Mais do que nunca, em época de confinamento da Covid-19, importa a comunhão em família neste Natal de 2020. Já foi dito que não é acaso. Cada um de nós foi colocado em uma família para interagir, o que nos faz, a todos nós, buscar a comunhão. Neste afã, lembramos outro dizer: “Vós sois pequenos deuses”, num ministério a cumprir. Esse o nosso esforço.
E Jesus, figura primordial do Natal, a quem dedicamos os nossos louvores; como teria sido a sua relação com a sua família? Traduzo para os leitores do site matéria publicada no Le Monde de 27.12.2020: O que se sabe sobre os irmãos de Jesus.
O que se sabe sobre os irmãos de Jesus
De um ponto de vista histórico, não há nenhuma dúvida que Jesus tenha tido irmãos e irmãs. Alguns “tiveram parte não desprezível na jovem comunidade cristã”, analisa o historiador Simon Claude Minouni, autor de uma obra monumental sobre Tiago, irmão de Jesus.
Se inúmeras incertezas rodeiam o Jesus “histórico”, os textos mais antigos indicam que ele tinha irmãos e irmãs. O Novo Testamento relaciona seis no mínimo: Tiago, Joset, Judas e Simão; as irmãs, se mencionadas, não são nomeadas em nenhum espaço.
Os exegetas têm dado inúmeras interpretações a este dado: para uns, estes “irmãos e irmãs” seriam os filhos que José teria tido de um primeiro casamento. Para outros (protestantes liberais, em particular), eles teriam sido concebidos por Maria e José após o nascimento do seu primogênito; se esta interpretação preserva a doutrina da concepção virginal de Jesus, ela contradiz entretanto a da virgindade perpétua de Maria. Outros ainda argumentam que o termo significando "irmão", em hebraico e aramaico, pode igualmente se referir a alguns primos ou meio irmãos.
As relações que Jesus mantinha com a sua família foram aparentemente marcadas pelo conflito. Os seus irmãos “não criam nele”, relata o Evangelho de João (7,5), e eles se inquietam: “Ele é tolo” [está fora de si], dizem eles no Evangelho de Marcos (3.21). No dia da crucificação, da sua família próxima, apenas Maria está presente.
De fato, a família de Jesus se preocupava com ele de sorte que o vigiava, em uma ocasião em que os agitadores haviam decidido matá-lo. Jesus, de sua parte, não se espanta com a incredulidade dos seus: “Um profeta não é desprezado senão em sua pátria, na sua parentela e em sua casa”, ele deplora (Marcos 6,4). O próprio Jesus parece não dar senão uma importância secundária aos laços de sangue: “Se alguém vem a mim sem odiar seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, seus irmãos, suas irmãs, e mesmo sua própria vida, ele não pode ser meu discípulo” (Lucas 14,26).
Todavia, após a morte de Jesus, alguns dos seus irmãos assumiram importantes responsabilidades no movimento cristão, como relata Simon Claude Minouni, diretor de estudos na Escola Prática de altos estudos (EPAE) e autor de um vasto estudo sobre Tiago o Justo, irmão de Jesus de Nazaré (Bayard, 2015).
Tradução do Le Monde de Paris de 27.12.2020, por Francisco Nery Júnior
Este adendo fica dedicado aos nobres Paulo Lopis e Antão Neto, duas das reservas morais de Paulo Afonso: Por que os irmãos de Jesus são citados nominalmente nos evangelhos e as suas irmãs não são? Simon Claude Mimouni - Eu não creio se tratar de um desinteresse em relação a elas. Isto está sem dúvida ligado ao fato que os irmãos de Jesus tiveram, na sequência, uma participação não negligenciável na jovem comunidade cristã - notadamente Tiago e judas -, o que não é o caso das suas irmãs. Ademais, na Antiguidade, salvo algumas exceções, as mulheres jamais são citadas. Entretanto, na sequência, os nomes [Maria e Salomé] foram atribuídos às irmãs de Jesus, especialmente pelo teólogo Epifânio, no IV século. Mas são bastante provavelmente fictícios.(Le Monde de 28.12.20)
Excelente pesquisa! Tudo que se refere a Jesus nos comove.
Galdino: não seria interessante a publicação dessas crônicas publicadas pelo professor Francisco Nery em um livro? Pense nisso.
Galdino: não seria interessante a publicação de crônicas publicadas pelo professor Francisco Nery em um livro? Pense nisso.