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Professor Nery

Entrevista exclusiva com o prefeito Luiz de Deus – um papo em francês

Publicada em 04/03/20 às 17:16h - 1676 visualizações

Francisco Nery Júnior


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Entrevista exclusiva com o prefeito Luiz de Deus – um papo em francês
 (Foto: Ascom/PMPA)

O doutor Luiz de Deus é das antigas. Conversa com ele é no olhar. Não é no celular. A primeira etapa era para ser um encontro de nivelamento. Posteriormente, eu deveria enviar as perguntas por escrito. Devidamente nivelado, eu entenderia melhor as respostas, quiçá interpretaria. Mas o homem conversa – ele tem estrada – e ambos nos cansamos. Não sem primeiro batermos, por alguns instantes, um papo em francês. Ele estudou na França por mais tempo e eu por 43 dias intensivos. Eu em Paris e Toulouse, no ICT da Universidade Católica, e ele em Paris. Não seria desculpável a omissão que levamos bem o nome de Paulo Afonso para a Europa. Nos saímos bem, só isso.


Como resultado do cansaço (os assessores iam se acumulando no gabinete), veio a autorização para que eu publicasse um resumo da conversa, confiança que muito me honrou.


A primeira pergunta foi sobre a sua condição física para enfrentar uma campanha [ardilosa] para a reeleição. A resposta esperada era afirmativa porque eu tinha visto uma fotografia que o mostrava montado em um cavalo na nova sede da vaquejada de Paulo Afonso. 


Seguimos para a sua visão sobre o futuro da cidade, a ameaça do rio cambaleante e a diversificação das fontes transformadoras de energia. Luiz de Deus se lembrou da avaliação do doutor André Falcão segundo a qual Paulo Afonso se estabilizaria como qualquer cidade típica do interior da Bahia. Evidente que passamos desse limite. E concordamos que a Chesf, que não anda muito bem das pernas, pode, todavia, nos dedicar uma atenção digna da epopeia das obras iniciais e do empenho dos pioneiros.


Enfatizando as prioridades essenciais de saúde e educação, ressaltando o esforço de urbanização dos bairros, afirmou que a Câmara, potencialmente caixa de ressonância dos anseios municipais e fiscalizadora da execução do Orçamento, poderia ajudar mais. A pergunta foi se a Câmara ajudava ou atrapalhava.


Se julgava alguma candidatura já definida como uma ameaça para Paulo Afonso e se haveria reforma do secretariado antes das eleições do fim do ano, respondeu que preferia não responder a primeira opção por razão de ética e que só poderia haver mudança de secretário em caso comprovado de ineficiência.


O prefeito Luiz de Deus conclama todos para o esforço de arborização da cidade (zona rural e proximidades do São Francisco incluídas), apoia e autoriza – repetindo, o senhor prefeito autoriza -  o plantio de árvores por qualquer cidadão em qualquer local onde não houver inconveniência.


Quanto à volta dos voos para Salvador, ele acena com a possibilidade de reservas limitadas subvencionadas pelo poder municipal e, na seara cultural, seu sonho é a construção do Teatro Municipal. O questionamento tinha sido sobre a construção de uma concha acústica. Outrossim notamos que a ideia de um trenzinho Piranhas-Paulo Afonso o intrigou.


Prosseguimos instando o doutor Luiz sobre como ele lidava com o cumprimento das suas ordens ou diretrizes (lembramos que o presidente Gerald Ford se queixava que quando a ordem chegava na ponta, já estava totalmente desvirtuada), como lidava com a ingratidão (dos dez leprosos curados por Cristo, só um voltou para agradecer), e como mantinha a paciência no dia a dia ao lidar com as pessoas (o papa Francisco perdeu a paciência com uma fiel na Praça de São Pedro). Aí o prefeito se descontraiu e pacientemente argumentou que a sua resposta para a ingratidão é sempre mais consideração para o ingrato e mais paciência com os “dizedores de não”, os nay-sayers. Se forem banhados com ouro em pó, certamente vão reclamar da poeira. “Quando algum assessor diz não”, enfatizou, “então eu estudo, pesquiso e me lanço com mais ardor na busca do alvo estabelecido”.


Dr. Luiz Barbosa de Deus, chefe político experimentado, afirmou enfaticamente que repetiria a declaração: “Eu desafio qualquer um a denunciar corrupção no meu grupo”. “A consequência para qualquer ato de corrupção que chegar ao meu conhecimento”, deixou bem claro, “é a demissão”. Antes havia declarado, sobre se ele tinha confiança total nas novas adesões ao grupo, que confiança total não existe em política.


Como gostaria de ser lembrado? Parou, matutou, e não pronunciou resposta. O gestor que “montou” Paulo Afonso? Também não respondeu. Com um sorriso talvez ingênuo, nos deixou a nós outros a resposta. 


O que pretende fazer após a aposentadoria? Limitou-se, olhar perdido para cima, a lembrar os campos, os cavalos e os pássaros da sua infância.


Francisco Nery Júnior

 

P.S. Com esta matéria, iniciamos, conforme entendimento e concessão do site, uma coluna fixa de crônicas, análises, traduções e conversas construtivas com nossos leitores.




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