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Professor Galdino

Em 3 de outubro de 1945 o presidente Getúlio Vargas assinava os Decretos levados a ele pelo Ministro da Agricultura, Apolônio Sales, criando a Chesf.

Atualizada em 02/10/2024 às 21:45, com fotos da Missa celebrada no leito do rio São Francisco em 3/10/1953

Publicada em 03/10/24 às 16:29h - 609 visualizações

Antônio Galdino com Luiz Fernando Motta Nascimento


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Em 3 de outubro de 1945 o presidente Getúlio Vargas assinava os Decretos levados a ele pelo Ministro da Agricultura, Apolônio Sales, criando a Chesf.
 (Foto: Acervo do autor e Arq. Jornal Folha Sertaneja)

Em 3 de outubro de 1945, nascia a Chesf!

Hoje, o elétrico Dr. Luiz Fernando Motta Nascimento que afirma ser um idoso que não acorda cedo para ouvir os pássaros, mas acorda ainda mais cedo para acordar os pássaros, me mandou às 6 horas da manhã de sua querida Salvador, um E-mail lembrando que nesse dia 3 de outubro de 1945 acontecia um registro de excepcional importância para Paulo Afonso e para o Nordeste do Brasil quando o presidente Getúlio Vargas assinou os Decretos criando a Chesf, para a Redenção do Nordeste.

Chesfianos de Paulo Afonso e do Recife no Memorial Chesf, no Chá da Memória

Essa lembrança me remete a muitas outras como quando em 2006, a convite da Administração da Chesf em Paulo Afonso uma pequena empresa de produção de vídeo que eu tinha, chamada Galvídeo, foi contratada para produzir um documentário chamado Chá da Memória e eu entrevistei dezenas de pioneiros chesfianos. 

Sr. José Vitorino Diniz (in memoriam), contando suas vivências na Chesf

Quase todos não conseguiam segurar as lágrimas ao lembrar dos seus tempos de atuação em várias áreas da Chesf e especialmente nos primeiros tempos de construção da primeira Usina Hidrelétrica. Euclides Ribeiro, Hugo Quadros e dezenas de outros e cada um muito orgulhoso pela contribuição que o seu trabalho trazia para o avanço da grande obra, como o depoimento do Sr. José Vitorino Diniz que era motorista de um grande caminhão basculante chamado Koering, que todos chamavam de Coringa e ele dizia orgulhoso de ter sido ele quem colocou a primeira carrada de pedras para o fechamento do rio São Francisco e se poder construir as ensecadeiras... Como ele, muitos desses pioneiros, centenas, milhares, já não estão entre nós mas as suas memórias precisam ser respeitadas, toda a vida.

Nesse dia 3 de outubro completam-se 79 anos que o Ministro da Agricultura, Apolônio Sales, levou para serem aprovados pelo Presidente da República, Getúlio Vargas, o Decreto – Lei 8031 (criando juridicamente a Chesf), o Decreto – Lei 8032 (abrindo um crédito no Ministério da Fazenda) e o Decreto 19706 (autorizando a concessão para o aproveitamento de energia hidráulica no Rio São Francisco, no trecho compreendido entre Juazeiro (BA) e Piranhas (AL).

Aí nascia a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco que, mesmo sendo agora uma empresa privatizada e o nome Chesf tenha virado sobrenome da Eletrobras Chesf, será imortal para todos os que se doaram e deixaram o seu suor e o seu sangue, dezenas de anos de trabalho para que fossem construídas usinas hidrelétricas nessa região e essa “luz de Paulo Afonso” mudou radicalmente toda a triste história de miséria e de abandono desta grande Região Nordeste do Brasil.

Lembra ainda o grande historiador Luiz Fernando em seu livro Paulo Afonso – Luz e Força Movendo o Nordeste e em muitos artigos publicados pela Memória da Eletricidade e em muitas palestras que realizou que, apesar de todo o grande esforço do nordestino de Altinho, Apolônio Sales e da boa vontade do presidente Getúlio Vargas que assinou todos os Decretos assim que os recebeu das mãos de Apolônio Sales, poucos dias depois, em 29 de outubro daquele ano, apenas 26 dias depois da criação da Chesf, Getúlio Vargas e seu Ministério foram depostos, impedindo que a empresa hidrelétrica fosse organizada e as obras da Chesf fossem iniciadas para promover a esperada Redenção do Nordeste.

