Foi em 2007 no consultório da Rua Chile, a avenida-coração da Velha Bahia dos anos 50/60, bem ao lado do antigo portão principal da cidade fundada por Tomé de Souza em 1549. Os sábios e provincianos lá se encontravam em tardes de conversas e socialização de dar gosto. Estávamos em consulta, eu e minha esposa, com uma das maiores autoridades mundiais em reprodução humana, doutor Elsimar Metzker Coutinho.
E assim se iniciou o papo entre o baiano de Pojuca e o outro de Salvador. Um papo animado é sempre o resultado do encontro de dois baianos. Ele, de Pojuca, o passarão, deu asas e o passarinho, eu, se arriscou no voo. Conversamos um tempão.
O seu jeitão logo despertou em mim a curiosidade da sua origem. “É judeu?”, indaguei timidamente para, com um aceno de cabeça, receber a resposta afirmativa. E engatamos a próxima marcha da conversa.
Com formação universitária em Salvador, após o segundo grau no Colégio da Bahia, Central, passagem obrigatória de quem queria decolar, aperfeiçoou-se na França. O conselho de um professor francês foi determinante para a sua saída do Brasil. Os dois olhavam embasbacados, da Cidade Alta, o panorama da Baía de Todos os Santos. O sol era um esplendor. E a observação do amigo professor: “Saia daqui o mais breve possível”, acrescentando algo parecido com: “Nesse paraíso, você jamais vai conseguir se concentrar e dedicar o tempo necessário para uma verdadeira formação.”
Conversamos um pouco mais. Foi quando ele se virou e puxou da estante um exemplar do seu livro O Descontrole da Natalidade no Brasil; para me ofertar devidamente autografado. Para gáudio do meu leitor atento e comprometido, transcreverei, no final, um pequeno excerto.
E foi com imensa preocupação que tomamos conhecimento que o nosso amigo Elsimar Coutinho tinha testado positivo para a Covid-19. Está internado e o seu estado ainda inspira cuidados.
Vamos, para encerrar o agradável bate-papo com o leitor, ao trecho prometido: “O que se propõe para as crianças brasileiras, através das campanhas, é que continuem nascendo descontroladamente de mães e pais despreparados física e mentalmente, e que a sociedade assuma a criação dessas crianças através de campanhas ocasionais, como esta que fazem as Organizações Globo neste momento. Em outras palavras, continuem a fazer filho e larguem no mundo que eles serão alimentados, cuidados e educados pela caridade dos três milhões de brasileiros que pagam Imposto de Renda no país [dados de 1998].” E arremata: “É uma pena que, ao elogiar uma campanha tão bonita como esta, tenhamos que fazê-lo com tantas restrições”.
Francisco Nery Júnior