O que vamos descrever se passou em um dos 5.570 municípios do Brasil e envolveu o senhor prefeito, a primeira-dama e um vizinho. Tomamos conhecimento no Cidade Alerta de José Luís Datena da TV Bandeirantes e nele nos inspiramos.
Decididamente ainda não somos um país sério como teria comentado o presidente Charles de Gaulle e sempre somos o país do futuro como vaticinou o estadista Georges Clemenceau. Com uma das piores distribuições de renda do mundo, com as grandes cidades rodeadas de favelas e com cerca de 10 milhões de analfabetos, não temos o direito de nos considerarmos sérios nem de nos encontrarmos no futuro. Talvez alguma caveira de burro. Pode ser o fato de nunca termos enfrentado um desafio mortal. Podemos ainda não termos nos virado para a posição correta; para o norte seguro.
Já vencemos crises políticas e sociais sérias. Já temos petróleo. Debelamos a inflação. Quase zeramos a dívida externa. Mas continuamos atolados. No Brasil, o debate se perde nas querelas políticas. As reformas não andam. O amor próprio continua abalado. A dívida interna breve pode explodir.
Enquanto isso, numa das nossas cidades, o prefeito se esqueceu do decoro do cargo e da responsabilidade do exemplo e decidiu resolver um problema de forma peculiar. Esqueceu-se que sempre deve ser o maestro dos debates, o pesquisador do consenso, o aglutinador de ideias, o pacificador e decidiu neutralizar, com um mata-leão, um seu vizinho de apartamento que se sentia incomodado com o barulho na residência do prefeito.
A primeira-dama não se fez de rogada e passou a gritar por socorro ao tempo em que filmava a cena inusitada enquanto o infeliz munícipe tentava livrar a sua cabeça firmemente travada pelo vizinho alcaide. Ele não bateu, como nas lutas do UFC, e nem foi a sua esposa que pedia socorro como era de se esperar. Quem gritava, talvez como primeira-torcedora, era a mulher do prefeito.
Alguém deve ter aparecido no corredor entre os apartamentos e todos foram parar na delegacia próxima. O prefeito deve ter alegado desacato à autoridade e o nocauteado, com o olho esquerdo roxo – o prefeito é bom de gancho -, se resignou às formalidades legais.
Ficamos por aqui a imaginar o que será deste país se os nossos governantes desprezarem o caminho do entendimento e a busca das soluções e passarem a priorizar o uso do mata-leão físico ou verbal.
Francisco Nery Júnior