Nilma, mãe de Lucas, vendedor articulado de carros, deixou-me uma pérola que tem me servido de baliza e, talvez, me feito recusar alguns convites de mui amigos: “Professor, se algum dia o senhor entrar na política, eu saio daqui”. Nilma trabalhava comigo e terminou saindo para constituir uma nova família com um novo companheiro. Ela tinha trabalhado na casa de político e tinha justificada aversão de ter que passar pelos mesmos aperreios que tinha de enfrentar.
Por que, então e a propósito, alguém fugiria da oportunidade de servir à sua cidade, ministrar apoio e servir soluções; ajudar, enfim, os desvalidos e descamisados? O professor, pastor e ex-chesfiano Isaque, instrutor competente do Centro de Treinamento, não entendia o fato de alguém simplesmente recusar uma nomeação para um cargo de chefia na companhia. No meu caso, logo acrescentou que a razão eram os dois setores onde eu havia trabalhado, me poupando oportunamente a justificação.
Jesus deu a vida pelas suas ovelhas. Por que não apenas um pouco de denodo e dedicação para com os seus companheiros e concidadãos? Por que fugir pela janela como Amador Bueno porque a massa desejava fazê-lo rei? Poderíamos conjecturar:
. Perder a tranquilidade;
. Trabalhar em excesso;
. Admitir a hipocrisia;
. Ser sistematicamente achincalhado;
. Ver os seus defeitos ampliados e as suas virtudes apequenadas;
. Ter pavor de inquéritos futuros;
. Ser vítima de ingratidões;
. Ser pressionado para favorecer minorias;
. Receber propostas indecentes;
. Ser considerado pedra no caminho dos corruptos;
. Perder amigos;
. Não poder investir em prioridades;
. Fechar os olhos para determinadas fraudes para não perder apoio político;
. Deixar de dormir o bom sono pelos erros dos outros;
. Literalmente deixar de considerar princípios fundamentais para o bem-estar de todos;
. Ter de tolerar os escroques;
. Ser acusado injustamente;
. Ficar preso e sujeito a empreiteiras.
. Verificar a impotência para resolver todos os problemas;
. Passar por tolo e ingênuo;
. Perder a consciência do justo;
. Ter que suportar a baba dos bajuladores;
. Ver as suas ordens e diretrizes completamente distorcidas.
Assim sendo, o desejo de servir de cada um dos munícipes é aniquilado pelas considerações expostas e ele se recolhe à sua “insignificância”. E os malandros fazem a festa.
Francisco Nery Júnior
Pois é, caro Professor Nery. O exercício da gestão como político, na essência e profundidade da palavra grega, é algo de elevada nobreza. Infelizmente, o uso do cargo por pessoas de má índole e os constantes desmandos que aparecem na imprensa a todo instante, roubalheiras imensas, desrespeito às leis que eles mesmo criam, uso do cargo para enriquecimento ilícito e interesses próprios têm desestimulado pessoas sérias, realmente preocupadas em fazer a política nos moldes como foi concebida, sendo, de fato, servidores daqueles que pagam seus impostos para o desenvolvimento da "polis", da cidade, da comunidade, a concorrerem a estes cargos. As grandes somas de dinheiro que foi enviado pelo governo federal aos Estados para ajudar a combater os males dessa pandemia e que tem sido desviado por gestores, é um exemplo recente de uma história de desonestidade desses eleitos, ou escolhidos pelos eleitos, para gerir a coisa pública e que vem acontecendo há muito tempo, décadas, séculos, talvez... Muitos, nos cargos mais elevados desse país, não se sentem servidores de seu município, estado ou país, mas agem como se fossem seus donos. E muitos, gente de bem que poderia fazer a diferença, têm sido esmagados pela máquina e seus gestores... Como o caro professor disse, "os bons, que poderiam fazer essa diferença, são obrigados a se recolherem enquanto os malandros - e enganadores - fazem a festa". A Bíblia dos cristãos também fala desse tema... Parabéns pela reflexão tão oportuna para os nossos dias.Deixe seu comentário!