No dia Nacional da Cultura – a história do Memorial Chesf Paulo Afonso, inaugurado em 25 de outubro de 1997
Neste 5 de novembro, foi comemorado no Brasil o Dia Nacional da Cultura, criado em homenagem a Ruy Barbosa, escritor, diplomata baiano, brasileiro que nasceu nesta data em 1849.
Há dez dias atrás, na sexta-feira, 25 de outubro de 2024, o Memorial Chesf de Paulo Afonso completou 27 anos de sua inauguração. E dele pode-se dizer que tem sido, nessas quase três décadas, o local de grandes eventos da cultura, história, memórias da Chesf e de Paulo Afonso, como o Chá da Memória com cerca de 200 pioneiros chesfianos, Encontros de Coros, Programa Sonora, do Sesc, Apresentações do Coral Chesf, Bienais do Livro, organizadas pelo Jornal Folha Sertaneja em parceria com a Chesf, a Secretaria de Cultura do município, a ALPA e o IGH, centenas de palestras, seminários...
Assim, nesse dia especial em que se celebra a Cultura, resolvemos contar, mais uma vez, a história desse importante patrimônio que levou anos para ser construído pela Chesf e foi inaugurado no dia 25 de outubro de 1997.
Memorial Chesf de Paulo Afonso
Ele nasceu da ideia de se preservar a riquíssima história e as memórias de homens e mulheres que construíram a Chesf, criada em 3 de outubro de 1945, quando o presidente Getúlio Vargas assinou os Decretos-Leis levados a ele pelo seu Ministro da Agricultura, Apolônio Jorge de Faria Sales e instalada em 15 de março de 1948, quando o presidente da República, General Eurico Gaspar Dutra nomeou a sua primeira diretoria.
Nos idos de 1993, quando a Chesf já estava concluindo sua última grande usina hidrelétrica na região Nordeste, a Hidrelétrica de Xingó, ao observar o pouco cuidado com cerca de 35 mil fotos históricas desta grande empresa responsável pela redenção do Nordeste, levei à Administradora da Regional Chesf de Paulo Afonso, Engenheira Diana Suassuna, de quem era o seu Assessor de Comunicação, a ideia de se construir o Memorial Chesf de Paulo Afonso, justo com o objetivo de melhor preservar a história e a memória da Chesf e de seus pioneiros e ser um equipamento de apoio à cultura do município, desprovido de espaços para tal fim.
Sem orçamento na regional para esta obra, recorremos ao chefe da Assessoria de Comunicação da Chesf no Recife, o pauloafonsino Sérgio Xavier, filho de Adeilda e Salvador Xavier, pequenos empresários pioneiros de Paulo Afonso, que buscou junto ao presidente da Chesf, Sérgio Moreira, com quem trabalhava diretamente e com outros órgãos da empresa, recursos para tornar realidade esse sonho.
Decidiu-se que a área do Memorial Chesf seria onde estavam antigos galpões que guardavam cimento no começo das obras da Chesf, bem perto do centro da cidade.
Trago à memória esta história, pela excelência em que passou a ser esse Memorial Chesf, ao sediar eventos do mais elevado nível, desde aqueles com a presença da 1ª dama do país (Ruth Cardoso) a ministros do Estado (Gilmário Miranda, dos Direitos Humanos), àqueles da explosão de talentos da cultura local e regional.
E também como uma homenagem a todas aquelas pessoas, chesfianas, que se doaram por inteiro para ver nascer um grande espaço cultural onde estavam os primeiros galpões construídos pela Chesf em 1949 e 1950 para guardar materiais para suas obras gigantescas. Muitos daqueles que se entregaram para construir uma obra, até impossível para muitos, hoje são de saudosa memória, já não estão entre nós, como o Mestre Juarez Felix (camisa vermelha) que tocou a obra, Neguinho do Spom, Pedro Nascimento, Zorildo, Gerson Campeão que era um empolgado defensor e muitos outros de que nem mais tivemos notícias...
Biblioteca, Museu, Salão de Exposições e Auditório (teatro e cinema)
Foi mesmo uma obra feita com o coração, mas também com muita garra, com luta, com muita paciência e com todo o carinho de todos os envolvidos e ali se criou um espaço para o Museu da Chesf onde se perpetua a sua gigantesca história. Ali nasceu uma boa Biblioteca Aurélio Buarque de Holanda inaugurada na presença de familiares desse filólogo e dicionarista brasileiro. Ali sempre havia um bom número de pesquisadores, estudiosos...
