O sol mal se levanta e lá estão elas a varrer as nossas – suas – calçadas. Não importa que quem se levanta é a terra. Elas varrem. E mais varrem. Varrem até cansar, embora os seus braços não se cansem. Não há cansaço no afã de limpar. Fomos feitos limpos e a marca da sujeira nos rejeita. E rejeitamos a sujeira como as nossas bravas e intrépidas varredeiras rejeitam as folhas secas decadentes nas suas calçadas paparicadas.
Pecados elas têm. Não os têm pecados da sujeira das suas calçadas. Primeiras impressões de Paulo Afonso a ausência de bocas-de-lobo nas vias públicas, a imagem do Padre Cícero em cada casa, uma fogueira incondicional no dia de São João e ... as varredeiras do amanhecer.
Elas adoram varrer! Só pensam em varrer. Sonham varrer. Melhor varrer que adoecer. E a cidade brilha – e agradece. As nossas heroínas fazem a cidade brilhar. Não ganham para isso. Mas trabalham. Não importa que volte a sujeira, contanto que a varredura do próximo amanhecer venha a acontecer. Algumas até cantam ao varrer. Elevam aos céus o canto da limpeza prometida após o final dos tempos. Cantam! E devemos também cantar, nós outros. Os males assim se espantam.
Que as heroicas atalaias da limpeza da cidade sejam abençoadas por Deus. Nós as louvamos e nos comprometemos a cada vez mais não estragar o seu esforço de limpeza de dar gosto. Prometemos que cada vez mais menos sujaremos a nossa cidade.
Francisco Nery Júnior
Excelente texto, Professor Nery, poeticamente retratou uma realidade local. Kkkk. Parabéns!