“Um dia a gente chega... no outro, vai embora” (Almir Satter)
Antônio Galdino
Em uma homenagem que recebi em uma escola da rede municipal na ocasião da comemoração do Dia Mundial do Livro, ali foi dito, por uma ex-aluna, hoje professora, que eu declarei em um dos meus livros – Os Caminhos da Educação em Paulo Afonso – que me considero um poeta bissexto, aquele que faz poesias uma vez ou outra.
Hoje, aqui, ao fazer uma reflexão sobre O TEMPO, trago um desses meus poemas bissextos...
Também utilizei no título, versos de Almir Satter no poema-canção “Tocando em Frente” e, para falar sobre algo tão delicado, fui buscar a vivência do poeta Mário Quintana...
Dia destes, entrando pela madrugada, deparei-me com um texto forte, e tão real, do poeta Mário Quintana onde ele nos traz uma profunda reflexão sobre O TEMPO. E como nem nos damos conta de sua passagem tão ligeira...
E como o temos desperdiçado com bobagens, atitudes mesquinhas, atritos que poderiam ter sido evitados, a falta de iniciativa para uma ação louvável como a gentileza de ajudar uma senhorinha a atravessar a rua...
Ou para fazer um elogio, um destaque a um gesto de outro, uma palavra, um abraço, um incentivo para alguém desanimado e triste dar-se conta que é preciso continuar a caminhada...
O tempo, mal utilizado, desperdiçado, nunca mais voltará e será sempre um tempo perdido...
Quando chegamos a uma idade mais avançada, aos 70, 80 anos ou mais um tantinho, na verdade em qualquer idade em que estivermos, precisamos refletir um pouco sobre o que disse Galileu Galilei sobre a idade que temos...
Em certa ocasião alguém perguntou a Galileu Galilei: - Quantos anos tens? - Oito ou dez, respondeu Galileu, em evidente contradição com sua barba branca. E logo explicou: - Tenho, na verdade, os anos que me restam de vida, porque os já vividos não os tenho mais.
Nesses últimos meses, tenho anunciado no site e no Jornal Folha Sertaneja, com grande frequência, a partida de pessoas queridas e constatamos, tristes, que muitos dos nossos colegas de escola, vizinhos, parentes, já fizeram sua viagem de volta à Casa do Pai.
Quantos amigos, já partiram nesses últimos tempos...
E, apesar dessas evidências tão fortes, muitos ainda agem como se fossem sementes eternas...
Há tempos para trás, escrevi o que penso sobre isso que compartilho com todos como uma proposta de reflexão para os que amealham tesouros cada vez maiores e não apenas financeiros, mas usam esses bens, como os muitos cursos que conseguiram fazer, o fato de ocupar posições de destaque na sociedade, em cargos relevantes e merecidos, conquistados com grande esforço ou recebidos por serem amigos do rei, o reconhecimento do seu trabalho... e, talvez na empolgação dos aplausos recebidos, magoam outros, com palavras e atitudes e se acham a ultima cereja do bolo, ou como diziam os setentões na sua juventude, “fulano se sente o rei da cocada-preta”.
O livro de Provérbios, na Bíblia Sagrada dos que se professam cristãos, há muita referência a esse comportamento atribuído à inveja, à vaidade...
Claro que o tempo que temos de vida, e que não temos o poder de aumentar, nos permite crescer, desenvolver aptidões, ajudar a outros, reconhecer os valores dos outros e, também, buscar ter uma vida saudável e confortável, buscar ser feliz e sempre amar e ser amado.
Mas, parece que nessa aventura que é viver, principalmente nos dias mais atuais, temos esquecido que estamos por aqui por um tempo que não controlamos e nesse lugar onde estamos agora, somos apenas passageiros e na viagem de volta nada levaremos na bagagem, nem diplomas, nem títulos honoríficos, nem ouro, nem prata, aliás, nem há lugar para a bagagem...
Eu escrevi assim:
Caminheiros... de passagem
Antônio Galdino (Paulo Afonso/BA, 05/8/2019)
E concluo essa reflexão nesse domingo, 27 de abril de 2025, trazendo o pensamento de Mário Quintana sobre o tempo... Ele nos disse:
O Tempo
A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já
são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal…
Quando se vê, já terminou o ano…
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado…
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil
das horas…
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo…
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais
voltará.
PS: Esse poema "O Tempo" de Mário Quintana, foi publicado pela primeira vez no livro "Esconderijos do Tempo" em 1980. O próprio Mário Quintana, já com 74 anos, contribuiu para a edição deste livro, que também lhe rendeu o Prêmio Machado de Assis.
Um belo e inspirador Texto.Uma importante reflexão! Para Professor Antonio Galdino! Gratidão sempre!
Muito obrigada pela reflexão em forma de poesia, professor Galdino.Essa sua Folha Sertaneja é uma riqueza!
O vento perguntou pra o tempo: "Tempo, quanto tempo tens?-O tempo respondeu pra o Vento: Que o Tempo tem tanto tempo, que nem tempo tem!