O Memorial Chesf Paulo Afonso foi cuidadosamente construído bem próximo ao centro da cidade-ilha para ser também um espaço à serviço da Cultura do município, e nele foi pensado um espaço para ser o Museu, o guardião das muitas boas lembranças e memórias da Chesf. Ali foram colocados o birô do primeiro presidente, seus chapéus, as fotos de todos os presidentes da empresa, equipamentos de comunicação, painéis elétricos antigos. Também ali ficaram troféus e quadros do COLEPA e, mais recentemente foi montada pelo técnico Reginaldo um sistema elétrico, laboratório muito procurado por estudantes, especialmente da área das universidades em suas visitas técnicas às usinas hidrelétricas em Paulo Afonso.
Professor Reginaldo (já aposentado da Chesf) e seu Museu Vivo
Um amplo Salão foi disponibilizado para serem feitas exposições itinerantes e muitas delas aconteceram ali. E foi cuidadosamente planejado um auditório com 156 lugares para multiuso e com isso suprir a carência de espaços públicos na cidade.
Além do Auditório para palestras e seminários, o espaço foi preparado para ser cinema e teatro. Uma cabine de cinema está ali, com as máquinas que antes passavam os filmes no Clube Operário. E elas foram testadas na época, pelo saudoso técnico Violão que fazia a manutenção desses equipamentos no COPA e no CPA e que já não está fisicamente entre nós. O foco estava perfeito. Para funcionar basta se investir em equipamentos atuais, modernos. O espaço já existe.
Buscamos também o apoio da dramaturga Dolores Moreira, também de saudosa memória, e ela orientou o projetista Reginaldo Fortes para que fossem criados dois camarins nos extremos do palco e uma ampla coxia e o Memorial Chesf também está pronto para ser o nosso Teatro...
E para marcar firmemente a história de homens sertanejos, sua cultura regional, a sua doação incansável para construir a Chesf e o município de Paulo Afonso, fomos buscar os talentos, artistas plásticos, funcionários da Chesf para darem vida a este espaço cultural.
As artes – aramado, óleo sobre tela, xilogravura em baixo relevo
O Auditório do Memorial Chesf chama-se Graciliano Ramos, grande nome da literatura alagoana e brasileira e foi uma homenagem ao presidente Sérgio Moreira e sua mãe, escritora, ambos alagoanos. E para homenageá-lo, fomos buscar a arte do chesfiano Anacleto, conhecido como Bulião que assina os seus trabalhos apenas como OLIVEIRA. Ele era Serralheiro do SPOM/DRGP e trabalhava ao lado de Edson Soares Pinto, na equipe do Sr. José Periquito. Bulião, talentoso, habilidoso, construiu em aramado, ferros finos, figuras que representam o livro São Bernardo que está ao lado do palco, à direita de quem entra e, no outro lado, o sol inclemente do serão acompanha a caminhada de Fabiano e sua cadela Baleia, personagens de Vidas Secas.
Nos dois lados do salão gigantescos painéis em óleo sobre tela do grande artista plástico, hoje renomado arquiteto residente em Aracaju, Hilson Costa. Ele era funcionário da Gerência de Operação, área das Usinas e foi liberado pelo gerente regional, Engenheiro Zanyl, que também já está em outro plano, para fazer a reprodução do pastoril e de cenas das obras da Chesf, registradas em fotografias da época. Os painéis têm 2m. X 3m. e 3m. X 4m. Além destes, muitos quadros e uma pintura de Hilson no teto da Recepção estão ali.
Ao lado deste Auditório e da Biblioteca foi criada outra magnifica obra de arte em toda uma parede, de quase 11 metros por mais de 3 metros de altura o artista plástico do SPOM, Marcel, que trabalhava e morava em Itaparica/Jatobá, com uma enorme xilogravura, a história do rio São Francisco, suas usinas hidrelétricas, a cultura regional... Marcel concluiu o seu magnifico trabalho uma semana antes da inauguração do Memorial e faleceu pouco tempo depois desta inauguração.
A construção, por operários da Chesf, muitos de saudosa memória
Pedro Nascimento (in memoriam), recebe homenagem da Chesf/APA, através da Profa. Rosa de Lourdes (DRHP) e Gilberto Pedrosa Adm. Regional, nos 10 anos do Memorial Chesf (2007).
Coube à Divisão de Serviços Gerais da Chesf em Paulo Afonso – DRGP – gerida na época por Pedro Nascimento e ao Serviço de Manutenção dos Acampamentos de Paulo Afonso e Itaparica – SPOM - na época sob a gestão de Ivanildo de Souza (Neguinho, in memoriam), a ela ligada, a responsabilidade de tocar essa obra.
