Ele é senador pelo estado de Roraima, está nas páginas. Os últimos meandros da sua vida estão bem estampados na mídia, inclusive no nosso site.
O meu primeiro encontro com Francisco Rodrigues foi em Paulo Afonso. Éramos dois jovens professores do Colepa, pioneiros no sentido que nos enclausuramos no interior temido e perigoso para ajudar a Chesf na tarefa de fazer o Nordeste – o Brasil – grande, ele mesmo filho de pioneiro dos tempos dos sonhos. Sonhávamos e fazíamos tudo que nos parecia colaborar para isso dentro dos parâmetros, costumes e postura da época.
O sonho de Francisco foi mais além: largou a papelada do sistema, papéis e mais papéis, nas mãos de Gilvan, outro pioneiro professor da época, recomendou a entrega ao burocrata-educador de plantão e embrenhou-se norte acima, agrônomo que era, desembocando no longínquo Roraima ainda território salvo erro, engano ou omissão. Foi, sem dúvida alguma, pioneiro duas vezes.
O segundo encontro foi no IFBA, no mesmo prédio do Colepa onde havia se dado o primeiro encontro. Agora eu era assessor de comunicação e ele sua excelência governador do estado federal de Roraima. Nada obstava e nada impedia uma lhana e civilizada recepção ao senhor governador. Francisco, o agora maduro pioneiro do velho Colepa da Chesf, era o senhor governador!
A visita ao IFBA prosseguiu sem maiores emoções. Não sei se mexeu profundamente na alma do governador. Publiquei, ato contínuo, na minha atribuição de assessor, matéria pertinente nos órgãos de comunicação da cidade.
Foi portanto que, com bastante tristeza – tenho que confessar -, me deparei com o episódio do dinheiro encontrado na cueca do senador. O fato deveras tisna a imagem e o contentamento de tudo que acabamos de descrever. O leitor há de convir que não há motivo para ufanismo ver um antigo parceiro de ensino, jovem professor pauloafonsino que chegou ao governo de Roraima e ao Senado Federal, enrolado em palpos de aranha. A carne é fraca, o dinheiro tentador e a vaidade realmente tira o homem do sério. Sem disciplina, meditação e ginástica espiritual constante é quase impossível não deslizar para a corrupção. Resistir sozinho, afirmou o padre Léo, não há como conseguir. O nosso Francisco, até prova em contrário (não nos esqueçamos do in dubio pro reo - na dúvida, a favor do réu), parece ter deslizado.
A corrupção no Brasil se mostra endêmica. Apresenta-se como moral, sabendo-se que moral deriva-se do termo latino mores que significa costume. Assuma o leitor um cargo público e, honesto e zeloso do patrimônio do povo, verifique, de início, os olhares de través que terá de enfrentar. Espere os incômodos que causará ao seu redor e se prepare para as perseguições.
Esteja basilarmente preparado para uma provável demissão. Recolha-se, outrossim, ao seu canto. De lá, apenas cante tais considerações sabendo que dificilmente será convidado para o metier. As compensações que tiverem de vir, certamente de Deus virão. Robustamente virão. Está escrito e está provado.
Então, que mais dizer senão que aprovamos todos uma apuração rigorosa do episódio do dinheiro escondido na cueca do senador e que prestigiamos os bravos procuradores e membros da Polícia Federal?
Mais importante seria nos comprometermos em sermos menos egoístas e corruptos nós mesmos partindo do pressuposto que a perfeição não existe no mundo e que a tarefa de jogar pedras não nos compete. Nós estaríamos nos comprometendo a uma melhor tomada de posição nos nossos atos diários.
Um desses comprometimentos seria a escolha do candidato que melhor nos governaria (estamos em época de eleições). Poderíamos escolher aquele que atuaria em benefício de todos visando ao bem geral e não o que nos passa, por baixo do pano, um mero saco de cimento ou contempla o nosso filho com um reles emprego público remunerado com o dinheiro do contribuinte.
Se assim fizermos, dificilmente haverá mais algum episódio de dinheiro sujo encontrado nos fundilhos suados da cueca de um senador.
Francisco Nery Júnior