Se Jair Bolsonaro usou a caneta e ganhou uma batalha, certamente assinou a perda da reeleição no final de 2022. Se escapou de algo que não desejaria público, escancarou as portas da próxima eleição para a oposição – que redobrará o faro e fuçará o monte de lixo com muito mais avidez. A menos que o presidente se revele altamente ferino e calculista, algo, talvez, que Jânio Quadros tentou ser e afundou na História.
Sérgio Moro apareceu na sala de entrevistas do Ministério da Justiça com aparência desgastada e olhar sem foco. A sua língua não parecia articular o que lhe ia na cabeça. Em outras palavras, o agora ex-ministro da justiça demonstrava a decepção dos justos e a descrença que vale a pena insistir. Se Bolsonaro desejava lhe empurrar goela abaixo a demissão sem justificativa do superintendente geral da Polícia Federal, só lhe restaria o pedido de demissão.
Estamos argumentando sob a nossa ótica, sem primeiro “nos contaminar” com os comentários da grande mídia. Expomos a nossa argumentação do mais profundo rincão da Bahia; de Paulo Afonso. Com efeito, Bolsonaro preferiu ignorar a biografia do juiz Moro. Pensou estar – ainda – do outro lado da praça onde cumpriu 28 anos de atuação, lugar por onde alguns poucos “insujáveis” lamentam ter passado e onde um desses deixou escapar a sua vontade de, algumas vezes – e literalmente –, vomitar.
Sérgio Moro afirmou estar em um “encontro que não desejaria”, em dia de 469 mortes pela pandemia do Covid-19 no Brasil. Preferiria evitar aglomerações. Com estas duas afirmações iniciais, deixou claro a sua determinação de pedir demissão. O presidente Bolsonaro, infelizmente, não tem lamentado as mortes nem tem evitado as aglomerações – e odeia ser contrariado.
A turma do Ministério o aplaudiu de pé por 25 segundos. Os partidos de oposição certamente tentarão, insistentemente, daqui pra frente, cooptá-lo para ser candidato à presidência em 2022. Restará a Sérgio Moro, e somente a ele, após se recolher para umas boas férias, a decisão. O caminho está aberto. Longe de Bolsonaro, não resta dúvida, a sua taxa de aprovação pelos brasileiros certamente vai subir.
Para o Senado, o cargo de senador por um grande estado como Rio ou São Paulo está garantido. Se as circunstâncias não revelarem outro postulante com maior confiabilidade e envergadura, e se Jair Bolsonaro não interromper a autofagia, Sérgio Moro será nosso presidente a partir de 2023.
Francisco Nery Júnior