Que preferiria chamar Mulungu, da mesma forma que prefiro chamar o meu bairro BNH. Nada contra o presidente avuncular e ladino que conseguiu arrebanhar as forças democráticas do Brasil do fim da ditadura militar de 1964 em torno do seu nome. Tenho até um autógrafo seu, assinado no meu ombro, que gostaria de doar a algum museu ou associação do bairro.
Tancredo visitava Paulo Afonso e eu, como professor do Colepa/Escola Rural, tive que acompanhar os alunos na chegada da velha raposa política que soube comandar a transição para o regime civil sem maiores turbulências. Carecia uma boa acolhida ao presidente-eleito. Valia a pena lhe agradecer por isso. Como Nelson Mandela na África do Sul, Tancredo, contemporâneo de Ulisses Guimarães, soube evitar o pior.
Neste 10 de maio, o carinho de nós outros aos bravos moradores do bairro com dimensões de cidade. O canal de PA-IV deu uma personalidade peculiar ao Tancredo Neves e, curiosamente, não estimula nenhum movimento ou sentimento de secessão. O bairro é Paulo Afonso na sua mais pura essência. Suas ruas amplas e arborizadas dão a dimensão da grandeza dos seus moradores distantes da ilha, mas perto dos nossos corações.
Pelo que estou informado, além da necessidade de acomodar alguns moradores deslocados com a construção da Usina PA-IV, o que motivou o nascimento do bairro foi a dedicação de alguns despojados que se doaram na tarefa de assistência às pessoas menos favorecidas da cidade. Um deles – com o pedido de perdão por não citar o seu nome – teria sido “exilado” ou banido para o então Mulungu como vingança pelo seu amor aos pobres. As urnas já resgataram devidamente a injustiça.
Sem nenhum desejo de ingerência, e mesmo duvidando da conveniência da ocasião, não sei se valeria a pena questionar o agrupamento de cerca de 50 mil pessoas em um só bairro de Paulo Afonso. Ao invés de Tancredo Neves I, II e III, não poderia haver um Tancredo Neves e mais dois bairros com nomes diferentes, facilitando o gerenciamento dos serviços públicos e comunitários e eliminando a necessidade de um virtual vice-rei – ou vice-prefeito - na área?
Encerramos chamando a atenção para a conveniência de manter o status quo, isto é, a conformação atual, levando em consideração a hipótese de a maioria dos 50 mil moradores assim [o] desejarem.
Francisco Nery Júnior
Belo e poético texto, meu caro.
Excelente texto, Nery,como sempre vc consegue colocar em poucas palavras décadas de história e lutas pelo sentimento de pertencimento de uma população. Parabéns!
👏👏👏👏👏