único da região e atendia a pacientes de cerca de 25 municípios dos Estados da Bahia, Alagoas, Sergipe e Pernambuco.
Sobre as Escolas da Chesf, a última que manteve suas portas e salas de aulas funcionando, com poucos alunos, foi o Colégio Paulo Afonso que, em dezembro de 2000 encerrou suas atividades...
Nos anos seguintes, pequenos grupos de ex-alunos das escolas da Chesf se encontravam e era uma festa.
Em 2008, por uma iniciativa de Tânia Bonfim, que veio de Salvador e se juntou com Nena, Idalina (in memoriam) e Antônio Galdino, que havia sido aluno das escolas e Ginásio da Chesf e depois voltou como professor da Escola Rural (7ªs. séries) e dos cursos de Segundo Grau (Ensino Médio) do COLEPA, e nasceu aí o 1º Encontro de Ex-alunos do COLEPA.
Em 2013 outro gigantesco grande encontro e, daí pra frente, todos os anos os ex-alunos, professores, diretores, funcionários do COLEPA e de todas as suas escolas agregadas se reencontram em Paulo Afonso para participar dos desfiles do dia 28 de julho e de 7 de setembro e se confraternizarem no CPA ou no COPA, trazendo à memória às famosas “Manhãs de Sol” que eram realizadas no COPA depois dos desfiles cívicos.
Dia 28 de julho de 2024. Novamente, grande número de ex-colepanos vindos de várias regiões fizeram até grande esforço, pela idade avançada, pelos problemas de saúde, as dificuldades de locomoção, mas ali estavam, compartilhando abraços e fotografias, lembrando de algum momento mágico dos seus tempos de estudantes, contando histórias das suas famílias hoje.
Quando olhamos para aqueles jovens senhores e jovens senhoras orgulhosos, vestindo as cores do COLEPA na Avenida e encontramos uma família com seu bebê, que ainda entende nada, também vestindo estas cores colepanas realmente acreditamos que o Colepa não morrerá nunca.
No destile de 28 de julho de 2024, enquanto o mundo acompanha os grandes atletas nas Olimpíadas de Paris, nós ficamos admirando e aplaudindo os nossos atletas do GPA e do COLEPA, como Eva Freire Costa Batista que, completados 80 anos em dezembro de 2023, desfilou levando a faixa de campeã de atletismo nas Olimpíadas do GPA dos anos de 1960 a 1964. Imbatível nas corridas e no salto em altura.
Alí estavam Joabson, Patrícia e tantos outros levando orgulhosos os troféus conquistados por atletas do GPA/COLEPA nas Olimpíadas entre as séries e nos Jogos Estudantis de Paulo Afonso.
Outras, como Eufrásia, Edilene, Mary Jane, Telma e outras desfilando orgulhosas com as fardas que eram a roupa de gala dos grandes desfiles.
Ali estavam Tânia Bonfim e o radialista Adriano conduzindo, orgulhosos, o Escudo do COLEPA.
Como foi bom ver a alegria e a performance de Casterluce, que deixou o colégio que dirige em Juazeiro e veio, mais uma vez, com a juventude sexagenária fazer piruetas na Avenida, nos passos da ginástica olímpica são o destaque das brasileiras nas Olimpíadas de Paris.
E no palanque oficial ali estão o prefeito de Paulo Afonso, Marcondes Francisco, sua irmã Professora Neuza, diretora das Escolas do Campo (Zona Rural), o ex-prefeito e Secretario de Educação de Paulo Afonso, advogado Flávio Henrique, o diretor do Núcleo Territorial de Educação de Paulo Afonso (antiga DIREC), todos ex-alunos do COLEPA, é que temos uma vaga ideia de sua força monumental...
Cada participante merece uma mensagem pessoal até pela alegria de sua presença nesses eventos, mas, já se faz muito longo esse texto para a internet e preciso destacar duas pessoas que, a mim, especialmente, tocaram bastante.
Uma delas é a nossa eterna baliza Fátima Morais, baliza desde criancinha e agora, dezenas de anos à frente, parece voltar à sua juventude e, à frente da banda marcial, desfila com ares de adolescente embora, agora todo mundo vai saber, é uma jovem bisavó de mais de sessenta anos...
Na virada do século, a força do governo federal acabou com o sistema de ensino da Chesf. O COLEPA foi obrigado a fechar as suas salas de aula mas, o COLEPA não morreu. Ao contrário, os ensinamentos que estas escolas, através de competentes e dedicados professores, deixaram em nós, continuam a fazer renascer em cada um de nós a sua força. O COLEPA NÃO MORRERÁ NUNCA!
E uma prova disso é esse reencontro de colegas de tantos anos, muitos de épocas diferentes, hoje conceituados profissionais de grandes empresas e atuando até em outros países.
E uma atitude que simboliza o amor que todos os ex-alunos têm pelo COLEPA talvez se explique no gesto da ex-aluna, Joana, cadeirante, que veio do Recife e conduziu a bandeira do Brasil à frente dos pelotões do COLEPA, com o coração acelerado de emoção.
Foi o que também vimos no ano passado, esta mesma cena foi vivenciada por nossa querida Ritalina Daniel (in memoriam), que nos deixou meses depois...
Este ano quem carregou essa carga de emoção, passada a todos nós, demonstrando essa representação da força histórica e inoxidável dos ex-alunos do COLEPA foi o Paulo César, filho da nossa querida colega Socorro Jucá (in memoriam), professora de Educação Moral e Cívica da Escola Rural, que infelizmente já não está fisicamente entre nós.
Paulo César, em sua cadeira de rodas, mostrou ao mundo que não existem obstáculos que possam nos impedir de sonhar e de buscar realizar os nossos sonhos.
Este ano, numa homenagem simples, simbólica mas muito profunda e sincera, homenageamos todos aqueles que não estão mais fisicamente conosco
A canção de Almir Satter e Renato Teixeira com que abri esse texto, também o encerra. Os últimos versos da canção asseguram que:
Cada um de nós
compõe a sua história
E cada ser em si carrega o dom de ser capaz
E ser feliz...
Até o desfile do dia 7 de setembro. No querer de Deus! Porque a História continua...
Fonte:
Saiba muito mais sobre o COLEPA no livro Os Caminhos da Educação - de Forquilha a Paulo Afonso, publicado em 2021 pelo professor Antônio Galdino. À venda na Suprave ou com o autor. Contato por mensagem de texto pelo WhatsApp - 75-99234-1740.
Mais 42 fotos dos Ex-alunos do COLEPA no Desfile de 28 de Julho de 2024
É isso. E a história continua...
Emocionante ler esse belo artigo, que conta a história de uma vida de grandes realizações. Eu morei em Paulo Afonso e minha trajetória profissional iniciou no sistema educacional de Paulo Afonso( escola Boa Ideia)Amo essa terra, a cidade dos meus filhos e onde fomos muito felizes! Obrigada professor Galdino por resgatar, viver e compartilhar esse momento.
Parabéns professor Galdino pelo seu trabalho ! Nós copanos, agradecemos o seu carinho e apoio que nos tem dado sempre.Cada ano que passa mais carinho e abraços.