Da garra e da luta de Enoch Pimentel Tourinho nasceu o Ginásio Paulo Afonso – GPA/COLEPA, há 74 anos.
Antônio Galdino da Silva
ex-aluno, ex-professor do GPA/COLEPA
Hoje, 5 de março de 2025, com muito orgulho de ter sido aluno das Escolas Reunidas da Chesf – Murilo Braga (hoje Carlina), Alves de Souza (Meio Ambiente/BA) e Adozindo Magalhães (hoje UNEB) e também do Ginásio Paulo Afonso e depois professor da Escola Rural Ministro Simões Lopes e do Colégio Paulo Afonso, faço esse registro, singelo e breve da história do nosso GPA/COLEPA no dia dos 74 anos de sua inauguração, com a certeza que O GPA/COLEPA NÃO MORRERÁ NUNCA!
Professor Enoch Pimentel Tourinho
Alguns homens e algumas mulheres, ao passar por um lugar, conseguem deixar marcas profundas nesse seu tempo de vida ali.
Os primeiros tempos de Paulo Afonso, quando ainda era Forquilha, Vila Poty, Distrito de Paulo Afonso, pertencentes ao município de Glória/BA, revelaram muitos desbravadores que fizeram e passaram à história por seus feitos generosos para os moradores do lugar, divididos em duas grandes povoações separadas por uma cerca de arame, substituída depois por um muro de Pedras.
De um lado, o chamado Acampamento da Chesf, com cerca de duas mil casas, escritórios, clubes sociais, igreja... Do outro lado Forquilha, logo chamada de Vila Poty, cujos barracos, centenas, eram cobertos e suas paredes forradas pelos sacos vazios desta marca de cimento utilizado nas grandes obras da Chesf – Companhia Hidro Elétrica do São Francisco – que se instalara na região em meados de 1948.
Tanto no Acampamento da Chesf quanto na Vila Poty destacaram homens e mulheres que buscavam dias melhores para os moradores do lugar.
Na Vila Poty, Abel Barbosa, D. Risalva Toledo, Diogo Andrade, Jose Freire do Abrigo e dezenas de outros nomes foram incansáveis na luta pela emancipação política de Paulo Afonso.
No Acampamento da Chesf havia a preocupação de se oferecer o espaço para a fé, construindo-se a Igreja de São Francisco de Assis. Para o lazer, construíram-se os clubes sociais COPA e CPA. Para a saúde, nasceu um pequeno ambulatório que depois transformou-se em Hospital Nair Alves de Souza e atendia a toda a região. Para suprir as necessidades da educação, construíram-se as escolas primárias Adozindo Magalhães, Alves de Souza, Murilo Braga, chamadas de Escolas Reunidas e, depois, muitas outras unidades escolares, Escola Parque, Boa Ideia, Moxotó Alagoas e Moxotó Bahia. Escola Rural Ministro Simões Lopes e, ainda no começo, em 1951, nasceu o Ginásio Paulo Afonso - GPA.
E por que acontecia assim? Porque o Povoado Forquilha, Vila Poty, Distrito de Paulo Afonso vivia abandonado pelo município de Glória que nunca fez nem uma única escola para os seus moradores...
Por esse tempo, a Chesf, com os recursos federais aprovados para suas atividades na região, contruia sua primeira de muitas unidades escolares, a Escola Engenheiro Adozindo Magalhães de Oliveira, ou Escola Adozindo.
E, no tocante à educação para os filhos dos empregados da Chesf, a hidrelétrica possuía recursos no seu orçamento de construção da Usina de Paulo Afonso para a construção das escolas primárias, que começaram a ser edificadas ainda em 1949.
E ainda nesse tempo, 1949, quando se construía a Escola Adozindo, um chesfiano influente, que foi marinheiro, Enoch Pimentel Tourinho, já levantou sua voz cobrando a construção de um Ginásio, para o que a Chesf não tinha recursos em seu orçamento.
Isso não inibiu Enoch Pimentel, então chefe do importante Serviço de Transporte da Chesf. O assunto foi levantado em uma comemoração do Dia de São Cristóvão, padroeiro dos motoristas, em missa celebrada nesse órgão.
Pouco tempo depois, o assunto foi levado ao presidente da República, General Eurico Gaspar Dutra, em uma de suas visitas às obras da Chesf em Paulo Afonso. O presidente Dutra até prometeu, mas, como tem sido costume de alguns políticos, prometeu, mas não cumpriu a promessa.
Recorreu-se então aos próprios diretores e aos operários da Chesf, e a empresários. E foram feitas festas, peças de teatros, shows para se conseguir dinheiro para a construção desse ginásio. A Chesf reservou uma área para estas instalações.
Com todo esse empenho, as obras foram tocadas e, em 5 de março de 1951, há 74 anos, era inaugurado o Ginásio Paulo Afonso.
No começo, recebeu poucos alunos, 6 ou 7 e isso elevava os custos de manutenção do Ginásio às alturas. Os primeiros alunos foram então levados a estudar em Salvador, no Ginásio Ipiranga, do renomado Professor Isaías Alves.
Nos anos seguintes o Ginásio Paulo Afonso voltou a funcionar normalmente e por ali passaram muitos milhares de estudantes. Um dos formandos da turma de 1958, foi o pioneiro de Paulo Afonso, desde os tempos de Forquilha, em 1946, quando seu pai, Mestre Alfredo Hermínio veio trabalhar na Usina Piloto é Luiz Fernando Motta Nascimento, que, anos depois, formado em engenharia foi diretor de duas diretorias da Chesf, a de Construção e a de Suprimento. Aposentado, mora em Salvador, é membro da Academia de Letras de Paulo Afonso, continua pesquisando e escrevendo sobre a Chesf, Paulo Afonso e energia elétrica. Na foto abaixo, é o primeiro à direita.
