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Professor Nery

UMA CRÔNICA CANINA

A prefeitura e a insistência de Otta para entrar

Publicada em 09/03/20 às 18:09h - 1660 visualizações

Francisco Nery Júnior


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UMA CRÔNICA CANINA
 (Foto: Ângela Nery)

O dia era 28 e a hora 19. Dezenove horas do, este ano, penúltimo dia do mês de fevereiro. 


Estávamos a passear na aprazível e bela Apolônio Sales. O ar é doce e puro e a segurança mais garantida. Falo da via agregada em frente à Prefeitura Municipal. Além do mais, há um guarda-vigilante que cuida da nossa segurança; nossa, dois idosos carentes, ou vacilantes se o leitor preferir. Falo de Otta, meu sem-raça-definida de 12 anos de idade (84 anos humanos), e de mim.


Ele é filho de Golda, mestiça de Chow Chow e de Pastor Alemão, com Biko, Pastor Belga. 


Me acompanha e me alegra desde o nascimento. Dá-me razão de vida e de comprometimento. Já os tenho do lado humano. Mas ele me dá a sensação exata de medida cheia. E dele me aproveito para cumprir a determinação de todos os médicos para desfilar; caminhar e exercitar.


Ambiente seguro, soltei-lhe as rédeas (guia se o leitor preferir) e fui-lhe atrás. Nesse português, apenas o segui. Aproximava-se cada vez mais do poder municipal. Bateu-se no primeiro degrau da escadaria de ascensão. De nada o impedi. Chegou mesmo a colocar a pata esquerda para cima do segundo degrau – para espanto de um grupo que ocupava, sentado, parte da escadaria. Ainda não intervi. O prédio é público e, numa democracia, é assegurado o direito de ir e vir. Assim pensava até que me dei conta que Otta é um cachorro. 


Reassumi o controle da guia e nos viramos para a esquerda, definitivamente me livrando da acusação de invasão [indevida] de patrimônio público.


Não me livrei, todavia, da curiosidade de saber o que Otta desejaria fazer uma vez no âmago do poder municipal. 

Que pretenderia dizer ao chefe do executivo ou o que desejaria sugerir ou expressar? 

A sua insistência poderia estar baseada no fato de o senhor prefeito ser um médico cirurgião competente, ex-funcionário da Chesf e ex-deputado federal, portanto experiente, compreensivo e tolerante. Sabia-se bem recebido por quem tem sabido coordenar e segurar as rédeas da política municipal por muitos anos. 

Estaria querendo expressar a sua satisfação em viver e se sentir bem em uma cidade bem cuidada, cujas cidades vizinhas vão no mesmo caminho? (Otta viaja por toda a Bahia e sabe fazer comparações.) 

Queria, afinal, dar uma salva de palmas (um balançar de cauda) para a afirmação: “Eu desafio qualquer um a denunciar corrupção no meu grupo”?

Otta é politicamente correto e procura se informar. Leva a sério o desenvolvimento compreensivo da comunidade. Se preocupa com o bem-estar de todo cidadão. Entende que cada centavo arrancado do contribuinte deve ser retribuído em forma de avanço e assistência social. 

Ele é liberal, mas entende que ninguém pode ser deixado de lado com a barriga vazia; sem teto nem assistência. Sem lenço nem documento. Entende o Estado (a Prefeitura) como garantidor do preenchimento das necessidades básicas de cada um. Se o indivíduo nasceu na tribo, pela tribo deve ser zelado, garantido que é um fiel cumpridor das convenções sociais.

Já íamos quase alcançando de volta o eixo principal da Apolônio Sales quando um carro branco entrou no complexo municipal. Virado para trás, o nosso personagem viu, de longe, o senhor prefeito desembarcar e rapidamente desaparecer no interior do prédio principal. Cansado – não se esqueça o leitor que tratamos de um idoso - recompôs-se e preferiu, comigo, retomar o caminho de casa.

Francisco Nery Júnior

 

P.S. A matéria pronta, Otta confessou: o que ele queria mesmo era convencer o prefeito a implantar um centro de acolhimento para nossos cães de rua. Recolhê-los, alimentá-los, tratar alguma doença e promover campanhas de adoção. Castrá-los se tiverem que permanecer nas ruas. 




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1 comentário


Bulldog

16/03/2020 - 12:24:30

Au,au... au,au au. Au, au!!!!!!!


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