Brasília completa sessenta anos de existência em 21 de abril
A desarrumação provocada pela Covid-19 tisnou as comemorações dos sessenta anos de Brasília. Nestes tempos de tantas incertezas para o Brasil e para o mundo, mais para o Brasil, há que se falar sobre a saga da construção da nossa terceira capital. Depois de Salvador e do Rio de Janeiro, foi a terceira.
A escrita vai para a coluna da mesma forma que os colunistas das grandes empresas de comunicação escrevem todo mês, toda semana ou todo dia. Relembrando, como eu corria para ler avidamente a coluna diária do professor Adroaldo Ribeiro Costa no jornal A Tarde da Bahia a cada retorno para casa do meu pai com o jornal embaixo do braço! Aquilo era, para mim, como um banquete diário. E ele ficava orgulhoso da avidez cultural do filho adolescente como satisfeito fica o cronista com a leitura e interação dos seus leitores.
É isso. E Brasília? Brasília foi um sonho de um Juscelino visionário e desenvolvimentista. Ávido de progresso, apoiado por Getúlio Vargas no governo de Minas Gerais – aí começa a simpatia dos brasileiros por Juscelino –, teve a visão de levar o desenvolvimento para dentro do Brasil rural. Levou!
A Belém-Brasília, que os cães raivosos de plantão (perdoem-nos os cães) denominaram estrada da onça e que, segundo a sua visão estreita, serviria apenas para as onças passear, foi oportunamente duplicada e já está saturada. Como acontece com quase todo herói, a avaliação do bem que fez pelo Brasil não está no grau merecido.
Os militares de 1964, que também demonstraram a visão de um Brasil grande, deram a burrada de tentar humilhar Juscelino, o que já ficou para trás como para trás ficaram as nossas burradas. Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek têm o nosso reconhecimento.
As acusações de roubalheira durante os três anos da construção da nova capital abundaram. Deve ter havido muita propina e muito roubo, além de simples gastanças. Onde não há quando pressa e dinheiro estão envolvidos? O fato é que nada ficou provado, sessenta anos decorridos, sobre desonestidade do Presidente Bossa Nova.
A construção de Brasília teria fomentado o processo inflacionário no Brasil. Foram muitos os empréstimos. Muita emissão de papel moeda. O Brasil, porém, deixou de ser apenas o sul do Rio de Janeiro miscigenação das raças, de São Paulo das indústrias e do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul dos descendentes de imigrantes.
Como acusar Juscelino pela pendanga e aperto em que vivemos hoje, a pagar R$1 bilhão de juros por dia da dívida total da União, quando sabemos que o montante da dívida era apenas de R$80 bilhões no início deste século? A dívida corrente já passa dos trilhões de reais.
Em vez de Brasília, vociferavam os negativistas, casas populares, saneamento básico e mesmo plantação de feijão [para os pobres]; saúde e educação. Tinham alguma razão. Essa foi a lógica de Fidel Castro em Cuba. A discussão passa para o patamar ideológico e entra na viabilidade de uma tomada de posição unilateral em um mundo globalizado.
Brasília foi construída. O oeste foi conquistado sem matança explícita de índios. O Brasil começa a se impor como grande produtor de alimentos para o mundo. O agronegócio sustenta a economia. Gera divisas. O pessoal do campo é demonstrador de uma verdade inequívoca: desenvolvimento se consegue com trabalho, poupança e investimento.
Melhor quando somos liderados por um Juscelino ou um Getúlio Vargas.
Francisco Nery Júnior
NOTA DA REDAÇÃO:
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Em tempo de quarentena e muito bom ter sempre um bom livro para ler ou ótimo artigo do professor Francisco Nery. Parabéns professor.