A Lapinha de D. Irene Sapateira!
Antônio Galdino da Silva
No ano de 1961, dia 3 de janeiro, lembra bem D. Maria de Lourdes, a esposa, filha mais velha do Sr. Antonio Zuza, que já estava em Paulo Afonso, trabalhando na Chesf, desde junho de 1960, recebeu toda a família, vindo de Poção-PE.
Sua esposa, D. Irene, conhecida como D. Irene Sapateira e a filharada chegaram para se instalar de vez na cidade de Paulo Afonso que se emancipara há pouco mais de dois anos e crescia que dava gosto, por conta das obras da Chesf. Seu Antônio Zuza trabalhava como apontador, na Chapeira da Chesf.
Ao trazer a família para Paulo Afonso passaram a morar num local, logo mudaram para a Rua São Francisco até que Seu Antonio Zuza comprou uma casa na Rua Santo Antônio e ali acomodou a prole, bem ao lado da casa do Sr. Lu Benzota e de lá não mais saíram.
D. Irene, sapateira de primeira, instalou na Rua Amâncio Pereira, que ficou conhecida logo como a “rua da Casa Pesqueira”, bem próximo à sua casa, a sua oficina onde tanto fazia sapatos de confecção muito elogiada, como consertava calçados de todo tipo que ficavam novinhos em folha.
Na Rua Santo Antônio, D. Irene e a família, católicos praticantes desde sua origem em Poção/PE, criaram o hábito de todo mês de dezembro construir, na pequena área da entrada da casa, um presépio natalino. Era a Lapinha de D. Irene, armada todos os anos, no comecinho de dezembro e só desmontada depois do Dia de Reis, 6 de janeiro, como manda a tradição. E a Lapinha de D. Irene, nesses anos todos, nunca deixou de ser montada.
Tudo é cuidadosamente organizado. Os três Reis Magos, por exemplo, são colocados bem distantes da manjedoura e a cada dia são trazidos para mais perto, na sua caminhada para ver o Messias e só no dia de Natal, 25 de dezembro, é que eles chegam ao lado da manjedoura deixando os presentes que trouxeram para o Menino Jesus que acabara de nascer!
A Lapinha, inicialmente, era todo ano montada respeitosamente por D. Irene e familiares, até que ela voltou à Casa do Pai Celestial vítima de um CA agressivo, mas a tradição da montagem da Lapinha de D. Irene continuou e passou a ser feita todos os anos por seu filho Francisco, que foi também chesfiano, como o pai e os irmãos Magela e Antônio. Francisco, Chico, foi chefe do Serviço de Pessoal da Chesf. Mas, Francisco também faleceu e a missão de montar a Lapinha, a partir daí, ficou com o filho caçula, Manoel Messias, conhecido como Ferreira, que trabalhou em Xingó e por muitos anos na Casa das Construções.
Por esse tempo, também o Sr. Antônio Zuza, com mais de 90 anos, cumprida a sua missão na terra também foi para a morada celestial.
Manoel Messias, o Ferreira, embora ainda muito jovem, também deixou o nosso convívio e neste ano de 2024, no dia 3 de dezembro, coube aos netos de D. Irene Sapateira, Felipe, filho de Messias e Alan, filho de Fernando, ao lado de Alcira, uma das filhas de D. Irene, moradora da casa da Rua Santo Antônio, montarem a Lapinha de D. Irene mais uma vez.
E ao registrar esse fato, vêm à memória dois acontecimentos associados a esta Lapinha de D. Irene e também aos presépios natalinos.
Sobre a Lapinha de D. Irene, lembro que a família era muito amiga do primeiro bispo de Paulo Afonso, D.Jackson Berenguer Prado que, vez por outra almoçava nesta casa e, no mês de dezembro, ficava admirando a Lapinha.
Outro que me revelou há um tempo que todo ano fazia questão de visitar a Lapinha de D. Irene foi o Professor Claucios. Para ele, essa visita, todos os anos, era mesmo um compromisso.
