Desculpe-nos o colega de Academia de Letras, mas vamos plagiá-lo. Apenas estamos trocando um termo. Vamos falar da vergonha, vale dizer, do descaso pelos mais pobres. Indo ao dicionário o leitor vai encontrar para ignomínia: grande desonra, infâmia, opróbrio, afronta pública, desdouro, e aí vai. Cremos que basta. Tratamos da fila em frente à Caixa Econômica Federal.
É uma mixórdia e tudo que acabamos de traduzir lá em cima. Pessoas, concidadãos, companheiros e camaradas; pessoas que trabalham e pagam impostos e que assim procedem quando lhe dão oportunidade. Eles pagam impostos e fazem a roda da economia girar. Junto com nós outros, é verdade. Sem eles, pura e simplesmente a economia pararia. É só testar. É só observar o que acontece quando há uma greve de garis.
A culpa das condições tristes, para não ficarmos a repetir ‘desumanas’, a que são submetidas as pessoas nas filas ladeira abaixo da Caixa, decididamente não é da Caixa. Pra começar, por que, para o atendimento de milhões de pessoas, somente a Caixa? Os outros bancos e instituições não poderiam estar ajudando? Passei um dia ao largo e testemunhei o nosso amigo gerente-geral aperreado tentando inutilmente ordenar as filas. Salvo erro ou engano, da porta pra fora da agência, alguém mais, alguma força outra, alguém de direito poderia se responsabilizar pela organização da fila. Não seria uma situação de ordem pública? E se houver um estouro? Que está demorando muito!
Plagiando, desta vez um colega comunicador, por que não ‘acomodar’ o pessoal na Praça das Mangueiras, como se acomodam os festivais? Sentar as pessoas na sombra em cadeiras que, nos festivais, as acomodam? Distribuir-lhes senha como se distribui aos clientes em tempos normais? Servir uma aguinha gelada, mesmo um cafezinho. Por que não? Tão difícil? Crítica de quem não tem o que fazer em tempo de confinamento?
Em tempo de pandemia, a prioridade deve ser o atendimento às pessoas que, queremos crer, começam a ficar famintas. E ninguém segura quem está faminto. Quantos órgãos e quantas equipes; quanta gente que ganha dos impostos daquelas pessoas poderia estar sendo empregada para a sua assistência em época de calamidade pública!
As pessoas estão lá porque estão com fome! Quem se submeteria a tal vexame, em busca de seiscentos reais, embaixo de sol e chuva, de pedras e enxofre, aos olhares às vezes fulminantes se não estivessem no final das suas forças?
Temos certeza que cada um de nós está fazendo o que pode: uma cesta básica aqui para uma instituição, um troco deixado lá para o vendedor sem os seus fregueses, uma ajuda a quem bate na porta. Mas, e quem tem a obrigação de poupar aquelas pessoas de um sofrimento que julgamos evitável?
Francisco Nery Júnior
Pobre do pobre. O dinheiro para matar a fome apareceu em um país que está lascado. Para compensar, a humilhante fila. Ferreiro da maldição: quando tem ferro, falta carvão.
Concordo com o professor Francisco Nery, não presenciei, mas a fila diz tudo. Os comentários do mestre já se tornaram minha leitura habitual.
Caro acadêmico, suas palavras ratificam nossa indignação. É absolutamente intolerável o que vemos na filas da Caixa Econômica, onde as pessoas desafiam a morte para não morrerem de fome.