Passaram-se os anos e em julho de 1947, o novo presidente do Brasil, o General Eurico Gaspar Dutra organizou uma viagem e acompanhado de grande comitiva que incluía ministros do seu governo, deputados e senadores da República, governadores de estados brasileiros para ver de perto a Cachoeira de Paulo Afonso de onde em 1913, 34 anos atrás, o cearense Delmiro Augusto da Cruz Gouveia havia gerado energia elétrica em sua pequena Usina Angiquinho e levado essa energia para o Povoado Pedra, também chamado de Pedra de Delmiro, na época pertencente ao município de Água Branca no Estado de Alagoas e ali mover as máquinas de sua indústria de linhas de coser, a Empresa Agro Fabril Mercantil, que ficou conhecida como Fábrica da Pedra e o povoado também ganhou iluminação pública o que permitiu à sua população ter o acesso ao cinema instalado no lugar e que, até então era privilégio só do moradores dos grandes centros comerciais.

Nessa viagem do presidente Dutra à Cachoeira de Paulo Afonso ficou bem claro, como noticiou em várias páginas a Revista O CRUZEIRO de 12 de julho de 1947 que, enfim, o sonho de Apolônio Sales iria se tornar realidade.

Primeira diretoria da Chesf - 15/3/1948 - Da esq. Adozindo Magalhães de Oliveira (Dir. Adm), Carlos Berenhauser Jr,(Dir. Com) Antônio José Alves de Souza (Presidente) e Otávio Marcondes Ferraz (Dir. Técnico)

Meses depois dessa visita, em 15 de março de 1948, lembra ainda o Engenheiro Luiz Fernando Motta Nascimento, “graças a visão e perseverança do Chefe de Gabinete do Ministério da Agricultura, Afrânio de Carvalho, a Chesf foi realmente criada”. Nessa data foi empossada a primeira diretoria da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco.

Luiz Fernando que foi diretor de duas diretorias da Chesf – Construção e Suprimento -, estudou em Paulo Afonso desde quando ainda era chamada Forquilha porque ele e o irmão acompanharam o seu pai Alfredo Hermínio, conhecido como mestre Alfredo, eletricista, que veio para a região ainda no ano de 1946 para trabalhar na Usina Piloto, que estava sendo construída pelo Ministério da Agricultura. 

E, Luiz Fernando e o irmão estudaram em uma escola improvisada naquele ano e depois de continuar os estudos em Serrinha, onde nasceu, com a chegada da Chesf, voltou à região e estudou nas escolas criadas pela hidrelétrica e fez o Curso Ginasial no Ginásio Paulo Afonso, concluindo em 1958 e ele lembra que “Afrânio de Carvalho, depois como Diretor Administrativo da Chesf foi o nosso Patrono quando concluímos o curso ginasial no GPA – Ginásio Paulo Afonso, em 1958. O Presidente da Chesf Alves de Souza, nos deu de presente uma viagem de semana em Salvador, em que o engenheiro Bret Cerqueira Lima foi o nosso cicerone”.

Não fosse a ousadia do Engenheiro Agrônomo Apolônio Jorge de Faria Sales, pernambucano de Altinho, no exercício do cargo de Ministro da Agricultura no governo do presidente Getúlio Vargas, como seria o Nordeste nos nossos dias?

Naquele tempo, os índices de desenvolvimento humano medidos na região eram comparados aos dos países mais miseráveis da África, naquela época.

Quando a “luz de Paulo Afonso” chegou ao Recife foi uma grande alegria. Há registro de engenheiros pioneiros da Chesf que mostram que houve uma corrida para a compra de eletrodomésticos. Um desses engenheiros disse a uma repórter do Jornal do Commercio do Recife “corri para comprar um liquidificador para minha mãe” e há informações que para se adquirir uma geladeira havia uma grande fila de espera.

