Como no episódio de Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal do presidente Getúlio Vargas, em 1954, o foco das forças de oposição a Jair Bolsonaro se concentra, no momento, em Fabrício Queiroz. E nós sabemos como tudo acabou: o presidente, cioso de si (Bolsonaro mais ainda), deu um tiro no peito. A convulsão nacional se instalou e a equação finalmente se resolveu no golpe de 1964. Se o golpe – foi um golpe – teve apoio de determinadas camadas da população, a conversa é outra.
Fabrício Queiroz, ex-assessor de um dos filhos do atual presidente, é acusado de envolvimento nas chamadas rachadinhas na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro além de, segundo a mídia nacional, haver indícios de algum tipo de participação nas milícias do estado.
A nação acordou com a notícia da prisão preventiva de Fabrício, por supostamente estar atrapalhando as investigações do esquema referido. O campo situacionista acusa os investigadores de estarem a serviço dos detratores do presidente Jair Bolsonaro. O clima assim esquentou e a bomba pode explodir a qualquer momento. No caso de Getúlio, o tiro no peito foi o capítulo seguinte. No caso de Bolsonaro, ninguém arrisca qualquer previsão.
O momento insipiente é da direita e, como insipiente, o desdobramento é imprevisível. Resta aguardar a reação do chefe do Executivo nacional. Os sinais que têm sido dados são truncados. Mas alguma coisa importante deverá acontecer. O cão futucado com vara curta inexoravelmente reage e morde.
Desprezando o fator milícias, qual seria o prejuízo das malfadadas rachadinhas praticadas em larga escala Brasil afora? O que estaria perdendo o contribuinte? Em princípio, o perdedor seria o “assessor”. A verba destinada ao gabinete (no caso do ex-deputado Flávio Bolsonaro, filho do presidente e atual senador), continuaria tal e qual. Se pudéssemos excluir o viés moral e ético, nós brasileiros não estaríamos perdendo coisa alguma.
Se as investigações da prática de rachadinhas, consubstanciadas em inquérito, trouxessem ou desembocassem em uma ampla reforma nacional, assim valeria a pena. Se não, estarão servindo apenas àqueles que têm interesse na desestabilização da democracia brasileira.
Se o processo abortasse em uma ampla reforma do legislativo, ampla reforma social, expurgos de corruptos, diminuição do fosso social, taxação de dividendos e herança dos ricos em favor dos mais pobres, e tantas outras reformas, então estaríamos efusivamente a bater palmas. Por que não a reforma política, a principal das reformas, algum tipo de controle do Judiciário, o corte dos salários públicos astronômicos? Por que não o corte das benesses escandalosas de todos os poderes?
E como estamos a discorrer em um artigo de jornal, decepcionados com o fato de a inteligência, o trabalho e o esforço do povo brasileiro estarem sendo perdidos em querelas de somenos importância, quiçá brigas de cachorro de rua, podemos parar por aqui e, quietos no nosso canto, esperar o próximo round da luta dos poderosos nacionais.
Francisco Nery Júnior