Estamos em conversa de sábado de manhã. Acho que vou enviar a matéria para o editor sem reler. A releitura, às vezes, reduz a espontaneidade. O título também não é chamativo.
Lembro um texto, em uma das nossas aulas de literatura, que afirmava que o título pode ser “aleatório”. Pode [não] ter “nada a ver com o texto, o conteúdo ou o teor”. O leitor escolhe;
se o editor optar pela sua publicação, evidentemente.
O ambiente era uma comemoração familiar, na vizinhança. Convite, descontração, gente nova à frente, papo de novo viés, a conversaria se desenrolava. A certa altura, procurei justificar o meu desinteresse por futebol. “Eu deixei de me interessar por futebol quando verifiquei que o ‘jogo’ não passa de interesse econômico. O campeonato é recolhido pelo time mais rico, que pode contratar os melhores jogadores”. É sempre o caso do poder do dinheiro; da empáfia e do mando dos ricos.
Menino, eu torcia pelo Bahia. Era o clube de Osório Villas Boas, o Vicente Mateus do Bahia, aquele que fez o clube duas vezes campeão nacional, o Osório que, chamado de inteligente, redarguiu que não era inteligente coisa nenhuma. “Eu apenas vivo da burrice dos outros”.
E eu torcia pelo time de Biriba, de Marito e de Nadinho; que devem ter morrido pobres. Fui algumas vezes à Fonte Nova. Até estava lá quando um falso alarme desencadeou um estouro de boiada e alguns morreram. No jogo de botões, as minhas peças tinham os nomes dos jogadores do “Esquadrão de Aço”. E tudo isso encantou a minha adolescência.
Cresci mais um pouco, provavelmente me desenvolvi também mais um pouco, e veio o que disse para o leitor no segundo parágrafo. O tiro de misericórdia – na hora certa, Deus providencia um atirador de elite dos melhores – foi disparado por um dos convidados da casa do meu vizinho, um médico aposentado dos bons: “E o que não é?”
Em época de pós-eleição, podemos transferir o foco do futebol para a política. E o que não é, leitor? Onde não entra o poder econômico? Os vivaldinos estão em todas, todas e todas as partes.
Francisco Nery Júnior
P.S. Se o leitor identificar alguma falta de lógica no primeiro parágrafo, a sequência do título foi escrita após a conclusão da matéria.