Em livros e artigos que escrevi tenho declarado repetidamente que a história do Nordeste é escrita em dois grandes capítulos: o do Nordeste A/C, Antes da Chesf, de miséria, estagnação, sem esperança de um futuro promissor, e o Nordeste D/C, de Depois da Chesf, como o conhecemos hoje, pujante, igualado, apesar da pequenez de alguns, com outras grandes regiões de desenvolvimento do Brasil.

Há alguns anos, a Chesf deixou de ser administrada pelo governo brasileiro e passou a outra gestão.

E lembra Luiz Fernando que “infelizmente hoje alguns tentam apagar com a “Borracha da insensatez e estupidez” a História da nossa querida Chesf que tanto orgulho traz para os brasileiros e especialmente para nós nordestinos”.

Primeira missa celebrada no leito do Rio São Francisco em 04/10/1953

Missa de São Cristóvão realizada nas obras da Barragem Delmiro Gouveia em 25-7-1954 

E lembra ainda o pioneiro ex-diretor chesfiano que “amanhã, 4 de outubro, dia do padroeiro do Rio São Francisco, faz 71 anos, que a Diretoria da Chesf mandou rezar uma missa dentro da Ensecadeira, sendo que o altar foi instalado em cima da soleira entre os pilares 9 e 10, justamente onde ficará a Comporta 9. Essa foi, portanto, a primeira missa celebrada no leito do Rio São Francisco, que se tem conhecimento”

A partir desse momento, vez por outra a Chesf mandava celebrar missa de que participavam os empregados e familiares na área da construção da barragem Delmiro Gouveia, como a que foi realizada em 25 de julho de 1954, ano do enchimento do reservatório e do giro da primeira máquina da Usina 1 que, ainda em Dezembro daquele ano levava energia para Salvador, capital da Bahia.

Eles eram chamados "casssacos". Pioneiros chesfianos em 12/05/1950

Esta data, 3 de outubro, nunca deverá ser esquecida por todos aqueles que se doaram por dezenas de anos, trabalhando nos primeiros tempos em condições difíceis, arriscando a sua vida todos os dias, rompendo os paredões de granito, na abertura dos túneis, para que, lá embaixo, a mais de 80 metros de profundidade fosse construída a primeira grande Usina Hidrelétrica do Nordeste, a primeira subterrânea da América Latina e depois vieram outras três, todas subterrâneas e ainda a Usina que homenageia quem começou toda essa história, essa verdadeira odisseia sertaneja, o também sertanejo Apolônio Jorge de Faria Sales.

A Chesf, apesar das humilhações que os seus novos donos têm feito com os seus pioneiros, impedidos até de ver, livremente, aquilo que eles e seus pais construíram, não morrerá nunca. Podem mudar o nome, impor restrições, mas nunca mudarão os sentimentos daqueles que nunca deixarão de ser chesfianos. Todos somos e seremos aposentados ou já in memoriam, sempre “cassacos chesfianos” porque fomos nós, nossos pais, nossos avós, que construíram esta empresa para a Redenção do Nordeste como se vê hoje.

A memória de Apolônio Jorge de Faria Sales que depois de criar a Chesf foi também o seu presidente por mais de 12 anos, de 30 de abril de 1962 a 5 de junho de 1974, deve ser sempre lembrada, exaltada como o nordestino que mudou a qualidade de vida de milhões de nordestinos como ele.

E parabenizo ao grande sempre chesfiano Luiz Fernando Motta Nascimento, membro da Academia de Letras de Paulo Afonso pela sua contribuição valiosíssima enquanto funcionário, desde os tempos de estagiário até alcançar o cargo de diretor de duas importantes diretorias da Chesf e hoje, aposentado chesfiano com 85 anos de vida, lúcido, e mantendo viva a história dessa empresa tão importante para todos nós e para o Brasil.

Esta é a Chesf! Para sempre!




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1 comentário


Luiz Fernando Motta Nascimento

05/10/2024 - 12:35:16

Prezado Mestre Galdino. Parabéns pelo artigo sobre os 79 anos da nossa querida Chesf. É uma Empresa que tem uma História muito bela e importante para o Brasil e especialmente para o Nordeste. Hoje registramos com muita alegria e orgulha da participação dos seus pioneiros e seus discípulos em todas as grandes hidrelétrica do Brasil.


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