A outra lembrança foi uma riquíssima exposição de presépios de Natal de todo o mundo que, no ano de 2006, o querido Padre Celso Anunciação (que há anos está morando na Alemanha) montou no Memorial Chesf de Paulo Afonso e ele recebeu centenas de visitas entre dezembro de 2006 e janeiro de 2007. Padre Celso contou com o apoio de Neusa Batista, da Fundação Aloísio Penna.
A propósito, você sabia que a encenação do primeiro presépio de Natal, com personagens vivos, foi feita por São Francisco de Assis, como uma forma didática de ensinar às pessoas sobre o nascimento de Jesus Cristo?
No tempo em que lhe contamos essas histórias de Natal, também queremos oferecer um presente aos leitores dessa crônica.
Sobre esse tema, Natal de Jesus, preparei, pela Galcom Comunicações, um livreto chamado Antologia de Natal, com textos de autores da Academia de Letras de Paulo Afonso, reportagem sobre esta exposição de presépios organizada por Padre Celso e o estou disponibilizando para quem quiser recebe-lo, grátis, em PDF.
Para receber, é só mandar uma mensagem de texto para os comentários desse relato, no site, ou para o E-mail – professor.gal@gmail.com ou para o WhatsApp 75-99234-1740, dizendo para onde devemos enviar esse livreto em PDF, organizado por Antônio Galdino da Silva, se para um WhatsApp ou para algum E-mail, Sem custo.
Abraço fraterno. Feliz Natal de Jesus! Professor Antônio Galdino.
EM TEMPO:
Algumas pessoas, como o Joca(nos comentários), e outras, enviaram mensagens de WhatsApp querendo saber mais um pouco e ver fotos de D. Irene Sapateira.
Ela se chamava Irene Ferreira Mendes e nasceu na cidade de Tigre, na Paraíba em 21 de março de 1923. Casou e morou muitos anos na cidade de Poção/PE, de onde veio, com os filhos para Paulo Afonso, chegando em 3 de janeiro de 1961, pois o seu esposo, Antônio Zuza Ferreira já estava trabalhando na Chesf. D. Irene faleceu em 27 de dezembro de 1980, com 57 anos, vítima de um CA.
Estas são algumas de fotos de D. Irene Ferreira Mendes, Irene Sapateira, quando ainda jovem.
Ela é uma das mulheres homenageadas pelo Centro de Referência da Mulher e, no painel que existe nesse Centro de Referência da Mulher, no Bairro Amauri Menezes (BNH), é a quarta, a partir da esquerda, na fila de cima, ao lado da Professora Lindinalva Cabral.
A família de D. Irene agradece o carinho recebido de todos que acompanharam essa sua brevíssima história da sua Lapinha de todos os Natais. (Prof. Galdino)
Maravilha!!!Parabéns!!!!Viva a cultura!!!Viva o hábito de ler!!!
Bem lembrado, Joca. Logo, logo estarei corrigindo essa falha. Obrigado por lembrar. Prof. Galdino
Os holandeses ficaram 24 anos em Pernambuco, de 1630 a 1654. A família de Dona Irene deve ser de descendentes deles. Muito brancos. Em todo o Nordeste houve miscigenação. Nossas avós não brincavam em serviço.....
E o retrato de Dona Irene?
É muito importante fazer viva essa tradição!!! Em dias que o verdadeiro sentido natalino é ofuscado, reavivar e validar esses gestos faz renascer em nós o brilho real do Natal!!! O nascimento do nosso Salvador!!! Fico muito feliz com a continuidade da tradição da família!!! Meus parabéns!!!
TIVE O PRIVILÉGIO DE HAVER CONHECIDO D.IRENE E PARTE DOS SEUS FILHOS TODOS DO BEM.COMO SEMPRE O GALDINO BRILHANTE EM SEUS RELATOS PARA QUEM DESEJO UM ALEGRE NATAL JUNTOS AOS QUE O CERCAM.
Importante, colega Galdino, esses registros para os pesquisadores futuros. A propósito, Dona Irene também fazia trabalhos de costura e cobertura de botões? Ainda o registro que a tradição portuguesa do Natal é o presépio, e não a Árvore de Natal e Papai Noel.