O homem é doutorado com vários cursos no exterior. É empresário de sucesso com sua clínica particular. Não parece muito articulado, mas, logo que fala, sentimos consistência nos argumentos. Os mesmos que sabemos e os mesmos que ouvimos exaustivamente do ministro anterior. Do vírus e o seu comportamento, não sabemos ainda, com precisão, as reais características. De toda a preparação do novo ministro, o que importa é a sua capacidade de pesquisar, observar, amadurecer conceitos e partir para a ação contra o Covid-19, levando em consideração a assessoria da sua equipe.
O presidente Bolsonaro demitiu Luiz Henrique Mandetta e nomeou Nelson Teich para o Ministério da Saúde. Pode ter as suas razões que desconhecemos. Pode achar conveniente não divulgar. Os conluios dos gabinetes, estamos longe de saber. Então a página está virada e esperamos que o novo ministro faça como os generais aliados da Segunda Guerra Mundial. Eles, com a confiança e a delegação dos líderes ocidentais, ganharam a guerra.
Embora se tenha declarado perfeitamente afinado com o presidente, as suas palavras o revelaram, em se tratando de confinamento, mais afinado com Mandetta. Depreendemos que acha bastante justificado, no momento, o chamado confinamento horizontal onde apenas as pessoas envolvidas em atividades essenciais seriam exceção.
O ministro, por outro lado, coloca a economia em patamar de igualdade à saúde. Uma economia forte e pujante, argumentou, propicia saúde. O pensamento é liberal. Seria o caso de o dinheiro não dar felicidade, mas facilitar os meios que pesariam bastante para a aquisição da felicidade. A incidência de câncer do colo do útero, como exemplo, é bem maior em mulheres pobres por falta de higiene dos maridos e as doenças intestinais mais frequentes em becos e favelas por falta de condições sanitárias. Nessa linha de raciocínio, o novo ministro está com a razão.
Concordamos plenamente que o importante é a busca do desenvolvimento que advém do crescimento da economia. Hoje, na cozinha de um barraco de favela, se encontram utensílios e aparelhos que só existiam nas casas dos brasileiros ricos sessenta anos atrás. Nas comunidades africanas menos favorecidas, às vezes famintas, não se veem mais pessoas esfarrapadas.
O que podemos discutir com o ministro ou o presidente é a dosagem. Até que ponto deve ir a abertura da economia brasileira, após o achatamento da curva da epidemia? Qual a cadência adequada, tomando como certo que a abertura reclamará um certo número de vítimas, isto é, de mortos? A abertura em câmera lenta pode garantir uma recessão em torno de 6% e um número de mortos em torno de 10.000 no final da crise. Se a abertura for mais acelerada, a contração pode cair para 3% e o número de mortos pode chegar a 50.000.
Estamos sugerindo cifras a grosso modo sempre lembrando que estamos em uma crise fiscal séria e temos um nível de endividamento bastante perigoso.
Como tudo na vida, há um preço a pagar. Vivemos um regime democrático e temos um presidente eleito pelo povo. Temos os outros poderes da República que exercem o regime de peso e contrapeso. Temos uma imprensa livre que opina e alerta. O que esperamos é clarividência do nosso presidente - e do seu novo ministro da saúde - e cabeça fria para nos conduzir neste período de recessão mundial que vivemos, bem maior, na avaliação de órgãos de economia respeitados, do que a grande depressão de 1929.
Francisco Nery Júnior
O que acha luiz de Deus e o secretário da saúde?
Parabéns professor Francisco Nery pelo excelente comentário.