Juarez Felix e Engº Lúcio
Sob a coordenação do Mestre de Obras Juarez Felix, da DRGP (camisa azul), falecido em 6 de setembro de 2022, aos 91 anos de idade e supervisão dos Engenheiros Soares, do SPOM, Zorildo (in memoriam), da APA e depois Engº Lúcio, da APA e a participação ativa de dezenas, talvez mais de uma centena, de chesfianos da DRGP e do SPOM, a obra foi nascendo e crescendo aos poucos, tudo feito com o trabalho dos servidores chesfianos.
Foram mais de três anos de trabalho, realizado com recursos limitados e escassos e aproveitando-se tudo o que foi possível de sobra de obras de Xingó e de galpões desativados das obras da Usina PA-4. Uma das preocupações do Mestre Juarez eram as fundações uma vez que o Memorial Chesf com seus vários salões seria construído no lugar de antigos galpões datados de 1949. Mas, logo veio a boa surpresa. As sapatas desses galpões tinham mais de um metro de profundidade por mais de meio metro de largura e tinham sido construídas com concreto tão firme que a dificuldade agora era outra, como abrir os espaços para colocar as colunas, de ferro, aproveitadas de antigos galpões...
Para marcar tão grande e significativa obra, Ivanildo também pensou grande. Ao invés de colocar um pequeno marco como pedra fundamental, ele foi à beira do rio, nas proximidades da Cachoeira de Paulo Afonso e trouxe uma gigantesca pedra, de muitas toneladas, cuidadosamente trabalhada pelas águas do rio São Francisco durante milênios.
Diana Suassuna, Adm. Regional de Paulo Afonso
Em junho de 1994, esta gigantesca pedra retirada do leito do rio São Francisco foi o março do início das obras do Memorial Chesf de Paulo Afonso, inaugurado com uma placa descerrada pela Administradora Diana Suassuna com o registro do 1º ano de gestão da diretoria da Chesf da época, formada por Sérgio Moreira (Presidente) - Esmeraldino Pereira (Diretor de Operação) – Leonardo Lins (Diretor de Engenharia) – José Antônio (Diretor Financeiro) e Manoel Maia (Diretor Administrativo). A Administradora da Chesf em Paulo Afonso – APA era a Engenheira Diana Suassuna.
Daí até a inauguração desse espaço cultural foram mais de três anos de muito trabalho e dedicação dos chesfianos que o construíram.
25 de outubro de 1997 - inauguração do Memorial Chesf de Paulo Afonso
Na inauguração do Memorial Chesf Paulo Afonso, todos estavam lá. Tive a felicidade de conduzir o cerimonial desta solenidade que teve a bênção do Padre José Ramos, da Diocese de Paulo Afonso, a visita a todos os espaços, a formação da mesa, os discursos, com incontida emoção de alguns e a participação do Coral Chesf de Paulo Afonso, criado em 1994 e regido pelo Maestro, Engenheiro Mecânico da Chesf, Mizael Gusmão, também de saudosa memória. Foi uma noite memorável e inesquecível
Em 25 de outubro de 1997, dia da inauguração do Memorial Chesf Paulo Afonso, muitas mudanças tinham acontecido nas gestões da Chesf, sua diretoria, no Recife, e também na Administração Regional de Paulo Afonso.
Os grandes apoiadores para que o Memorial da Chesf existisse, o presidente da empresa Sérgio Moreira era naquele momento Secretário Executivo do Ministério do Meio Ambiente, no governo de Fernando Henrique Cardoso e levara com ele o seu colaborador na diretoria da Chesf, Sérgio Xavier.
A diretoria da Chesf, quando da inauguração do Memorial Chesf Paulo Afonso, estava assim formada: Presidente – Mozart de Siqueira Campos Araújo, Diretor Administrativo – Djair Falcão Brindeiro Neto, Diretor de Operação – Paulo de Tarso da Costa, Diretor de Engenharia e Construção – Leonardo Lins de Albuquerque e Diretor Econômico e Financeiro – Luiz Godoy Peixoto Filho.
Mas Sérgio Moreira, Sérgio Xavier, Mozart Siqueira e outros diretores da Chesf vieram todos para a inauguração desse patrimônio cultural da empresa, o Memorial Chesf de Paulo Afonso.
