A última vez que a vi, ontem pela manhã, subia a Getúlio Vargas. Eu estava sentado no banco da praça, longe de qualquer aglomeração, e minha mulher tentava, após comprar alguma comida para não morrermos de fome no lugar da Civid-19, pagar algumas contas. Em uma parte da razão, Jair Bolsonaro está certo: a roda tem que girar e o moinho tem que moer – com responsabilidade. A minha sogra tem lá os seus empreendimentos e necessitava adquirir alguns insumos em meio às lojas vazias de gente morta de medo, medo da pandemia.
De longe acenei. Foi quando ela apressou o passo. Não sei se para evitar contato ou para escapar de algum pito. Pito partido de um genro não deve ser bom. Tisnaria a imagem consagrada da sogra vetusta, altiva ou emburrada. E ela desapareceu na esquina.
Mas não estamos a conversar a partir dessa imagem, muitas vezes cômica, da sogra. Maldosa sobretudo, talvez irresponsável. Falamos da mãe da nossa esposa e avó dos nossos filhos. A nossa conversa trata daquela que nos forneceu a máquina garantidora da nossa descendência. Se aí reside algum mérito – não nos esqueçamos que a grande promessa a Abrãao, a maior benção, foi uma descendência como a areia do mar – o mérito é dela! E usamos o termo ‘máquina’ com todo respeito, data vênia das senhoras feministas. Aliás, somos, nós outros, apenas uma pequena peça daquela máquina. E creio ter pulado a fogueira!
Já era tempo de os senhores cômicos, gracistas da hora, aqueles que, com todo respeito, nos divertem e tornam possível a travessia em tempos de pandemia; já era tempo de eles revisarem a estratégia. Que é isso de joeirar, balançar ou maltratar as nossas sogras? Elas são, ao invés da imagem estereotipada, umas gracinhas – diria, do túmulo, Ebe Camargo. Que seria do mundo sem as sogras? A sua presença nos inspira. O seu olhar às vezes reprovador e desconfiado nos coloca de volta nos trilhos. Os seus almoços e jantares de comemoração em família nos enchem a alma antes de nos encherem a pança.
Elas são doces! É só olhar. Esquecer os profissionais do riso que acabamos de nocautear, e considerar como a grande maioria [delas] desempenha a delegação de segunda mãe; procuração expedida por Deus! Exagerei? Claro que não! O leitor é que tem que abrir os olhos – para ver.
Talvez em tom destoante, neste parágrafo, temos que observar o que poderíamos denominar de desvio irresponsável dos recursos das nossas sogras e sogros por membros outros da família. Na idade provecta, avançada nos anos, eles merecem um pouco de paz e conforto. Que nos viremos nós outros com nossos próprios braços e pernas e comamos do nosso trabalho.
O leitor certamente abriu os olhos que com certeza já estavam abertos. Digamos que ampliou o olhar. Hoje é o Dia da Sogra e queremos honrá-la. Devemos fazê-lo. Ou acabamos de perder o nosso tempo.
Francisco Nery Júnior
P.S. Eu, cronista, escrevo com a visão do genro. Para a visão da nora, que apareça uma cronista.
Nem sabia que tinha dia. Parabéns Nery.