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Professor Nery

O "fez pra um, tem que fazer pra todos", o primeiro-ministro da Itália e o fechamento do comércio

Publicada em 12/06/20 às 20:58h - 1243 visualizações

Francisco Nery Júnior


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 (Foto: Da net)


Há princípios, tradições ou costumes que, inexplicavelmente, viram dogmas ou verdades absolutas sem direito a recurso. Um deles, entre nós, está exposto no título. Onde se baseiam, não sabemos. O do título cai por terra simplesmente com a leitura da parábola dos trabalhadores.

Voando para a Itália, lá o primeiro-ministro responde, perante um poder que não o executivo, indagações pertinentes sobre o porquê da não tomada de atitude - leia-se medidas de confinamento e fechamento de determinadas atividades - no início da pandemia da Covid-19.

O prefeito de Paulo Afonso certamente procura, sob sua ótica e avaliação, implementar medidas que julga capazes de pelo menos cercear a expansão do vírus mortal. Deve saber dos palpos de aranha em que se enredou o colega executivo da Itália. (Certa vez ouvi, da sua própria boca, que não iria usar tornozeleira eletrônica em lugar de ninguém; no que evidentemente está correto.) Pretendia, nos próximos dias, fechar apenas parte do nosso comércio, preservando uns outros ditos essenciais para a sobrevivência da comunidade. Vieram os senões e tudo ficará fechado. O "fechou pra uns, tem que fechar pra todos" prevaleceu. Até onde pude observar, ânimos apaziguados.

O que diria a parábola dos trabalhadores? Em um país de rótulo cristão, onde um dos princípios é examinar as escrituras, creio todos se lembrarem da historieta contada nada menos pelo Filho de Deus, o Cristo de onde se origina a palavra cristão. Por alto, assim vai:

Um fazendeiro precisava fazer um serviço. Contratou um trabalhador que iniciou sua jornada às sete da manhã. No meio da jornada, contratou mais um. As horas corriam e o serviço precisava ser concluído no mesmo dia. Faltando uma hora para o fim da jornada, um terceiro trabalhador foi contratado e o serviço ficou concluído.

Jornada finda e serviço concluído, restava o compromisso do pagamento. o suor tinha sido derramado e carecia a retribuição do pagamento. Chamou o primeiro e lhe pagou a diária convencionada da região. Sorriso estampado na face, o primeiro jornaleiro recebe a sua retribuição e sabe-se competente para levar o pão para casa. O segundo trabalhador é chamado e recebe a mesma diária; o mesmo valor. (O leitor deve se lembrar que ele só trabalhou meia diária.) O nosso primeiro amigo começa a apagar o riso. Ele ri com menos satisfação. Na vez do terceiro (o que trabalhou apenas uma hora), o pagamento foi também de uma diária (o mesmo valor do que havia trabalhado oito horas).

E o sorriso do nosso personagem da primeira hora se dissipou por inteiro. Como sorrir com tamanha injustiça? Como alguém teria sido capaz de lhe solapar o entendimento, senão de aviltar o seu trabalho de oito horas, lhe remunerando a mesma quantia de quem havia trabalhado apenas uma hora? E ele, virando-se, olhou, o que imaginamos furiosamente, para o seu mestre e patrão, com o olhar a pedir explicação.

A resposta o leitor já sabe. Ele havia trabalhado e havia recebido a diária a que tinha direito. O fruto do seu trabalho havia sido devidamente valorizado. O acerto convencionado havia sido cumprido e não havia nada a reclamar. Se os outros, por razões que nem por ele nem por nós merecem ser consideradas, receberam o mesmo valor, a nós todos não carece analisar, julgar ou interpor. O dinheiro do patrão, está escrito, a ele o direito de dispor.

O nosso encerramento de crônica só pode ser o desejo do fim de uma pandemia que veio para acirrar os nossos ânimos e muito provavelmente nos colocar para meditar um pouco mais sobre a verdadeira razão dos acontecimentos.

Francisco Nery Júnior




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