Também na Administração da Regional da Chesf em Paulo Afonso, havia mudanças. A Administradora Diana Suassuna, foi substituída por Dejair Brindeiro que também já deixara esse cargo e era agora o Diretor Administrativo da Chesf e em seu lugar, empossado dias antes, em 13/10/1997 estava o chesfiano Rubem Alcântara.
Na inauguração do Memorial Chesf Paulo Afonso, a partir da direita: Sérgio Xavier, Pedro Macário Neto (Pres. da Câmara), Henrique Lima (GRP), Sérgio Moreira (Sec.MMA), Mozart Siqueira (Pr. Chesf), Paulo de Deus (Prefeito PA), Djair Brindeiro (DA) e Rubem Alcântara (APA)
Os coordenadores do Memorial Chesf de Paulo Afonso
O Memorial Chesf de Paulo Afonso teve os seguintes coordenadores: Antônio Galdino da Silva, Paulo Bento, Maria José Azevedo, Clerisvaldo (Pelé), Rosângela Menezes e Maria Conceição Freire Rocha, dos quais Antônio Galdino, Maria José, Rosângela e Conceição eram professores do COLEPA que foi fechado no ano 2000.
Quando o Memorial completou o seu primeiro decênio, em 2007, o Administrador da Chesf era o Professor Gilberto Pedrosa que fez tocante homenagem às pessoas que o construíram e administraram esse equipamento cultural até àquele momento.
Em todos esses anos o Memorial Chesf de Paulo Afonso tem sido como o nosso Centro de Convenções. Ali foram realizadas muitas centenas, de eventos e o seu Auditório Graciliano Ramos recebido autoridades de todos os níveis para reuniões memoráveis. Foi ali que D. Ruth Cardoso apresentou para prefeituras da região os projetos sociais do governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso e foi ali que o Ministro Nilmário Miranda, o primeiro ministro de Direitos Humanos, recebeu as lideranças indígenas dos Tuxás para celebrar ação de apoio da Chesf.
Ali foi realizado o I Encontros de Coros do Nordeste e um sem número de encontros sobre o rio São Francisco e discussões sobre a transferência do Hospital Nair Alves de Souza para o governo da Bahia, ou para a Univasf.
Ali foram realizadas centenas de atividades culturais, como os musicais Sonora Brasil, do Sesc, palestras, seminários, quatro Bienais do Livro de Paulo Afonso realizadas nos anos de 2014, 2016, 2018 e 2023, pelo Jornal Folha Sertaneja em parceria com a Chesf, a Sec. Municipal de Cultura, a ALPA e o IGH. Também o Chá da Memória da Chesf, realizado pela Chesf em 2006, reuniu centenas de pioneiros chesfianos com suas inesquecíveis lembranças da grande odisseia sertaneja que foi a construção das Usinas da Chesf e centenas de outros grandes encontros.
Com a nova gestão da agora Eletrobras Chesf esse importante patrimônio cultural está sendo muito pouco utilizado, embora sempre tenha sido previsto em plano de visita organizado em 2006 como o ponto inicial da visita de muitos turistas a este município.
Na sexta-feira, 25 de outubro de 2024, o Memorial Chesf de Paulo Afonso completou 27 anos de sua inauguração. Não há como não associa-lo à realização de centenas de atividade culturais nesse município de Paulo Afonso-BA. Sinto-me muito feliz em ter contribuído, enquanto chesfiano e destaco para isso o excepcional apoio que recebi da Administradora Diana Suassuna e os assessores Zorildo e Lúcio, Sérgio Xavier, Pedro Nascimento, Reginaldo Fortes, Juarez Félix e muitos outros que ao longo dos tempos de sua construção foram chegando à gestão da APA e da Chesf. Fui seu administrador por mais de dois anos e ali, numa parceria com a Chesf pude realizar, pelo Jornal Folha Sertaneja e com o apoio da ALPA, IGH e Secretária de Cultura de Paulo Afonso 4 Bienais do Livro de Paulo Afonso.
VEJAM TAMBÉM sobre a história do Memorial Chesf de Paulo Afonso no site www.folhasertaneja.com.br. Para isso é só acessar os links abaixo.
Cap. 1 - https://www.folhasertaneja.com.br/noticias/colunistas/659960/1
Cap. 2 - https://www.folhasertaneja.com.br/noticias/colunistas/659994/1
Cap. 3 - https://www.folhasertaneja.com.br/noticias/colunistas/660211/1
Cap. 4 - https://www.folhasertaneja.com.br/noticias/colunistas/660627/1