Estava envolvido com os assuntos quentes do cotidiano, com as andanças dos políticos com os olhos esbugalhados na cadeira do prefeito, pensando também nos ensinamentos que nos deixou um senhor comunicador que conseguiu entrelaçar todas as emissoras da televisão no Brasil, falando bem dele, embora tivesse deixado recomendado à família que sua imagem não podia ser utilizada para exalta-lo e que, apesar da fortuna amealhada ao longo das muitas décadas de trabalho o seu velório seria reservado à família e o seu caixão bem simples...
Pois bem, matutando sobre isso, alguém me lembra e parabeniza pelo WhatsApp que hoje, 19 de agosto é o Dia do Historiador. E saí à procura de ilustrações e informes para abraçar todos os historiadores...
E desperto para sua excepcional e tão pouco valorizada importância.
Lembrei que, nas muitas histórias sobre o homem do baú, ou a lenda Sílvio Santos, alguém lembrou que lá pra trás, bem pra trás, o sobrenome Abravanel teve um peso grande nas histórias de Portugal, da Espanha, do Velho Mundo...
Decidi então voltar os pensamentos, o olhar, para mais perto de nós. Quantos somos hoje morando em Paulo Afonso? Ah! E sempre foi assim? Claro que não. Antes era apenas a caatinga, o bioma, enorme, imenso, a perder de vista em todas as direções...
E quem foram os cassacos? Não os bichos que se enfurnam nos buracos, mas os trabalhadores que cavaram os túneis imensos no paredão de granito para preparar o imenso salão, 80 metros abaixo para ali serem aninhados os geradores para transformar a força das águas do rio São Francisco em energia hidro elétrica e se levar a luz de Paulo Afonso para todo o Nordeste.
Isso, minha gente, é história, que cada um saiu contando, às vezes fazendo uma anotação aqui, outra ali, e, mais pra frente, outros foram mais fundo nos relatos, e eles viraram reportagens de revistas e jornais da época, e de relatórios técnicos e viraram história...
A partir delas, sabe-se como algumas ações aconteceram em determinado tempo e o estudo dessas ações, permitiu que elas fossem melhor executadas no futuro.
Imagino a emoção de uma pessoa que se dedicou por muitos anos a estudar objetos, tipos de pedras, metais antigos encontrados e com esses elementos descobriu essa pessoa que a idade desse objeto e mais, quem deles se utilizava e para que finalidades e descobriu mais, enfim, por exemplo, que em determinada região onde estudos anteriores diziam que tinham tantos séculos, tantos milênios e esses novos estudos podem provar que estes elementos mostram que a vida por esse lugar tem muito mais tempo...
Como é bonito o trabalho dessas pessoas que rebuscam o passado para poder planejar melhor o futuro. Eles são arqueólogos, para mim, os historiadores mais enigmáticos porque conseguem ir buscar essas informações em fontes sepultadas há séculos, milênios.
E pra não dizerem que não falei dos poetas, além de Cervantes, veja o que escreve Carlos Drummond de Andrade sobre esse tema, sem esquecerem que ele vivia repetindo... "Tinha uma pedra no meio do caminho, no meio do caminho tinha uma pedra..."
O historiador, comparando mal, é como um detetive famoso, que vê além do que se mostra visível... E rebusca informações sobre uma cruz cravada em lugar ermo ou na beira da estrada e descobre que ali é o túmulo de um personagem que fez e aconteceu em data antiga e foi famoso, no seu tempo. E porque morreu, e porque morreu ali naquele lugar...
Agora, imagine o historiador, varando as madrugadas, cruzando informações da história oral, associando fiapos de memórias sobre fatos, ambientes e pessoas e, depois de muito trabalho, noites mal dormidas, tecer uma, duas, muitas histórias de um tempo e mostra-las hoje para quem não viveu aqueles momentos, nem era nascido, nem seus pais eram nascidos... mas a história estava ali, adormecida, apenas esperando para virar páginas de publicações, de livros para deleite de muitos...
Com diploma ou não, com reconhecimento da profissão de historiador hoje ou, lá pra trás, sem esse reconhecimento, a maior alegria de quem busca essas informações é saber que, mesmo vivendo-se os tempos da maior modernidade, da internet ultra avançada, da Inteligência Artificial, a história existe em algum lugar, em todos os lugares para ser descoberta, contada para as atuais gerações e que, a partir do que ela nos conta, do seu tempo, o amanhã poderá ser diferente...
Sociólogos, geógrafos, arqueólogos, historiadores, todos irmãos de sangue, buscam, nas entranhas da terra, nos livros tombos, nas conversas dos avós, dos mais antigos que ouviram de outros ainda mais antigos as histórias de gente, de homens e mulheres, do nascimento de uma cidade, um grupo religioso, histórias de vidas e de mortes, a formação desse espaço onde hoje se vive e o que aconteceu no seu entorno... lá atrás...
Parabéns a todos aqueles que se dedicam para que a história não morra esquecida no tempo e no espaço...
A data, cravada em 19 de agosto, foi escolhida em homenagem à data de nascimento do diplomata e escritor Joaquim Nabuco [1849-1910]. Junto às celebrações, historiadores lembram a importância da profissão e da necessidade de valorização do trabalho na área.
19 de agosto - DIA DO HISTORIADOR. Parabéns aos colegas da ALPA que dedicam boa parte do seu tempo ao resgate da história e das memórias desta região. Um abraço especial aos arqueólogos que vão bem mais a fundo, literalmente, para trazer à tona verdades adormecidas há séculos, milênios e com esses seus preciosos tesouros encontrados podem trazer mudanças substancias à história da vida naquele lugar...