Zito era um garoto peculiar. Nem melhor, nem pior que os outros. Apenas peculiar no sentido de ser singular. Sempre soube que iria sofrer na vida – simplesmente por não seguir a boiada incondicionalmente. Apenas por isso. Vamos convir que para as pessoas – para nós, na verdade – é difícil lidar com o que destoa do trivial.
Jogar bola, empinar arraia, tomar banho na praia, isto ele fazia. Mas adorava plantar árvores acima de tudo. Era o que ele queria fazer. Sentia fazer. Era, por assim definir, a sua colaboração para o futuro do mundo e a preservação da humanidade. Plantar árvores é uma das coisas mais sublimes que o ser humano pode fazer.
Zito não é ingênuo. Tanto é que venceu na vida. Contra tudo e contra todos, ele venceu. O seu currículo de vitórias e superação assim o diz. Os seus inimigos passam por ele e baixam a cabeça. Descem ao nível a que pertencem. E o Zito plantador sempre soube e está plenamente consciente que:
- Plantar árvores não dá dinheiro;
- Alguns mesmo insinuam [isto] ser coisa de ingênuos e mais se dedicam ao jogo, às farras da juventude, à boemia, ao vício e ao lazer;
- Muita gente se opõe ao plantio de árvores e aos programas de arborização simplesmente por se opor. É como o náufrago que logo que encontrou o primeiro habitante da ilha foi logo disparando: “Vá lá dizer ao prefeito que eu sou da oposição”;
- Quando você sugere o plantio de uma árvore ou disponibiliza uma muda, as pessoas curiosamente oferecem resistência. Bem diferente quando a pessoa toma a iniciativa e você interfere para ajudar;
- Ele iria, por incrível que pareça, fazer inimigos;
- Não raras vezes, o encarregado de jardins e áreas verdes se opõe ao plantio por achar que ele estaria “arranjando mais serviço para mim”;
- Técnicas empregadas por ele há anos, técnicas bem sucedidas, seriam gratuitamente contestadas (Zito é descendente de um bisavô paterno português plantador de árvores, flores, frutas e hortaliças);
- O pior que pode acontecer em um esforço de arborização é um facão na mão de um preguiçoso. Ele sai destruindo o trabalho dos outros ;
- Em planejamentos ou reuniões para projetos verdes, quem mais “opina” é quem menos trabalha e se esforça;
- Embora a grande maioria silenciosa da sua cidade reconheça a importância do plantio de árvores, a técnica cruel da desclassificação, da desconstrução e do achincalhamento sempre seria gratuitamente empregada contra ele; sempre haveria essa tentativa;
- A longo prazo, os seus concidadãos terminariam por assimilar o seu comprometimento. E o nosso Zito, andando pelos recantos da sua cidade, tem o seu espírito cheio de gozo e felicidade ao testemunhar a presença de inúmeras novas árvores plantadas, assistidas e amadas por aqueles cidadãos;
- Não obstante o sucesso do plantio de uma árvore não depender da estética, melhor apresentar a muda em um vaso decente. Se com uma florzinha desenhada ao lado, melhor ainda. Nada de lata velha ou enferrujada. Não importa que a lata venha a se degradar ou que a ferrugem se incorpore ao solo. Carece aparência para a aceitação do plantio;
- Por fim, ele está lamentavelmente consciente que a sua cidade, emancipada e incorporada, até agora não teve um prefeito visceralmente comprometido com a Natureza; preservação ambiental, conservação de nascentes, queda da temperatura, harmonia urbana, humanização, paz, felicidade...
Francisco Nery Júnior
P.S.
Esta crônica fica dedicada à memória do doutor Amaury Menezes e do companheiro chesfiano Manoel José, dois dos maiores plantadores de árvores da cidade e região, bem como à legião de plantadores urbanos de Paulo Afonso e ao longo dos rios, riachos e nascentes.
Afirmação atribuída a Sigmund Freud: "Eu perdi meu tempo. A única coisa importante na vida é a jardinagem".
Impressionante que emtodos os lugares da cidade o pessoal está plantando novas árvores. SDó não vejo a prefeitura plantar