Os caminhos do mundo conduzem à perdição. O mundo de 2020 de PIB astronômico está perdido. São trilhões de dólares que a insensatez dos homens não permite que sejam empregados em favor do próprio homem. Eles não entendem, ou insistem em não entender, que a maior felicidade é ver – e participar – [d] a felicidade do próximo. De Victor Hugo: “Coisa boa é ser amado. Coisa melhor ainda é amar”.
Confinado, sentado no chão da varanda de casa a parlamentar com Otta (falamos o idioma canino), uma formiga tentava demover um peso imenso. Ali estava a única garantia disponível de sobrevivência de todo o formigueiro. O esforço era em vão. O bloco não se movia. Convertidas pelo comprometimento da primeira, duas novas formigas se aproximaram. Deram-lhe as mãos e o formigueiro foi salvo.
O mundo parece estar se unindo para a guerra contra o Covid-19. É preciso garantir a continuidade da humanidade. O imperativo é lutar ou morrermos todos se a espiral de contaminação não for contida. A contaminação de reis, primeiros-ministros e muitos outros poderosos deu uma forcinha para que isto pudesse acontecer.
Parece conto de fada, mas o orçamento da guerra implica trilhões de dólares. Trilhões, leitor! De dólares, leitor perplexo! Os dólares começam a aparecer. De repente, amanhece na cabeça da elite governante a inutilidade da montanha de ouro em estoque nas fortalezas e nos bancos centrais do mundo. Se estivesse circulando, certamente não teríamos coronavírus; por uma série de razões.
O mundo tem sistematicamente perdido a oportunidade de concentrar esforços como o que vemos iniciado agora para a resolução dos grandes problemas da raça humana. Falamos de fome, miséria e pobreza. As nações se recolhem em vez de se unir. Blocos se desfazem e a riqueza do mundo se concentra cada vez mais nas mãos de poucos. Como entender que um pequeno emirado retenha a renda da exploração do petróleo abundante apenas para si e os seus príncipes sejam detentores de fortunas pessoais de bilhões de dólares? Tamanha insensatez não se resume apenas em relação ao petróleo.
As riquezas do mundo deveriam ser exploradas para a felicidade de toda a humanidade. O Covid-19 parece ter vindo para tocar a trombeta. Passada a tormenta – que vai passar – resta saber se todos teremos acordado. A leitura da epidemia deve ser feita e assimilada. Ou seremos aniquilados por um ínfimo vírus nos nossos pulmões se não quisermos passar por uma nova Revolução Francesa que está demorando muito a estourar.
A sentença inicial do texto se inspirou na declaração do bispo Dom Guido Zendron à Folha Sertaneja em 26.03.20 (1.652 acessos em 36 horas): “... para evitar trilharmos os mesmos caminhos que nos conduzem a uma tragédia imensa”.
Francisco Nery Júnior
O título dessa crônica do Professor Nery remete ao filme The Day After, película americana de 1983, que fala do uso, pela primeira vez, no auge da guerra fria entre Estados Unidos e Rússia, de uma arma nuclear – numa impactante história de ficção que mostra o terror, o medo das pessoas e as muitas dúvidas para reorganizar a vida após a destruição, em proporção nunca vista pela humanidade após o uso dessa arma nuclear.De fato, após a passagem do Coronavírus que mata pessoas de todos os níveis sociais e está obrigando que as nações mais ricas abram seus cofres para ajudar ao mundo, há que haver uma profunda reflexão sobre o que se fazer no dia seguinte, no novo The Day After, agora não restrito a apenas uma pequena cidade do Estado americano de Kansas mas a toda a humanidade, mais de 7 bilhões de pessoas que habitam o Planeta Terra.O coronavírus já está deixando lições importantes sobre a convivência entre seres humanos...