O Sr. Enoch Pimentel Tourinho, anos à frente, formou-se Professor de História em Salvador e entre os anos de 1962 e 1965 foi diretor deste Ginásio Paulo Afonso, nascido da sua luta, de sua garra permanente. Ao assumir a direção do Ginásio Paulo Afonso, Enoch Pimentel Tourinho trouxe para os estudantes a Canção Cisne Branco, a Canção do Marinheiro, Hino da Marinha do Brasil, adotado pelo GPA e COLEPA e se emocionava, como ainda hoje acontece com os ex-alunos, ao ouvir o Cisne Branco nos desfiles cívicos do GPA/COLEPA, antes e ainda hoje.
O Professor Pimentel deixou, de próprio punho, uma síntese da história do nascimento do Ginásio Paulo Afonso.
Em 1979,
o Ginásio Paulo Afonso passou a ser oficialmente o Colégio Paulo Afonso mas,
desde o ano de 1968 já era reconhecido como Colégio porque nele já funcionava o
Curso Científico, por uma autorização especial do MEC, considerando que este Ginásio
era mantido pela Chesf, empresa estatal federal.
Pela carência de professores especialistas de algumas disciplinas, durante muitos anos, vários médicos, engenheiros, administradores, advogados e outros profissionais da Chesf, além de militares da 1ª Companhia de Infantaria de Paulo Afonso, eram professores deste Colégio Paulo Afonso – COLEPA – e o nível de qualidade da educação ali oferecida aos milhares de estudantes, filhos de empregados da empresa, foi considerado pelo Conselho Estadual de Educação da Bahia como Modelo do Nordeste.
As Escolas primárias da Chesf passaram a ser, a partir de 1979, pavilhões agregados ao Colégio Paulo Afonso e deixaram de funcionar por decisão do governo do presidente Collor de Melo, decisão mantida pelo presidente Fernando Henrique Cardoso que, nos anos de 1990, determinaram que as empresas estatais deveriam cuidar apenas da função/fim para que foram criadas. No caso da Chesf, deveria cuidar apenas de “gerar, transmitir e comercializar energia hidroelétrica”.
Com isso foram fechados o Zoológico, a Cooperativa Chesf, a Chesf deixou de administrar os clubes sociais e todas as unidades escolas, cerca de 10 e também o Colégio Paulo Afonso, como não se podia contratar professores, foram fechando aos poucos, sendo o último a fechar as suas portas o Colégio Paulo Afonso – COLEPA, antigo GPA que funcionou até dezembro do ano 2.000.
O Ginásio Paulo Afonso e o Colégio Paulo Afonso tiveram 14 diretores sendo 7 homens e 7 mulheres.
Nos seus primeiros dez anos, o GPA teve três diretoras: Antonieta Moraes de Freitas, nos anos de 1951 e 1952. Idalina Castro Wood, nos anos de 1952 a 1954 e Neyde Cerqueira Lima, de 1955 a 1961.
Nos últimos dez anos o Colégio Paulo Afonso – COLEPA teve quatro diretoras: Maria Inêz Brito, de 1991 a 1992; Vilma Bagdeve, de 1993 a 1994; Olga Damasceno, de 1995 a 1997 e Nancy Coelho, de 1998 ao ano 2000.
E o prédio do Ginásio Paulo Afonso/Colégio Paulo Afonso, depois de abrigar por um tempo os alunos do Colégio Estadual de Paulo Afonso foi cedido ao governo do Estado da Bahia para ser o Instituto Federal de Educação - IFBA, com cursos técnicos profissionalizantes e o Curso de Engenharia Elétrica.
Hoje,
as suas salas e laboratórios modernos, recebem centenas de alunos, igualmente
sonhadores com um novo amanhecer, estudantes que são dos cursos do Instituto
Federal de Educação – IFBA – e também abre horizontes imensos para os
estudantes do Curso de Engenharia Elétrica que ali é desenvolvido. No
IFBA, o GPA/COLEPA continua a sua missão – educar para o futuro.
As marcas boas dos anos de vivência nas Escolas Reunidas da Chesf – Adozindo, Alves de Souza e Murilo Braga -, no Ginásio e Colégio Paulo Afonso e em suas muitas outras unidades de ensino – Escola Parque, Boa Ideia, Escola Rural, Moxotó Bahia, Moxotó Alagoas, todas ligadas ao COLEPA em Paulo Afonso, levaram esses que ali estudaram por um tempo a se reunirem e criarem a Associação do Ex-alunos do COLEPA com o objetivo de resgatar a história e a memória dessa instituição, reunirem-se periodicamente e promoveram eventos que os remetam aos tempos do Ginásio e do Colégio Paulo Afonso e mais, organizaram atividades, palestras, cursos, ações sociais para a comunidade de Paulo Afonso e, desta forma, manter vivos o GPA/COLEPA e todas as suas unidades escolares a ele agregadas e como um gesto permanente de gratidão a Paulo Afonso que acolheu a seus pais e familiares...
Hoje, 5 de março de 2025, abrimos esse Baú de Memórias, para abraçar a cada ex das escolas mantidas pela Chesf - Escolas Reunidas ao GPA/COLEPA – alunos, professores, diretores, funcionários - que se irmanam todos na Associação de Ex-alunos do COLEPA, criada em 2019.
Fontes:
PAULO AFONSO – Luz e Força Movendo o Nordeste
– Luiz Fernando Motta Nascimento – 1995
COLEPA – Histórias e Memórias em Revista
– Antônio Galdino da Silva – 2013
Os Caminhos da Educação – De Forquilha a Paulo Afonso
– Antônio Galdino da Silva - 2021